A Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, composta por trabalhadores e estudantes de medicina que defendem o Sistema Único de Saúde (SUS) e um Projeto Popular para o Brasil, expressou indignação em nota publicada em suas redes sociais frente os recentes ataques do governo dos Estados Unidos ao Programa Mais Médicos, à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a agentes da gestão em saúde vinculados ao governo do Brasil e a seus familiares.
Segundo a nota, as sanções dos EUA “desconsideram o papel essencial de programas como o Mais Médicos na ampliação do acesso à saúde em regiões vulneráveis”. Conforme a rede, as medidas impostas são baseadas em alegações não comprovadas e deslegitimam iniciativas que salvaram vidas, promoveram cooperação internacional. “Denunciamos que, para um país que exporta a morte por meio de sua indústria armamentista, não é estranho se colocar frontalmente contra a exportação de vida e saúde que o Mais Médicos representa.”
No dia 13 de agosto, o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou a revogação dos vistos de funcionários do governo brasileiro, ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e seus familiares. A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil emitiu uma declaração oficial a respeito, apontando a atuação de médicos e médicas formados em Cuba. A nota afirma que as medidas foram tomadas “por envolvimento no esquema de exportação de mão de obra do regime cubano no programa”.

Num primeiro momento foram citados os nomes de Mozart Julio Tabosa Sales (atual secretário do Ministério da Saúde) e Alberto Kleiman (ex-funcionário do governo), ambos atuantes no Ministério da Saúde do Brasil durante o programa Mais Médicos e com funções vinculadas ao planejamento e implementação do programa. Nos dias seguintes a informação sobre a suspensão de vistos atingiu também o atual ministro da Saúde do governo brasileiro, Alexandre Padilha, com a suspensão do visto de sua esposa e filha, e a impossibilidade de renovação do seu próprio, vencido desde 2024.
Para a rede dos Médicos e Médicas Populares a ação do governo dos Estados Unidos tem o claro objetivo de sufocar quaisquer iniciativas de “secar as fontes de financiamento do governo de Cuba”. As críticas e ataques dos EUA ao programa Mais Médicos acontecem desde o primeiro mandato de Donald Trump. Em 2020 foi exigido que a Opas esclarecesse seu envolvimento no envio de médicos cubanos ao Brasil, acusando a organização de facilitar o trabalho forçado de médicos cubanos por meio do programa.
Criado em 2013, o Programa Mais médicos atende a regiões remotas, de difícil acesso, vulneráveis e com escassez desses profissionais. Na época, foram contratados médicos cubanos por meio de cooperação com a Opas, até 2018. Em 2023, o governo federal retomou o programa, rebatizado de Mais Médicos Para o Brasil, com prioridade para profissionais brasileiros e abertura de vagas para outras áreas de saúde, como dentistas, enfermeiros e assistentes sociais.

Padilha demonstra indignação e defende Mais Médicos
Em publicação em suas redes sociais, Alexandre Padilha garantiu que o programa Mais Médicos “sobreviverá aos ataques injustificáveis de quem quer que seja”. O atual ministro da Saúde, que foi o responsável pela criação do programa em 2013, durante o primeiro período em que comandou a pasta, afirma que o Mais Médicos “salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira”. Relembrou ainda que as pessoas que agora atacam o programa que garante assistência a mais de 63 milhões de brasileiros em todo o país, são os mesmos que “perseguem as vacinas, os pesquisadores e a ciência”.

O Ministério da Saúde informou recentemente que a meta do programa é alcançar 28 mil profissionais, atualmente contando com cerca de 24,7 mil médicos atuando em 4,2 mil municípios – o que representa 94% do território nacional coberto pelo programa. “Em dois anos dobramos a quantidade de médicos no Mais médicos”, afirmou Padilha. “Temos muito orgulho de todo esse legado que leva atendimento médico para milhões de brasileiros que antes não tinham acesso à saúde.”
Apesar da indignação demonstrada pelas medidas tomadas pelo governo estadunidense, Padilha garantiu que o governo seguirá firme em suas posições: “saúde e soberania não se negociam”.