O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, divulgou uma carta enviada ao mandatário dos EUA, Donald Trump, logo depois da chegada de navios militares estadunidenses no sul do Caribe. No documento, Caracas reconhece o “esforço dos EUA” no combate ao tráfico de drogas e pede que os dois países “atuem juntos para derrotar as notícias falsas” sobre os dois países.
A carta foi enviada à Casa Branca em 6 de setembro, três semanas depois do anúncio do envio das tropas estadunidenses para a região. No texto assinado por Maduro, o governo venezuelano afirma que havia informações falsas sobre a participação da Venezuela no tráfico de drogas regional. Caracas apresentou o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre drogas, que passou a ser usado nos dias seguintes para demonstrar que o país não tinha um fluxo relevante.
O argumento apresentado pela Venezuela é de que apenas 5% da droga produzida na América do Sul tenta sair pelo país e que mais de 87% desse montante sai pelo Pacífico, não pelo Caribe. Para Caracas, a operação dos EUA se justificaria se acontecesse na saída da Colômbia e Equador.
A Venezuela termina a carta pedindo diálogo aos EUA. Perguntado sobre o recebimento da mensagem, Trump fugiu do assunto e se limitou a dizer “vamos ver o que acontece com a Venezuela”.
A operação dos EUA foi acompanhada de ameaças contra a Venezuela. A Casa Branca disse que o governo venezuelano liderada por um suposto grupo de organização do tráfico de drogas internacional chamado Cartel dos Sóis a dizer que iria “com tudo pra cima do país caribenho”. De lá para cá, Washington divulgou o ataque a três barcos que seriam venezuelanos.
A Casa Branca não apresentou provas e só divulgou vídeos com ataques a embarcações. Neste final de semana, Trump seguiu com o que Caracas considera um “discurso ambíguo”. Primeiro negou que queira uma troca de regime na Venezuela, mas, depois, disse que o país caribenho precisa aceitar “imediatamente todos os prisioneiros e pessoas de instituições mentais” que estão na Venezuela.
“A ‘liderança’ venezuelana forçou a entrar nos Estados Unidos da América. Milhares de pessoas foram gravemente feridas e até mortas por esses monstros. Tire-os do nosso país agora mesmo, ou o preço que você pagará será inacreditável!”, afirmou o presidente estadunidense.
Mobilização venezuelana
Caracas anunciou durante o final de semana diferentes movimentações para enfrentar as ameaças dos EUA. A primeira delas foi o treinamento de milicianos nas comunidades de Caracas. Cerca de 25 tanques circularam pela capital venezuelana para ir até os bairros com militares para ensinar técnicas de defesa pessoal e territorial em meio às ameaças estadunidenses.
O próprio ministro da Justiça, Diosdado Cabello, pediu que os venezuelanos participassem dos treinamentos para garantirem o conhecimento de técnicas básicas de defesa.
“Que todos os venezuelanos, independentemente de sua filiação política, participem. O mais importante aqui é que eles amem e estejam dispostos a defender seu país”, disse Cabello.
A milícia bolivariana é uma organização formada em 2009 composta por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em seus diferentes contextos — urbano e rural. O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
A ideia da milícia é trazer o cidadão para a lógica de defesa do país e somar esforços entre as Forças Armadas e os venezuelanos. Com isso, o governo entende que há uma união cívico-militar na política de segurança do país.
Os treinamentos, no entanto, não são uma novidade para os milicianos. Exercícios com os voluntários são realizados todos os sábados e, neste final de semana, houve uma ampliação dos trabalhos para que o governo pudesse divulgar imagens com a mobilização popular em torno da defesa da soberania nacional.
Ter cortes para divulgar nas redes era importante para mostrar a capacidade do governo venezuelano, mas a mobilização mais importante anunciada pelas Forças Armadas foi feita neste domingo. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, anunciou uma nova operação militar chamada de Cumanagoto 200. O objetivo seria combater o narcotráfico no estado de Sucre, no leste do país.
“Estamos indo lá para limpar aquele território de qualquer gangue terrorista, qualquer gangue de tráfico de drogas operando ilegalmente. É uma ordem do nosso comandante em chefe”, afirmou.
O ministro reforçou que a região da costa do país perto de Trinidad e Tobago tem um fluxo importante de contrabando de combustível, tráfico de armas e munições e tráfico de pessoas. Ao todo, serão 60 Unidades de Reação Rápida (URRAS) deslocadas em 15 municípios do estado. Na semana passada, o governo já havia realizado exercícios militares no leste do país também para demonstrar força.
Hoje, são 8 navios militares estadunidenses posicionados no mar do Caribe, além de um submarino. Outros 10 caças F-35 foram deslocados para a base militar estadunidense em Porto Rico.