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Rosa Amorim é deputada estadual pelo PT em Pernambuco. Crescida nas fileiras do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), foi diretora da União Nacional dos Estudantes (UN...ver mais

Alfabetizar o povo para romper as cercas da ignorância

Não é só proporcionar a escrita e leitura, mas alfabetizar para que as pessoas leiam o mundo à própria maneira e escrevam os seus próprios caminhos

O analfabetismo é um dos vários problemas crônicos do nosso país. Ele não é somente um empecilho à leitura ou um problema educacional, como parece à primeira vista. Manter uma massa analfabeta, sem saber ler, interpretar, questionar e impedi-la de estabelecer sua própria visão de mundo sempre fez parte de um projeto de dominação das elites.

Hoje, 11 milhões de brasileiros com idade superior aos 15 anos não conseguem pegar um ônibus, ler um manual de instruções, ver se o dinheiro caiu na conta ou conferir a validade de um alimento porque são analfabetos. Pernambuco ainda convive com a triste realidade de possuir cerca de 960 mil pessoas analfabetas. Isso significa, segundo o IBGE, uma taxa de 13,4%, quase o dobro da média nacional de 5,4%.

Por isso, discutir analfabetismo é antes de tudo discutir a injustiça e desigualdade de um sistema que exclui da nossa gente até o mais básico: o direito de ler e escrever. Garanti-lo precisa ser encarado como uma tarefa coletiva enquanto sociedade.

E é justamente para chegar onde muitas vezes a educação formal não chega que o MST lançou a Jornada de Alfabetização de Jovens e Adultos: para alfabetizar o campo e a periferia, para educar e transformar vidas através das palavras a partir de um método criado em Cuba.

A nossa missão é fazer com que jovens, adultos e idosos sejam alfabetizados em assentamentos rurais, ocupações urbanas e periferias de várias regiões do Brasil. Para nós, romper as cercas do latifúndio do saber é parte do nosso projeto de reforma agrária, porque encaramos ela não só como distribuição de terras, mas como parte de um projeto de emancipação do povo.

Alfabetizar é construir o direito à esperança e à dignidade. Aqui em Pernambuco, a jornada conta com mais de 5 mil alunos em 400 turmas espalhadas pelo Recife, Região Metropolitana, Caruaru e Petrolina. As aulas já iniciaram agora em agosto e seguem até dezembro, utilizando o método “Sim, eu posso”.

Esse método foi criado em Cuba há mais de 25 anos por uma pedagoga chamada Leonela Relys Díaz e já alfabetizou mais de 10 milhões de pessoas em mais de 30 países, entre os quais Moçambique, Angola, Nicarágua, Venezuela, Timor-Leste e no próprio Brasil, onde o MST estima que mais de 100 mil pessoas aprenderam a ler com o método.

Cerca de 250 educadores populares pernambucanos se reuniram no Assentamento Normandia, em Caruaru | Layla Albuquerque / Jornada de Alfabetização

O “Sim, eu posso” usa números, sons e palavras simples para ensinar, com termos do dia a dia dos educandos e fazendo-os avançar, no ritmo de cada estudante, até a construção de uma leitura crítica do mundo.

Este trabalho é o resultado de uma luta coletiva: pessoas que estavam à margem voltam a sonhar, a exigir, e, principalmente, a exercerem plenamente sua cidadania.

Não é só proporcionar a jovens e adultos que se apropriem da escrita e leitura, mas alfabetizar para que as pessoas leiam o mundo à sua própria maneira e possam escrever os seus próprios caminhos, como ensina Paulo Freire, nosso Patrono da Educação Brasileira.

A Jornada Nacional de Alfabetização é, sobretudo, uma vitória da educação popular, do saber comunitário e da solidariedade ativa, feita do povo e para o povo. É também um compromisso do governo Lula e do nosso mandato expandir essa jornada, fortalecer cada turma, multiplicar alfabetizadores e lutar para que o Estado e sociedade andem de mãos dadas na erradicação do analfabetismo aqui em Pernambuco.

É central para construir um projeto de Brasil solidário, popular e soberano que as periferias deixem de ser símbolo de exclusão e se tornem território de aprendizado, de organização e de transformação. Sigamos nessa luta para romper as cercas do analfabetismo e acabar com o latifúndio do saber!

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