O economista Paulo Nogueira Batista Júnior, ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o Banco do Brics, afirma que a política comercial brasileira continua subordinada a ideologias neoliberais superadas. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, ele destaca que nenhum país desenvolvido alcançou a industrialização seguindo o livre comércio, política econômica que reduz ou elimina tarifas e cotas entre países, como princípio.
“Querem o livre comércio como se fosse viável promover o desenvolvimento, a chamada neo-industrialização, aplicando esse princípio que ninguém pratica, nem mesmo países como os Estados Unidos, onde essa ideologia neoliberal foi formulada originalmente”, diz.
Batista Jr. aponta que acordos como o firmado entre Mercosul e União Europeia foram herdados do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e deveriam ter sido abandonados. “Era só dizer que o Brasil não estava mais interessado, queria negociar coisas novas. Isso teria sido perfeitamente possível em 2023”, afirma.
Para ele, mesmo com ajustes feitos pelo governo atual, o acordo mantém uma lógica desfavorável ao país. “As melhorias pontuais conseguidas não são suficientes para descaracterizar esses entendimentos como inspirados pela doutrina neoliberal”, analisa.
O economista pondera que Lula tem méritos, especialmente por ter evitado a “destruição nacional” promovida por Bolsonaro e pelo também ex-presidente Michel Temer (MDB), mas alerta que a atual gestão não está construindo uma alternativa sólida de desenvolvimento. “Não é possível desenvolver um país como o Brasil sem recuperar a indústria nacional. O plano de reindustrialização está sendo minado pelos acordos comerciais”, avalia.
Segundo ele, insistir em acordos de livre comércio enfraquece o setor industrial e aprofunda um modelo primário-exportador, dependente de commodities agrícolas e minerais, que gera poucos empregos. “O Brasil não vai poder ser um fazendão, uma combinação de fazenda com minas, exportador de soja, minério de ferro e combustível. Temos que recuperar a indústria para gerar empregos qualificados”, defende.
Batista Jr. também critica o comportamento dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump, que utilizou tarifas de importação como forma de pressão política contra o Brasil diante do julgamento que condenou Bolsonaro à prisão. “[Trump] é extremamente amadorístico, arrogante, imperial, mas não tem capacidade de formular corretamente seus objetivos. Está dando um tiro no pé”, aponta. Para ele, a postura do presidente estadunidense fragiliza o próprio império americano no cenário global.
Apesar das críticas, o economista reconhece avanços na recusa à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas alerta para o risco de o país se ver “amarrado a toda uma teia de acordos herdados do governo Bolsonaro”. Ele conclui que o livre comércio é uma ideologia caduca. “A ordem liberal teve enterro de indigentes e sobrou o Brasil carregando o caixão”, resume.
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