O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) publicou uma nota nesta quarta-feira (20) declarando apoio a Venezuela em meio a ameaças militares dos Estados Unidos. Segundo o grupo, a chegada de navios para a costa do país caribenho representa mais uma “ofensiva imperialista” contra os países latino-americanos.
O texto lembra que os EUA aumentaram a recompensa pela captura do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e afirma que o país estadunidense é responsável por uma série de sanções e bloqueios econômicos ao redor do mundo que impedem a entrada de alimentos, recursos energéticos, medicamentos e outros itens essenciais para os povos.
“Denunciamos as ações dos Estados Unidos contra Maduro e convocamos todo o povo brasileiro a apoiar nosso país irmão. Os Estados Unidos não têm legitimidade para ofender a soberania de qualquer país, inclusive porque não são um exemplo de democracia”, diz a nota. “Além disso, os EUA saquearam e roubaram recursos públicos legítimos do país sul-americano”, denuncia outro trecho do comunicado.
O MST compara a ofensiva da Casa Branca contra a Venezuela com as tentativas de ataques dos estadunidenses contra o Brasil. Segundo a organização, o objetivo de Trump é “acionar traidores da pátria” para desestabilizar o país e “violar a soberania nacional”. O Movimento pede também que o governo brasileiro se posicione demonstrando solidariedade aos venezuelanos neste momento.
“O presidente Lula tem sido exemplar da defesa da nossa soberania, assim como é, historicamente, Nicolás Maduro. Esperamos que o governo brasileiro se solidarize com o povo venezuelano, frente à semelhança das ações imperialistas. Também convocamos as organizações populares brasileiras a demonstrarem seu apoio e defesa à Revolução Bolivariana”, afirma o MST.
A defesa à Venezuela acontece em meio ao envio de três navios militares estadunidenses para a costa caribenha. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usarão “toda a força” contra o país. A Casa Branca alegou que o objetivo das operações militares na região é prender traficantes latino-americanos. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, relacionou um desses grupos ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Sem apresentar provas, Rubio reforçou a narrativa da Casa Branca de que Maduro seria o chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa. Em 25 de julho, o órgão estadunidense classificou o grupo como terrorista internacional. O secretário de Estado afirmou que o tráfico de drogas é uma ameaça à segurança e novamente chamou o governo de Maduro de “organização criminosa”.
Junto aos navios estadunidenses que aportarão na costa da Venezuela, cerca de 4 mil soldados vão atuar na região para combater o tráfico de drogas.
A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba Movimentos) também já havia se posicionado a favor da Venezuela. O grupo lembrou da invasão ao Panamá em 1989, que tinha como objetivo derrubar o governo de Manuel Noriega.
“A história demonstra, com muita eloquência, que essa suposta luta contra as drogas é um pretexto para desenvolver uma intervenção imperialista em nosso continente que não só não conseguiu reduzir a produção de cultivos ilícitos nem a circulação de narcóticos, como também aprofundou a dinâmica de violência e militarização em todos os territórios onde tentou se implantar”, diz o texto da Alba.
Resposta de Caracas
O Ministério das Relações Exteriores de Maduro afirmou, em nota, que Washington tomou uma “atitude desesperada”, reflexo da “falta de credibilidade e do fracasso das políticas na região”.
“A Venezuela vê claramente o desespero do governo estadunidense, que recorre a ameaças e difamações contra o nosso país. Enquanto Washington ameaça, avançamos firmemente em paz e soberania, demonstrando que a verdadeira eficácia contra o crime se alcança respeitando a independência dos povos”, diz o texto.
Ainda de acordo com a chancelaria, desde a saída da Agência Antidrogas dos EUA (DEA) da Venezuela, o país conseguiu avançar no combate ao crime organizado e no desmantelamento de redes de tráfico. Portanto, segundo o governo venezuelano, esse movimento representa uma ameaça para a região.
“Essas ameaças não afetam apenas a Venezuela, mas também ameaçam a paz e a estabilidade de toda a região, incluindo a Zona de Paz declarada pela Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], um espaço que promove a soberania e a cooperação entre os povos latino-americanos. Toda declaração agressiva confirma a incapacidade do imperialismo de subjugar um povo livre e soberano”, disse Caracas.
A resposta não se deu só em um comunicado. O governo pediu a mobilização de 4,5 milhões de milicianos do país para defender dos ataques estrangeiros. As chamadas brigadas populares são uma organização formada em 2009 por civis e militares aposentados voluntários em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em seus diferentes contextos (urbano e rural). O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, também afirmou que a Marinha venezuelana estaria destacada na costa do país.