Em 1986, foi encontrado em uma gráfica em Londres um documento secreto, elaborado pelos ingleses na Segunda Guerra Mundial, visando controlar a opinião pública diante dos acontecimentos. O documento se chamava Armas silenciosas.
Com base nesse documento o linguista Noam Chomsky elaborou uma lista contendo dez formas de controle das massas por meio da manipulação da informação. Na verdade, esse assunto não é novo. O livro “O Príncipe”, de Nicolau Machiavel, publicado em 1513, buscava instruir o governante e seu staff burocrático, no sentido de manter-se no poder e, ainda, ser amado pelo povo.
“Armas silenciosas” é um documento com essa mesma finalidade. Dentre outras informações, ele nos apresenta:
– Estratégia da manipulação da mídia: recomenda desviar a atenção do público oferecendo distração ou diversão, em lugar de conhecimento científico, críticas sociais e temas de real importância. No caso do Brasil, vale lembrar que, quando tudo ia de mal a pior com pandemias, enchentes, fome e desemprego o ex-presidente promovia passeios de moto e fazia pronunciamentos contundentes para desviar o foco dos problemas. Ir a estádio de futebol vestido com camisas do Flamengo e do Palmeiras também era forma de desviar a atenção do público.
– Criar problemas e oferecer soluções: culpar o Estado de Direito, a assistência social pública e os ônus das folhas de pagamento das empresas pelas crises no sistema. Em seguida propor reformas que retirem direitos sociais, desregulamentar as relações de trabalho, desmantelar os sindicatos de trabalhadores e fragmentar os partidos políticos. Durante o regime militar (1964-1985) o governo garantiu aos investidores estrangeiros a inatividade dos sindicatos de trabalhadores e a cumplicidade de partidos políticos.
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– Lentamente para não doer: fazer as modificações estruturais e colocar em prática medidas impopulares lentamente, de modo a não provocar atos de rebeldia ou distúrbios. Difundir a ideia de que tudo irá melhorar. Por isso é necessário o sacrifício do momento, o remédio amargo que fará passar a dor.
– Subordinação do homem-massa ao conteúdo da propaganda: os cidadãos são tratados como se fossem crianças que se subordinam ao que apregoam as elites do poder.
– Provocar emoções e tratar tudo com espetacularização: a emoção abre a porta do inconsciente, anula a razão e o espírito crítico.
– Mediocridade: a educação dada às classes inferiores deve ser de má qualidade para que elas se mantenham na mediocridade e na inconsciência. Induzir o público a achar que é moda o ser estúpido, vulgar e inculto. A figura e as atitudes de Bolsonaro o mostram apontando armas e dirigindo ofensas a artistas, cientistas e intelectuais. Seu programa de governo para a educação era transformar o ensino médio em cursos profissionalizantes, excluindo o aprimoramento intelectual.
– Autoculpabilidade: fazer os indivíduos acreditarem que eles são os únicos culpados por suas pobrezas e infortúnios. Desta forma, as injustiças sociais, as desigualdades e as acumulações de riquezas ficam livres das críticas. A ideologia da prosperidade pregada pelos neopetencostais consiste em afirmar que a pobreza e o mal-estar das pessoas vêm da falta de fé. Para redimir-se é necessário que o indivíduo reconheça sua culpa e faça doações à igreja para obter graças divinas “ficando rico e poderoso”.
– Conhecer os indivíduos mais do que eles mesmos se conhecem: com a globalização e o aumento do distanciamento entre ricos e pobres, as formas tradicionais de vida estão sendo destruídas pela comunicação de massa. As famílias perderam a autoridade e os jovens buscam orientação em seus ídolos e mitos. Ao mesmo tempo, as classes superiores estão tendo mais facilidade e oportunidade de adquirir conhecimento científico e aumentar o poder sobre as camadas mais pobres.
Em síntese, o que a plutocracia deseja é um retrocesso aos tempos da escravidão: domínio absoluto sobre trabalhadores e de toda população. Quando não pode usar as armas silenciosas, apela para a violência, como a mulher que chicoteou o entregador com a guia da coleira do cachorro, ou como os que espancam e matam jornalistas.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
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