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Franciscus, pastor dos pobres e das mulheres, profeta da paz e do cuidado com a Casa Comum

Francisco, o Papa Francisco, continuará vivo e sempre presente, ressuscitado, no cuidado com a Casa Comum

“Argentino, torcedor apaixonado do San Lorenzo de Almagro, o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio era amigo do gremista e gaúcho Cardeal Dom Cláudio Hummes, franciscano, com quem morei na Vila Franciscana no início dos anos 1970 em Porto Alegre. Dom Cláudio Hummes soprou aos ouvidos do Cardeal Bergoglio, recém eleito papa: ‘E não se esqueça dos pobres’. Tocado pela lembrança e pedido de um amigo dos Encontros do Celam, Conselho Episcopal da América Latina e Caribe, surpreendentes para quem conhece as diferenças internas da Igreja católica, ele um jesuíta escolhe o nome Francisco, pela primeira vez na história da Igreja católica, Bergoglio, um jesuíta argentino, na sugestão de um franciscano brasileiro, mas ambos latino-americanos.”

(Selvino Heck, Um Papa do Sul, Brasil de Fato RS, 9.10.2020).

“Quero um Papa do Sul, para olhar para os pobres e trabalhadoras-es, e dizer: ‘Vinde a mim os pequeninos, porque de vocês é o Reino dos Céus’.

Quero um Papa do Sul para assumir indígenas, negras-os, quilombolas, catadoras-es de material reciclável, população em situação de rua e todas e todos as-os oprimidas-os como sujeitos de direitos.

Quero um Papa do Sul para olhar os continentes historicamente subjugados, inclusive pela Igreja católica, tratados como terras a serem conquistadas e catequizadas e não como espaços de liberdade e construção de povos e nações.

Quero um Papa do Sul, tal como Jesus olhou e abençoou a samaritana, para olhar com outro olhar e abençoar as mulheres, os homossexuais, todas e todos aquelas-es historicamente desprezadas-os e jogadas-os à margem.

Quero um Papa do Sul para caminhar com as-os jovens, sentir que as-os jovens cristãs-ãos do campo e das periferias mantenham os sonhos e a esperança, além da caridade e da fé, e sejam profetas em tempos de mudança.

Quero um Papa do Sul capaz de dialogar com todas as igrejas e religiões, judeus e muçulmanos, evangélicos e de terreiros, budistas e espíritas.

Quero um Papa do Sul amigo de povos e nações, chineses e palestinos, cubanos e vietnamitas, eslavos e indígenas, moçambicanos e neozelandeses.

Quero um Papa do Sul que seja humano, não um quase Deus longe do povo, da vida e do testemunho das-os fiéis e da realidade vivida por cristãs, cristãos e comunidades.”

(Selvino Heck, ‘Quero um Papa do Sul’, texto profético escrito antes da eleição do Papa Francisco, em fevereiro de 2013. Está em ‘Relendo Veredas’, Grupo Vereda – Prosa, José Eduardo Degrazia (Org.), Bestiário/Class, 2017, p. 173)

Na Encíclica Laudato Sì, ‘Louvado Seja’, Francisco escreve, como profeta do cuidado com a Casa Comum: “São Francisco de Assis é o exemplo por excelência do cuidado e por uma ecologia integral vivida com alegria e autenticidade. E chamava todos os seres com o doce nome de irmão e irmã.”

Na Encíclica Fratelli Tutti, ‘Todos Irmãos, todas Irmãs’, Francisco escreve: “A especulação financeira com o lucro fácil como objetivo fundamental continua provocando estragos. O vírus do individualismo radical é o vírus mais difícil de derrotar. A fragilidade dos sistemas mundiais diante das pandemias evidenciou que nem tudo se resolve com a liberdade de mercado.”

Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos nos constituir como ‘nós’ que habitam a casa comum. É possível aceitar o desafio de sonhar e pensar em outra humanidade. É possível ansiar por um planeta que garanta terra, abrigo e trabalho para todas e todos.”

Francisco foi pastor dos pobres e das mulheres, alguém que cuidava de quem mais precisava, tal como Jesus, alguém que ouvia e rezava junto, solidário.

Francisco foi profeta da paz. Na sua última mensagem, um dia antes da morte, disse: “Não é possível haver paz onde não há liberdade religiosa. Ou onde não liberdade de pensamento nem de expressão nem respeito pela opinião dos outros. Não é possível paz sem verdadeiro desarmamento. Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo de ser do nosso agir cotidiano.”

Francisco, pastor e profeta como Jesus, fez a igreja católica ser mais movimento e menos instituição, sempre ao lado dos pobres, das mulheres, das trabalhadoras-es, das-os jovens, indígenas, das negras e negros e de todas e todos aquelas-es perseguidas-os e muitas vezes crucificadas-os como Jesus. Com Francisco, igual como Jesus, elas e eles têm vida, e ressurgem, com vida, na paz e no cuidado com a Casa Comum.

Nada como celebrar-rezar-cantar-louvar neste momento da história o Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, Cântico que completa 800 anos exatamente em 2025, e referência para o Papa Francisco.

“Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória e a honra e toda bênção.

Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o Senhor irmão sol, o qual faz o dia, e por ele nos iluminas.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas, no céu as formaste claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento, e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é muito útil e humilde e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo pelo qual iluminas a noite. E ele é belo e agradável, e robusto e forte.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa a mãe terra que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas.

Louvado sejas, meu Senhor, porque perdoam pelo teu amor. E suportam enfermidades e tribulação. Bem-aventurados aquelas-es que as suportarem em paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar. Louvai e bendizei ao meu Senhor, e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.”

Francisco, o Papa Francisco, continuará vivo e sempre presente, ressuscitado, no cuidado com a Casa Comum, na luta pela paz e pela humanidade. Ele vive, ele viverá nos corações, nas almas, nos espíritos de quem anuncia a Boa Nova, prega e luta pela Sociedade do Bem Viver.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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