A Venezuela pediu nesta terça-feira (26) apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) frente às ameaças dos EUA na região. O ministro das Relações Exteriores venezuelano, Yván Gil, se reuniu com o coordenador da organização na Venezuela, Gianluca Rampolla, em meio ao que Caracas tem chamado de “guerra psicológica”. O governo de Nicolás Maduro demonstrou preocupação com o uso de armas nucleares pelos EUA.
“Pedimos o apoio do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, para restaurar a sanidade. Nesse sentido, compartilhamos nossas preocupações com o envio de unidades militares americanas e até mesmo armas nucleares para o Caribe, o que ameaça a paz”, disse o chanceler venezuelano.
O envio de navios militares para a região tem sido noticiado por agências de notícias internacionais desde a semana passada. Ao todo, seriam 3 navios com 4 mil soldados estadunidenses que foram deslocados ao sul do Caribe para combater o tráfico de drogas. Nesta terça, o cruzador de mísseis guiados USS Lake Erie e o submarino USS Newport News (que tem potencial de disparar bombas nucleares), se incorporaram à missão, além de uma nova tropa francesa, segundo a CNN.
Durante a reunião, Yván Gil entregou uma carta ao representante da ONU afirmando que o envio dessas embarcações representa uma “grave ameaça” à paz e à segurança regionais, além de ser uma intimidação. De acordo com Caracas, essas ações contradizem o “compromisso histórico de nossas nações” com o desarmamento e a resolução pacífica de disputas e também contraria a Carta das Nações Unidas. O documento da organização determina em seu artigo 2 que os Estados signatários não usariam a força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado.
A carta endereçada à ONU pede a interrupção nesse deslocamento militar, incluindo o submarino USS Newport News, exige garantias de que os EUA não usarão armas nucleares na América Latina e Caribe e pede que a Agência para a Proibição de Armas Nucleares na América Latina e no Caribe (Opanal) convoque reuniões entre seus estados-membros para avaliar essa situação.
O texto ainda pede que as Nações Unidas apoiem medidas para manter a América Latina sem bombas atômicas e reforça que a região sempre foi declarada como uma Zona Livre de Armas Nucleares, com base no Tratado de Tlatelolco, assinado no México em 1967 e ratificado pelos próprios EUA. O acordo definia que os países da região não desenvolveriam esse tipo de armamento.
“A entrada de um submarino nuclear na região, sem transparência quanto à sua carga ou regras de emprego, viola o objeto e a finalidade deste instrumento juridicamente vinculativo e corrói a confiança coletiva na validade do regime regional de desnuclearização”, diz o texto.
De acordo com agências de notícias, os navios devem chegar ao sul do Caribe no início da semana que vem. Mas essa previsão já foi alterada outras duas vezes. Primeiro os veículos afirmavam que os militares estadunidenses chegariam em 20 de agosto. Depois, a data mudou para 24 de agosto. O novo atraso em mais uma semana coloca em dúvida a própria operação da Casa Branca.
A tensão aumentou na região na semana passada, depois que os EUA subiram o tom contra o governo Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Apoio de outros países
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, condenou nesta terça-feira as ameaças dos EUA à Venezuela e disse que a posição histórica do governo mexicano é de rechaço a qualquer intervenção estrangeira no país sul-americano. Ela disse que a política externa mexicana está pautada nesse princípio.
“Jamais seremos a favor da intervenção de um governo estrangeiro em um país soberano. E repito, não é apenas por convicção própria; essa deveria ser a posição de qualquer presidente mexicano, porque está consagrada na Constituição”, enfatizou.
Ela afirmou, no entanto, que há uma campanha de “medo” nas redes sociais que não está de acordo com as declarações oficiais dos governos. Sheinbaum disse que muitas postagens acabam inflando uma situação que não existe.
A declaração da mexicana se soma aos apoios de Cuba e Colômbia. O presidente colombiano, Gustavo Petro, reforçou na segunda-feira a defesa da Venezuela e disse que o Cartel dos Sóis não existe e é uma “desculpa fictícia da extrema-direita para derrubar governos que não obedecem”.
“Propus aos EUA e à Venezuela que destruíssemos esse cartel juntos. Trata-se de coordenação, não de submissão”, disse Petro.
Os principais aliados da Venezuela também se manifestaram. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que Pequim se opõe a qualquer ação que viole os princípios da Carta da ONU e que ameace a soberania e a segurança de outros países.
“Nós nos opomos ao uso ou ameaça de força nas relações internacionais e à interferência de potências externas nos assuntos internos da Venezuela sob qualquer pretexto”, disse.
Também aliados de primeira hora da Venezuela, os russos se colocaram em defesa de Caracas. A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, afirmou ter recebido uma ligação do ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, que prestou “solidariedade” ao povo venezuelano.