Em 9 de julho, em carta divulgada na rede social Truth Social, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que, no mês seguinte, aplicaria uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados aos EUA. Ao final de julho, ele isentou quase 700 itens, mas manteve a sobretaxa sobre carne, café e produtos cearenses como pescados, lagosta e castanhas.
Essa medida faz parte de uma iniciativa do governo Trump, baseada no pressuposto de que, com a taxação dos países com os quais os EUA mantêm relações comerciais, o país voltaria a produzir esses bens internamente, substituindo importações. Assim, os estadunidenses retomariam o parque industrial da época áurea do capitalismo, tornando a “América Grande Novamente”.
Essa é a ideia que Trump tenta vender e que, de forma acrítica, boa parte da mídia corporativa brasileira também transmite ao povo. Mas não se trata disso. É preciso lembrar da guerra comercial do primeiro governo Trump, que tinha como alvo a ascensão meteórica da China, vista como a maior ameaça à hegemonia norte-americana no mundo. Agora, em seu retorno à Casa Branca, sua obsessão é impedir ou retardar ao máximo a decadência do império que volta a comandar, e para isso enfraquecer a China é prioridade.
Mas os chineses não estão sozinhos: fazem parte do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), hoje um pouco mais fortalecido. Essa aliança, ampliada pela aproximação de outros países, ameaça mecanismos que sustentam a hegemonia dos EUA, como a centralidade do dólar no comércio mundial. A proposta de transações em moedas locais e os estudos para uso de sistemas digitais inspirados no Pix brasileiro estão entre as verdadeiras razões por trás das ações de Washington.
Trump enxerga no Brasil um dos elos frágeis do BRICS. Daí a virulência recente: aproveitar a instabilidade política da última década e o grupo bolsonarista ideologicamente ligado ao trumpismo. A prisão de Bolsonaro e as tentativas de regulação das redes sociais, sediadas nos EUA, servem de pretexto para sobretaxar o Brasil, como mostram declarações de membros da administração (“Alexandre de Moraes está cerceando a liberdade de expressão no Brasil” e outras besteiras). O objetivo é claro: criar fissuras nas instituições, chantagear o STF, sequestrar a pauta do Congresso e impor submissão ou sabotagem à nossa economia.
Está na hora de a esquerda, como um todo, desmascarar o falso patriotismo da extrema direita, que age em conluio com um governo estrangeiro contra os interesses nacionais. Este é o momento de demonstrar ao povo brasileiro que somos nós os verdadeiros defensores da soberania. E este também pode ser o pontapé inicial para discutirmos que modelo de país queremos construir neste século XXI, em um mundo onde “o velho está morrendo e o novo ainda tarda em nascer.”
Fabiano Sousa é historiador e militante do Movimento Brasil Popular.