Talvez você não saiba, mas a resposta do ChatGPT a uma simples pergunta exige aproximadamente o mesmo consumo de energia de uma lâmpada LED de 10W durante 17 minutos. A chamada Inteligência Artificial (IA) é uma devoradora de energia e água. Para manter os grandes modelos de linguagem, as big techs utilizam milhares de computadores que ficam instalados em gigantescos armazéns de dados, os chamados data centers.
Em geral, com mais de 200 mil computadores, um data center de hiperescala consome 40% de energia elétrica para o funcionamento de suas máquinas de processamento de informação. Gasta outros 40% apenas para refrigerar suas instalações e manter a temperatura adequada às suas máquinas. O esfriamento do data center exige muita água. Somente um data center do Google na cidade chamada The Dalles, no estado de Oregon, consumiu 355, 1 milhões de galões de água durante o ano de 2020.
Por mais que os chips melhorem sua performance gastando menos energia e dissipando mais o calor, as big techs não param de coletar dados de todas as atividades humanas e não humanas. Dados precisam ser armazenados. Desse modo, as infraestruturas chamadas data centers não param de crescer. Os dados são o insumo indispensável da IA desenvolvida e utilizada hoje.
Calcula-se que o treinamento de um grande modelo de linguagem, um tipo de IA semelhante ao GPT, chamado LaMDA, do Google, gerou a emissão de 36.000 toneladas de CO2 na atmosfera. Tudo indica que coletar dados, armazená-los e processá-los intensamente parece ser uma prática cada vez mais ambientalmente impactante. Um relatório da Agência Internacional de Energia de 2024 avalia que o consumo energético dos data centers no ano passado já se aproxima de 1000 TWh similar ao consumo de energia elétrica do Japão.
A perigosa saída nuclear
Em setembro de 2024, os proprietários da usina nuclear de Three Mile Island anunciou que ela voltará a funcionar. A Microsoft teria feito um acordo para a usina fornecer energia elétrica para os seus data centers. O Grupo Alphabet, controlador do Google e a Amazon, também já anunciou seus planos de buscar a energia nuclear para manter e ampliar seus inúmeros data centers.
A aposta das big techs é a construção de pequenos reatores modulares. Esses dispositivos serão planejados para gerar um terço da energia de um reator convencional. Poderão ser construídos mais rapidamente e com um custo bem menor do que os existentes nas grandes usinas nucleares. São chamados de produtores de energia limpa. Ocorre que a energia nuclear tem uma série de riscos que a proliferação de pequenos reatores ampliarão.
As estruturas que produzem a energia nuclear estão sempre correndo riscos de falhas de resfriamento, de erros humanos e desastres naturais. É preciso lembrar do desastre do reator nuclear de Fukushima, em 2011. Após um tsunami, a usina nuclear sofreu uma falha no seu sistema de resfriamento levando a vazamentos perigosos na região. Em 1986, o reator nuclear de Chernobyl teve uma explosão motivada por falhas no projeto e na operação da usina.
Os vazamentos de radiação também são um grave risco conhecido. Junto com ele, temos o problema do descarte dos resíduos radioativos, o chamado lixo nuclear. Não existem soluções definitivas para esses detritos altamente perigosos dado o elevado grau de radiação. Um reator modular também gerará lixo e de modo mais distribuído no território o que gerará ainda mais problemas para o seu transporte. É também relevante alertar que será necessário muita água para resfriar esses reatores, curiosamente um dos grandes problemas dos data centers. A questão da água não será resolvida por reatores nucleares, será agravada.
Reatores nucleares precisam de urânio enriquecido e plutônio. O urânio é um elemento natural presente em rochas e solos, porém em baixas concentrações. Existem reservas com maior possibilidade de extração. Já o plutônio adequado à reação nuclear não é encontrado na natureza em quantidades significativas. A extração de urânio libera substâncias radioativas como rádio e metais pesados que podem poluir lençóis freáticos. Muitas áreas de extração de urânio são escavadas ou lixiviadas com ácido e os dejetos dessa mineração contêm urânio e tório que geram graves impactos ambientais.
A utilização da energia nuclear para bancar a operação das big techs de coleta, armazenamento e processamento de vastas quantidades de dados precisa ser questionada. O paradigma da IA baseada em gigantescas bases de dados e em um enorme poder computacional não é sustentável ambientalmente. Precisamos “desnaturalizar” as opções tecnológicas. Elas não são inevitáveis. Não existe um único caminho para se desenvolver sistemas automatizados. A sociedade precisa sair do modo entorpecimento a que foi submetida pela alienação técnica e pela doutrina neoliberal.