A Região Autônoma de Xinjiang celebrou, esta semana, seus 70 anos com a presença do presidente chinês Xi Jinping, que se tornou o primeiro chefe de Estado a participar pessoalmente de uma celebração de aniversário da região.
Xi Jinping e outros líderes do Partido Comunista Chinês (PCCh) viajaram para a região oeste do país para participar das festividades que marcam sete décadas desde que Xinjiang deixou o status de província, em 1955, para se tornar a segunda região autônoma da China, após a Mongólia Interior.
Após ouvir os relatórios de trabalho do governo regional e do comitê do partido local, o presidente chinês instou a “construir uma Xinjiang moderna e socialista, caracterizada pela unidade, harmonia, prosperidade, riqueza, progresso cultural e um ambiente ecológico saudável, onde as pessoas vivam e trabalhem em paz e contentamento”.
“Nos últimos 70 anos, Xinjiang passou por mudanças radicais, liderando todos os grupos étnicos da região a salvaguardar firmemente a unidade nacional, a unidade étnica e a estabilidade social, e a promover continuamente o desenvolvimento econômico e social”, disse o mandatário chinês.
Wang Huning, presidente do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, fez o discurso principal, destacando que “as conquistas brilhantes da Região Autônoma de Xinjiang ao longo dos últimos 70 anos foram alcançadas sob a forte liderança do Comitê Central do Partido”.
As regiões autônomas
Hoje a China possui ao todo cinco regiões autônomas, Tibet (Xizang), Mongólia Interior, Ningxia, Xinjiang e Guangxi.
A autonomia regional é um modelo de governança chinês para áreas com grande presença de minorias étnicas, garantido pela Constituição. As cinco Regiões Autônomas possuem certa flexibilidade cultural e legislativa, sob a centralidade do Partido.
Na estrutura administrativa chinesa, as regiões equivalem ao nível provincial, mas seguindo o critério da presença de diferentes etnias, ainda existem 30 prefeituras autônomas e mais de 120 condados autônomos.
A reportagem do Brasil de Fato esteve em prefeituras mongóis e cazaques em Xinjiang, por exemplo.
Zhou Enlai, como primeiro-ministro da China teve um papel fundamental nessa elaboração, promovendo a incorporação de quadros de minorias étnicas ao Partido, defendendo o resgate e proteção cultural das diferentes etnias, incluindo seus diversos idiomas.
“As línguas faladas e escritas dos grupos étnicos devem ser respeitadas. Aqueles sem línguas escritas devem ser ajudados a criar a sua própria, de acordo com os seus desejos. Em áreas étnicas autônomas, a escrita do grupo étnico dominante deve ser a língua principal”, disse Zhou no discurso “Algumas Questões sobre a Política Étnica da Nosso País” no Congresso do Povo em 4 de agosto de 1957.
Crescimento econômico e redução da pobreza
Um novo relatório do governo chinês apresentou dados sobre os avanços na região desde 2012, ano que marca o início da chamada “Nova Era do Socialismo com Características Chinesas”. O livro branco “Diretrizes do PCCh para governar Xinjiang na nova era: práticas e realizações” destaca a retirada de mais de 3 milhões de pessoas da pobreza rural, representando uma “vitória completa na eliminação da pobreza” até 2020.
De 2012 a 2024, o PIB de Xinjiang saltou de 750 bilhões de yuans para mais de 2 trilhões de yuans em 2024, equivalente a aproximadamente R$ 1,5 trilhão.
A região implementou uma estratégia de “emprego em primeiro lugar”, aumentando o emprego em 11,64%, passando de 12,46 milhões em 2012 para 13,91 milhões em 2024.
O emprego urbano atingiu 8,18 milhões de pessoas em 2024, representando 58,8% do total da população empregada.
A região também se consolidou como um hub importante da Iniciativa do Cinturão e Rota, com o número de trens de carga China-Europa aumentando para mais de 16.400 em 2024.
Diversidade étnica
Xinjiang, que faz fronteira com oito países — Afeganistão, Cazaquistão, Índia, Mongólia, Paquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão — é uma das regiões com maior diversidade étnica da China. Embora os uigures constituam o principal grupo étnico da região, ela abriga também mongóis, cazaques, huis e chineses han. Das 56 etnias na China, há cerca de 50 na região.
A reportagem do Brasil de Fato esteve na Prefeitura Autônoma Mongol de Bortala, que mantém esse status desde 1952, apesar de os mongóls representarem atualmente apenas 5% da população local. Ayigul Jumatai, líder do Comitê do Partido Comunista do vilarejo de Bogdar, explica que “o vilarejo de Bogdar é uma grande família de muitas etnias, principalmente uigures, mongóis e han, e também cazaques”.
A história da presença mongol na região remonta a 1762, quando “o povo Chahar mudou-se para oeste, dividindo-se em três grupos”, estabelecendo-se permanentemente no condado de Wenquan, onde mais de 20 Kalun (postos fronteiriços foram criados com o objetivo de “guardar a fronteira do país”, conta a líder local.
As “sementes de romã”
Huang Xueli, do Departamento de Cultura e Turismo da Prefeitura Autônoma Mongol de Bortala, destaca que na região “por gerações, essas etnias viveram em harmonia, apreciando as culturas uns dos outros, respeitando as diferenças e encontrando um terreno comum”.
A metáfora das “sementes de romã” é frequentemente usada para descrever essa convivência. “Nossas comunidades coexistem harmoniosamente, unindo-se como sementes de romã, construindo juntos nossa bela pátria”, afirma Huang Xueli.

O setor cultural também apresentou crescimento significativo. Xinjiang conta atualmente com 195 instituições de proteção do patrimônio cultural e 150 museus registrados. O turismo emergiu como uma área de grande expansão, com o número de visitantes saltando de 48,6 milhões em 2012 para 302 milhões em 2024.
Repkat Abduwali, guia turístico da Prefeitura Autônoma Cazaque de Ili, disse ao Brasil de Fato: “Convido calorosamente a todos, de todos os países, da América do Sul, a todos vocês, turistas e amigos, a virem para o nosso Xinjiang! Venham provar a nossa comida local! Venham ver a beleza da nossa região!”