A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura o desmonte do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) rejeitou, nesta segunda-feira (1º), pedidos para ouvir três nomes centrais nas denúncias de corrupção e falhas de gestão na autarquia. A decisão foi tomada pela maioria formada por vereadores da base do prefeito Sebastião Melo (MDB).
Foram derrubados os requerimentos para convocar o atual diretor do Dmae, Bruno Vanuzzi, o secretário municipal de Transparência e Controladoria, Gustavo Ferenci, e o vereador Gilvani “Gringo” (Republicanos). A oposição defendia a presença dos três para esclarecer pontos considerados fundamentais da investigação.
No caso de Ferenci, vereadores questionavam se a secretaria recebeu denúncias contra o ex-diretor Alexandre Garcia ainda em 2021 sem adotar providências. Já Gringo foi citado por sua participação societária em uma empresa contratada pelo Dmae durante a enchente de 2024. Vanuzzi seria chamado para dar explicações sobre a condução administrativa do órgão após os problemas revelados pelas cheias.
Oposição denuncia blindagem de investigados
A presidente da CPI, vereadora Natasha Ferreira (PT), afirmou que a rejeição às convocações faz parte de uma estratégia da base do governo para proteger envolvidos em denúncias de corrupção e omissões administrativas.
Segundo ela, o movimento da maioria governista busca encerrar os trabalhos sem que as principais pessoas ligadas ao caso sejam ouvidas.
“O que nós temos feito enquanto movimento estratégico de oposição é revelar o quanto a base do governo quer proteger corruptos, pois as pessoas que nós convocamos para prestar esclarecimentos já foram citadas em investigações, tanto no escândalo de corrupção quanto na negligência de gestão do Dmae. Então o que estamos fazendo hoje é isso: nós vamos continuar convocando nomes envolvidos e denunciando esse boicote, para que as pessoas saibam que a base do governo está tentando proteger os investigados e que muitos deles estão politicamente ligados ao prefeito”, explicou.
“Inclusive essa é uma estratégia do governo, fazer com que a CPI não ande, com que a gente encerre a comissão sem ouvir as principais pessoas envolvidas, principalmente sobre o escândalo de corrupção”, concluiu a vereadora.
Tentativa de convocar Maria do Rosário é rejeitada
A sessão também analisou pedido do vereador Ramiro Rosário (Novo), aliado do governo, para convocar a deputada federal Maria do Rosário (PT). O requerimento se baseava em declarações da parlamentar durante debate eleitoral sobre casos de corrupção ligados ao saneamento.
A proposta foi derrubada pelos integrantes da CPI. Para a presidente da comissão, a tentativa não tinha relação com o objeto da investigação e representava perseguição política. A rejeição do pedido foi considerada pela oposição como uma derrota do governo Melo dentro da comissão.
Professor convocado pela base gera questionamentos
Outro ponto de conflito foi a oitiva do professor Carlos Eduardo Morelli Tucci, convocado pela base governista. Tucci apresentou uma análise técnica do sistema de drenagem de Porto Alegre, mas admitiu não ter relação com o Dmae nem conhecimento direto sobre a gestão do órgão.
A oposição criticou a iniciativa, classificando-a como manobra para esvaziar os trabalhos. Natasha Ferreira destacou que a CPI deve focar em apurar responsabilidades administrativas e políticas: “Estamos apurando corrupção, negligência e desmonte. Não se trata de ouvir especialistas, mas de convocar aqueles que devem responder pelo uso da máquina pública”, disse a parlamentar.
Próximos passos da comissão
A CPI deve se reunir novamente na próxima segunda-feira (8), quando será ouvido o ex-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Carlos Bulhões, mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.
Segundo a presidência da comissão, novas oitivas seguirão sendo propostas para aprofundar as investigações sobre denúncias de corrupção e falhas de gestão no Dmae.