Se é verdade que o trabalho é o que funda nossa sociedade, o ato de comunicar é o que anuncia. Por isso, a comunicação tem um papel central na manutenção dos privilégios. Já dizia um velho companheiro que as ideias dominantes são as ideias da classe dominante. E, nessa perspectiva, utilizar a comunicação como ferramenta da batalha de ideias é não apenas fundamental, mas estratégico.
É nesse horizonte que navegamos quando pensamos na comunicação atrelada à luta política. Na ordem do dia, temos o Plebiscito Popular, uma iniciativa dos movimentos e organizações para pautar os temas: redução da jornada de trabalho, fim da escala 6×1, isenção do imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais e a taxação dos mais ricos.
Nessa experiência, entendemos que a comunicação está atrelada à mobilização. Precisamos anunciar qual projeto político defendemos e, ao apontar para as perguntas, instigar a sociedade e convidar o povo para a participação popular, estamos incentivando a mobilização, seja nas redes, seja nas ruas.
Nesse ponto, a comunicação é parte atuante da estratégia política do Plebiscito Popular. Ela não é um acessório. Pelos desafios que temos, não é possível pensar na comunicação apenas numa perspectiva técnica, de produção de conteúdo sem vinculação com o todo do processo. Algumas experiências nos ensinam que é preciso combinar a comunicação num processo amplo. Na Venezuela foi possível chegar à síntese: calles, redes, medios y paredes.
Essa síntese consegue nos dar uma direção do que é preciso para que possamos, de fato, entrar na luta da batalha de ideias com condições reais. É necessário um trabalho militante, de contato corpo a corpo, com conversa olho no olho e presença cotidiana nos espaços físicos. Da mesma forma, também precisamos de presença nas plataformas digitais, com conteúdos que tentem diariamente driblar os algoritmos. Precisamos considerar que os meios e formas tradicionais de comunicar, apesar das contradições, ainda exercem influência na sociedade. E, nesse caminho, a mensagem precisa preencher os sentidos, ser vista nas ruas, nas paredes. Sentida, ouvida e entendida na amplitude.
Tudo comunica. E, por isso, é importante que a mensagem tenha unidade. A linguagem pode ter adaptações aos públicos, ferramentas etc., mas o conteúdo precisa estar alinhado ao projeto político que defendemos. E, nessa toada, é preciso dar subsídios para que a comunicação aconteça. Produzir e preparar materiais com orientações de forma a fortalecer e estruturar uma rede de comunicadores populares nos estados e territórios.
Uma rede que é formada por perfis nas plataformas digitais, mas também pela presença cotidiana nas ruas, na busca dos votos, muito numa perspectiva de mobilização. Queremos que mais pessoas e grupos organizados façam parte da nossa luta. E, por isso, a relação e a construção do Plebiscito Popular são híbridas e complementares. A construção cotidiana precisa estar traduzida nas publicações nos meios digitais, da mesma forma que a mensagem das redes também precisa estar nas ruas.
Precisamos comunicar a esperança. Anunciar nosso projeto também através da subjetividade. Apontar a esperança coletiva como a única saída possível de superação do medo individual. E esperançar, na perspectiva de Paulo Freire, de apontar o protagonismo da transformação para o povo. O medo paralisa. A desinformação confunde. A esperança precisa nos inspirar e movimentar, fazer acreditar que as mudanças são possíveis.
E, ao estruturar nossa comunicação nas bases de uma comunicação popular, precisamos fortalecer nossa presença nos espaços como porta-vozes desse projeto. A comunicação popular é muito cara para nós. É uma ferramenta fundamental para amplificar as vozes dos movimentos, fortalecer as lutas locais e conectar as demandas dos territórios com as batalhas mais amplas da classe trabalhadora.
Cada um e cada uma das pessoas envolvidas na construção do Plebiscito Popular é ponto focal capaz de iniciar uma conversa sobre dois temas muito importantes para a sociedade. Mas, para além disso, com condições e capacidade de construir um processo de mobilização, em torno de uma construção coletiva, de forma permanente.
Não queremos apenas que as pessoas votem e participem de forma apática. Queremos instigar na sociedade qual projeto está em disputa. Queremos que a participação ocorra de forma ativa. Não queremos apenas distribuir conteúdo, queremos que ele circule. Queremos, a partir do subsídio que apresentamos, que novas formas de se comunicar surjam, novos conteúdos sejam produzidos, novas conversas sejam iniciadas. A construção coletiva desse processo nos dá condições de fazer com que nossa mensagem chegue mais longe. A diversidade é a nossa força. Queremos que essa mobilização, articulada em rede, seja fermento para um processo de mobilização amplo que não acaba aqui no Plebiscito Popular, mas que nos dá esperança de que, quando nos movimentamos, somos capazes de concretizar as mudanças.
*Carol Lima é jornalista, comunicadora popular, membro da Coordenação Nacional do Movimento Brasil Popular e faz parte da comunicação do Plebiscito Popular.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.