Nesta quarta-feira (20), o governo de Israel anunciou a convocação de 60 mil reservistas para uma ofensiva com objetivo de ocupar a Cidade de Gaza. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), Ualid Rabah, afirmou que os ataques à região, que atingem sobretudo mulheres e crianças, são uma “tentativa de colapsar a capacidade reprodutiva de um povo”.
“O número mais absurdo sempre é o de crianças: cerca de 10 mil por milhão de habitantes em Gaza, quase quatro vezes o índice da Segunda Guerra Mundial. Comparando o primeiro semestre deste ano com o primeiro semestre do ano passado, a ONU constatou que houve 41% de redução nos nascimentos. Isso quer dizer que nasceram 29 mil crianças no primeiro semestre do ano passado em Gaza, e neste primeiro semestre apenas 17 mil. Com outro agravante: o número de mortes de gestantes na maternidade, ou dando à luz, aumentou 20 vezes”, lamentou.
Segundo Rabah, o projeto inicial de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, é a destruição de Gaza, seguida da ocupação do local. Recentemente, o ministro das Finanças de Israel, o extremista Bezalel Smotrich, conseguiu aprovar um plano de assentamento para construir 3,4 mil casas na Cisjordânia, que isolariam os palestinos de Jerusalém Oriental.
“Os dados somados indicam um genocídio que em nenhum momento da história trouxe números desta envergadura. A fase atual do genocídio é colocar tudo ao chão para isolar os palestinos em apenas 15% do território e começar a construir habitações para colonos israelenses na Faixa de Gaza, começando pelo norte”, denuncia.
O presidente da Fepal também afirma que as ofensivas de Israel na Cisjordânia têm se concentrado nos campos de refugiados, com destaque para Jenin, Tulcarém e Nablus. “O de Jenin tem aproximadamente 40 mil pessoas deslocadas, cerca de 5 mil residências destruídas, quadras inteiras demolidas e com ordem de evacuação para mais pessoas”, relata.
Relações entre Israel e Brasil
Para Rabah, o Brasil deve parar de “importar a ideologia de Israel”, embargar a exportação de petróleo e revisar as relações comerciais – movimento que já está em curso. “As multinacionais que exploram o nosso petróleo não podem continuar exportando petróleo para Israel, para sua máquina de guerra. E o Brasil tem o poder, como Estado e governo, de embargar essa exportação. Esse boicote, se fosse um boicote generalizado e organizado, e principalmente desses países que agora pretendem reconhecer o Estado palestino, talvez fosse um pouco mais efetivo”, defende.
“Israel não representa absolutamente nada para o Brasil. Representa apenas 0,2% das nossas exportações. Israel já faz 9, 10 anos que nos dá déficit na balança comercial. Portanto, é um déficit crônico. E é um país com apenas 7 milhões de habitantes e míseros mil quilômetros quadrados. Nós temos que ter comércio com o Irã, com a Arábia Saudita, com o mundo árabe, com o qual estamos agora alcançando um superávit que vai chegar perto de 12 bilhões de dólares”, concluiu o presidente da Fepal.
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