A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), a COP30, a ser realizada em Belém (PA) em novembro, nos possibilita realizar um balanço das soluções propostas e se foram realizadas ou não desde 2015, quando foi estabelecido o Acordo de Paris sobre o Clima, na chamada COP21.
Aquele foi um entendimento possível, mas não satisfatório nem suficiente. A meta era limitar o aquecimento global em 1,5° grau até 2030. As conferências do clima posteriores também definiram metas para reduzir ou zerar as emissões de gases.
Entretanto, há quatro motivos que mostram que as metas para as políticas climáticas — a mitigação (compensação) e a adaptação — são insuficientes. São, sim, ações importantes e necessárias, mas não evitarão o colapso climático.
Em primeiro lugar é necessário considerar que as metas voluntárias dos países (as chamadas NDCs, as contribuições nacionalmente determinadas) anunciadas nas COPs não estão sendo cumpridas integralmente.
Os Estados Unidos, um dos países mais poluidores, se retiraram do Acordo de Paris. O Brasil, além de reduzir emissões que aquecem nosso planeta, se comprometeu a zerar o desmatamento até 2030. Desafiados a assumir compromissos mais ousados para alcançar a neutralidade de emissões até 2050, muitos países não o fazem. Contudo, o aquecimento global já agora deve ter passado de aumento de 1,7° C e em 2030 certamente chegará a mais de 2° C.
Ano após ano, registramos recordes de calor, tempestades, enchentes, deslizamentos, incêndios devastadores, subida do nível dos mares, perda de vidas e espécies. Populações inteiras sofrem as consequências. Em dez anos, as catástrofes custaram US$ 3,5 trilhões de dólares. O remédio não está diminuindo a febre do paciente chamado Terra.
Um segundo motivo é que, mesmo se fosse alcançada a meta de zerar as emissões, sabemos hoje que as catástrofes se multiplicam e se intensificam mutuamente e muito mais rapidamente do que as medidas de adaptação em andamento ou recomendadas para governos dos países, estados, municípios e cidadãos.
Trata-se de uma reação em cadeia para a qual não há como nos prepararmos adequadamente, até porque são imprevisíveis. Por exemplo: estiagem prolongada ou ondas de calor e ar seco facilitam incêndios, que liberam mais gases para aquecimento e deixam menos vegetação para esfriar o planeta. As árvores que plantamos demoram vinte anos para crescer. E, por falta de vegetação, há menos retenção de água das chuvas, que assim aumentam as enchentes. Acabamos correndo atrás do prejuízo, como faz o goleiro adiantado quando alguém chuta por cobertura e a bola entra no gol. Todo esforço é em vão quando o prejuízo corre mais rápido.
Uma terceira questão é que a boa inteligência diz que o goleiro não deve ficar adiantado e que o time todo precisa se mover na direção oposta, para conter o adversário. É preciso agir contra o prejuízo. Ou seja, contra suas causas, não somente olhando para as consequências. Por mais necessário que seja, não basta nos adaptarmos aos impactos do caos climático. A maior causa da poluição (na ordem de 75%) são os combustíveis fósseis, como carvão, gás, petróleo e seus derivados, como os plásticos. Depois vêm as guerras, a agropecuária, o desmatamento e as queimadas, estes últimos mais acentuados no Brasil.
Por isso, mais do que reduzir, compensar e zerar, a única solução eficaz é reverter. Reverter radicalmente as emissões, retirar dióxido de carbono (CO2) que já está na atmosfera. A meta não pode ser CO2 neutro, mas, sim, CO2 negativo. Capturar e fixar grandes volumes deste gás no subsolo e no fundo dos mares, por exemplo. Parar totalmente com as energias sujas, e não nos deixar enganar pela propaganda de que a Petrobras está fazendo uma “transição justa” sem dizer como e para quem, enquanto investe 90% do orçamento em mais petróleo. Afinal, já existem tecnologias de energias renováveis e de bioplásticos que podem ser aplicadas em grande escala.
Então, ao invés de acelerar menos, é preciso pisar vigorosamente no freio. É muito improvável que quem lucra com a destruição do planeta faça isso. Mas os 99% restantes, reunindo indiferentes, iludidos e vítimas, poderão, sim, dar um basta.
E o quarto aspecto a ser considerado é que todo ambientalista sincero sabe que é impossível ser realmente sustentável quando o sistema econômico é insustentável. Como alcançaremos justiça energética para todos se atualmente a crescente geração de energias limpas não consegue nem sequer cobrir o rápido aumento de consumo e desperdício mundial de energia com ar-condicionado, supercomputadores, fretes transatlânticos, guerras e jatos particulares? Acaso a demanda não explodiria, se a metade dos habitantes da Terra que nunca andou de avião nem tem acesso a ar-condicionado e internet de repente passasse a usufruir desses serviços?
Ora, não são os ambientalistas, mas é o próprio planeta que está gritando que não aguenta mais. Temos que passar da riqueza concentrada para a prosperidade partilhada, para a economia circular, descentralizada e solidária, que produz e permite acesso geral de todos aos bens local e regionalmente disponíveis. Todas as comunidades podem ser empoderadas para se apropriarem de energias não poluidoras. O petróleo existe em poucos lugares, sendo motivo de guerras. Porém o sol brilha em praticamente todos os cantos da terra. Ele nos permite colher a energia dele de graça.
Nossa situação é semelhante ao que descreve o livro bíblico de Neemias, no Capítulo 4: “Os construtores, cada um trazia a sua espada na cintura, enquanto construíam”. Enquanto os trabalhadores e trabalhadoras reconstruíam as muralhas de Jerusalém com suas ferramentas, traziam também na cintura a espada para defender a cidade. Assim cabe a nós restaurar o equilíbrio ambiental a nível local e regional, e ao mesmo tempo derrotar globalmente os poderes destruidores de nosso belo e generoso lar comum.
*Werner Fuchs é pastor luterano aposentado, um dos fundadores e atual membro do Conselho Fiscal da Terra de Direitos.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.