Linhas de internet e telefone foram cortadas na Cidade de Gaza nesta quinta-feira (18) enquanto tanques continuam avançando em direção ao centro da cidade, indicando que uma escalada da campanha terrestre israelense na capital do enclave é iminente.
A Companhia Palestina de Telecomunicações emitiu um comunicado informando que seus serviços foram cortados “devido à agressão em andamento e ao ataque às principais rotas de rede”. Israel corta regularmente a internet e a eletricidade antes de grandes operações militares.
Muitos moradores tentam fugir da cidade de mais de um milhão de habitantes, mas um número grande não tem condições para isso. Uma fila ininterrupta de palestinos que fogem da Cidade de Gaza avançava em direção ao sul do território, a pé ou em carroças puxadas por burros, levando seus poucos pertences.
Mas outros, como Aya Ahmed, de 32 anos, não sabem para onde ir, ou não têm condições de pagar os custos elevados de transporte.
“O mundo não entende o que está acontecendo. Eles (Israel) querem que sigamos para o sul, mas onde vamos viver? Não temos barracas, nem transporte, nem dinheiro”, disse Ahmed, que está refugiado ao lado de 13 parentes na cidade, sob “bombardeios incessantes”.
Os palestinos afirmam que o custo da viagem para o sul disparou, chegando em alguns casos a superar US$ 1 mil (R$ 5,3 mil). Militares israelenses anunciaram a abertura de “uma rota de passagem temporária pela estrada Salah al Din”, que atravessa o centro da Faixa de norte a sul. O corredor, no entanto, permanecerá aberto apenas até sexta-feira (19) ao meio-dia (6h de Brasília).
“Chega, queremos ser livres. Queremos viver, não queremos morrer!”, afirmou, desesperado, Mohamed al Danf, morador da Cidade de Gaza.
“A incursão militar e as ordens de evacuação no norte de Gaza estão provocando novas ondas de deslocamentos, o que obriga famílias traumatizadas a buscar refúgio em uma área cada vez menor e inadequada para a dignidade humana”, denunciou na rede social X o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“Os hospitais, já sobrecarregados, estão à beira do colapso, já que a escalada da violência bloqueia o acesso e impede a OMS de entregar suprimentos vitais“, acrescentou. Segundo fontes hospitalares, três crianças estão entre as 12 pessoas relatadas como mortas nos bombardeios da noite de quarta-feira.
A Defesa Civil local, que opera sob a autoridade do Hamas, informou que pelo menos 64 pessoas morreram, 41 delas na Cidade de Gaza, na quarta-feira. As restrições à imprensa em Gaza e as dificuldades de acesso impedem que a AFP verifique de forma independente os números divulgados pelas duas partes.
A Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU, que não fala em nome das Nações Unidas, afirmou na terça-feira que “está acontecendo um genocídio em Gaza“.
A Espanha anunciou que investigará as “graves violações” dos direitos humanos cometidas em Gaza para cooperar com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu mandados de prisão contra funcionários israelenses por supostos crimes de guerra. O Reino Unido deve reconhecer neste final de semana o Estado Palestino, antes da Assembleia Geral da ONU.
A ofensiva israelense na Cidade de Gaza foi amplamente condenada no exterior, mas também em Israel, onde grande parte da população está preocupada com os prisioneiros sequestrados em outubro de 2023 pelo Hamas. O genocídio israelense matou mais de 65.100 palestinos na Faixa de Gaza, também em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas, que a ONU considera confiáveis.