No último domingo (06), passamos pela primeira eleição após aquela que foi, sobretudo para nós jovens, a maior eleição de nossas vidas. Para jovens militantes de movimentos sociais de esquerda, organizados politicamente, ainda que a via institucional não seja a centralidade da luta política e, ainda que se faça luta cotidianamente e não apenas no período eleitoral, é inegável o quanto as eleições são importantes, ainda no cenário da democracia liberal. Somos direta e objetivamente concernidos/as por questões de ordem da política institucional, não há como estar alheio a isso. No entanto, quero aqui também ressaltar outros aspectos, mais particulares no que diz respeito aos efeitos que a tragédia de 2018 nos deixou e que me parecem tão difíceis de apagar.
Me lembro perfeitamente do sentimento que me tomou quando todos os votos foram apurados no dia 28 de outubro de 2018. Lembro também do quanto esse sentimento era compartilhado pelas pessoas próximas a mim. Lembro do choro incessante, lembro da raiva, do medo e da desesperança. Ainda que em 2022 o resultado tenha nos feito vibrar, tenha lavado a alma em certa medida, é como se aquele amargor de quatro anos antes fosse irreparável e o medo de que ele volte a se repetir é como um fantasma ao nosso redor. Quase como uma situação traumática que insiste em nos assombrar. Ainda que as eleições municipais não tenham a proporção do que foram as últimas disputas presidenciais, não podemos de maneira alguma subestimá-las, elas nos trazem notícias e, sobretudo, escancaram um monstro que ainda não derrotamos: o bolsonarismo.
No estado do Paraná, tivemos um crescimento do conservadorismo e da extrema-direita, via de regra aliada aos liberais. No Paraná, o PL (Partido Liberal) conquistou 52 prefeituras e o PSD (Partido Social Democrático) , partido de Ratinho Junior, foram 164. Cidades como Foz do Iguaçu, Cascavel e Guarapuava já tiveram as definições no próprio domingo (06). Curitiba seguirá para o 2° turno, estando entre a cruz e a espada. Infelizmente, o que acompanhamos nos últimos meses foi a ascensão de protótipos de “bolsonaros”, alguns aparentam ser menos toscos, são mais “engomadinhos”, minimamente mais articulados. O próprio governador do estado Ratinho Junior ilustra bem a tal figura, não à toa eles se unem prontamente na hora de combater a esquerda. Guarapuava é o grande exemplo disso, um conchavo sujo que une famílias, coronéis e o agronegócio em prol dos interesses da minoria rica e latifundiária. O que vemos então é que em cada cidade tomada pela extrema-direita, das menores até as grandes capitais, fica evidente o enraizamento de uma ideologia nefasta e antipopular.
Contudo, ainda que os sentimentos sejam indigestos, é necessário fazer deles o nosso motor de organização e luta. Precisamos também encontrar forças nas boas notícias que tivemos, principalmente com as conquistas de cadeiras nas Câmaras Municipais pelo MST. Portanto, ainda que as eleições nos tragam um gosto amargo na boca, precisamos lembrar que a luta é para além das urnas. E que, juntas e juntos, usaremos desse amargor para seguir fazendo o que precisa ser feito até que nenhum resquício dessa peste encarnada no bolsonarismo possa resistir: organização da classe, trabalho de base, mobilização e disputa das ideias. Além disso, sempre lembrar que só a luta muda a vida e, como mencionado no início do texto, a nossa luta não começa nem se encerra nas urnas.
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*Moema Fiuza, psicóloga, especialista em Saúde Coletiva e militante do Levante Popular da Juventude.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.