Ir ao teatro com uma criança pequena é sempre uma aposta. Nem sempre a atenção dura tanto quanto a expectativa dos pais. Mas no final de julho, ao assistir O Urso com Música na Barriga com meu filho de três anos e meio, percebi que algumas experiências conseguem desafiar o tempo. Pipoca comprada, mas esquecida no colo. Olhos vidrados, corpo imóvel, respiração curiosa. Nada competia com a cena.
Entre bonecos manipuláveis e atores vestidos de ursos, o palco se transformou em atmosfera mágica. O riso das crianças ecoava leve pela sala, confirmando que a diversão estava em cada detalhe – simples, poético, sem pirotecnia ou excessos. Meu filho me ignorava cada vez que eu tentava comentar: a história o dominava por completo.
No fim, ele só conseguiu falar para listar os personagens que mais o encantaram – a lagarta, a coruja, os passarinhos, as borboletas – e para fazer uma confissão que me desarmou: “mãe, também tenho música na barriga”. Pediu até por um irmão mais velho, porque, afinal, era o “mais novo com música na barriga”.
Essa é a força de um espetáculo como esse: provocar imaginação, diálogo e ternura em tempos tão digitais e acelerados. Ver meu filho cantando ao sair pelas ruas da Cidade Baixa depois da sessão é prova de que o teatro ainda guarda um lugar essencial na infância. O Urso com Música na Barriga merece ser visto e revisto.
É uma oportunidade rara para que outras famílias também descubram a beleza de sentar juntas numa plateia e se deixar levar por uma história que atravessa gerações. Nós tínhamos o livro do Érico Veríssimo em casa, e agora, nossas noites de historinha para dormir ficaram muito mais saborosas com a lembrança do nosso teatro juntos.
O espetáculo chega a uma marca especial: a temporada que marca sua centésima apresentação. Dirigida por Arlete Cunha, a montagem da Cia Atimonautas reafirma os 20 anos do grupo dedicado ao teatro de bonecos. Uma experiência que atravessa duas décadas, feita para crianças a partir de 2 anos, mas que também emociona os adultos.
Serviço
O Urso com Música na Barriga
Onde: Sala Álvaro Moreira – Centro Municipal de Cultura (Av. Erico Veríssimo, 307 – Menino Deus – Porto Alegre)
Quando: 23 a 31 de agosto – sábados e domingos – 16h
Classificação: Livre (indicado para crianças de 2 a 8 anos)
Duração: 45 minutos
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*Jornalista do Brasil de Fato RS
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato.
