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Vicente Rauber

Transição energética: é preciso acelerar o passo

Engenheiro especializado em Planejamento Energético e Ambiental. Ex-Diretor do DEP - Departamento de Esgotos Pluviais (em dois períodos); Coordenad...
A transição energética consiste em substituir estas energias – petróleo e carvão mineral - por energias renováveis no curto tempo

É tempo de transição energética. Do que falamos? De parar de sobreaquecer nosso planeta, para que eventos climáticos extremos não continuem aumentando de tamanho e de frequência. Causam prejuízos a todos(as), especialmente aos mais pobres.

Como sabemos, o sobreaquecimento global está vinculado à emissão de gases de efeito estufa – GEEs -, que aumentam a camada de ozônio, que por sua vez retém mais calor sobre o planeta.

A nível internacional, os maiores emissores dos GEEs são os combustíveis fósseis, que demoraram mais de cem milhões de anos para serem formados com intenso trabalho da própria natureza e, como tal, merecem uso mais nobre e mais prolongado. São as energias do petróleo e de seus derivados e do carvão mineral. A geração dos GEEs ocorre tanto na  produção como no uso destas energias.

Em relação à emissão de GEEs, temos uma situação diferenciada no Brasil, cabendo às queimadas e desmatamentos a maior quantidade das emissões (aproximadamente 45%), seguida dos meios de produção agrícola e pastoril (aproximadamente 25%). No entanto, no meio urbano, principalmente nos grandes centros as emissões derivadas dos derivados de petróleo chegam a representar dois terços do total das emissões, além de constituir a principal poluição a prejudicar a saúde e a qualidade de vida.

A transição energética consiste em substituir estas energias – petróleo e carvão mineral – por energias renováveis no curto tempo, e que geram muito menos GEEs ou nem os geram no seu uso. É o caso das quedas d’água, ventos, uso direto dos raios solares e biomassa, fundamentalmente.

Substituir combustíveis do petróleo e carvão mineral

Através da matriz energética podemos verificar os percentuais de cada energia usada num período de tempo, num espaço definido. Tratam de todas as energias usadas em todas as atividades. O transporte continua sendo o maior usuário do petróleo, seja onde for.

Neste artigo, estamos utilizando as matrizes energéticas do mundo e do Brasil, disponibilizadas no site da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, responsável pelo planejamento energético no Brasil. Embora não sejam atualizadas, é possível avaliar como estamos aproximadamente no mundo e no Brasil.

Frise-se que neste conjunto de energias citadas nas matrizes energéticas estão incluídas as energias usadas para geração de energia, que constituem as matrizes elétricas, que trataremos adiante.

As energias não renováveis continuam predominantes

Em 2022, 85,6% das energias usadas no mundo eram não renováveis, especialmente petróleo e carvão mineral. Há um percentual significativo do uso de gás natural, o qual quando produzido, transportado e consumido sem vazamentos e usado adequadamente, praticamente não gera poluição e GEEs.

O grande uso do carvão mineral está relacionado à geração de energia elétrica, principalmente na China e na Europa. A China continua sendo o maior emissor de GEEs, mas também é onde hoje ocorre a maior geração de energias renováveis em números absolutos e onde existe a maior fabricação de veículos elétricos.

Nos dois anos seguintes, 2023/24, houve avanços, porém as energias não renováveis continuam sendo muito predominantes.

Ao analisarmos a matriz energética do Brasil referente a 2023, verificamos que 50,9% ainda são não renováveis: petróleo e derivados, nuclear, carvão mineral, gás natural e outros. Destaque negativo é o pequeno percentual de gás natural. O Rio Grande do Sul e a região Sul estão completamente prejudicadas pela falta de gasoduto, recebem a mesma quantidade de gás natural desde os tempos que só tínhamos o gás importado da Bolívia.

As energias renováveis somavam 49,1%: derivados de cana, hidráulica (quedas d’água), lenha e carvão vegetal, eólica, solar e outros.

Em 2024, as renováveis superaram as não renováveis no Brasil.

Já sabemos que em 2024, as renováveis ultrapassaram (mais de 50%) as não renováveis, especialmente pelo incremento da energia fotovoltaica. Mas muito muito caminho a perseguir.

Matriz energética Mundial 2022

Cabem algumas considerações:

1) No mundo, o petróleo e o carvão mineral continuam amplamente dominantes e com forte presença do petróleo no Brasil. Toda a nossa vida depende de energias, são enormes as quantidades envolvidas e as mudanças estão sendo excessivamente lentas;

2) É pouco relevante simplesmente afirmarmos que somos contra o petróleo e carvão mineral; precisamos de  compromissos de todos os países que sejam efetivados e que acelerem a transição para as energias renováveis;

3) O petróleo começou a ser usado em 1850; por hipótese, imaginemos que siga até 2150. Teremos então “queimado” em 300 anos o que a natureza produziu em 120 milhões. Convenhamos: não é razoável. O petróleo não necessita ser totalmente explorado e merece uso mais nobre, a petroquímica irá crescer, pelas suas qualidades (o que precisamos é reciclar todos os plásticos como o Japão e a Alemanha já fazem);

4) “O petróleo que em grande parte determinou os destinos da humanidade, incluindo muitas guerras, não terá mais importância”. Nem tanto: ainda terá importância por um bom tempo, as empresas de petróleo estão migrando para empresas de energia;

5) Há anos a Petrobras já assumiu  ser uma empresa de energia, deve e pode acelerar esta condição. No entanto, enquanto o mundo precisar de petróleo, deve produzir e vender petróleo e propiciar os ganhos ao Brasil e aos brasileiros, inclusive para acelerar a transição energética nacional;

6) o carvão mineral também não precisa ser totalmente usado, mas igualmente precisa de uma transição justa, possibilitando que trabalhadores e regiões tenham um prazo para migrar para outras atividades. O carvão mineral também pode ter outras utilidades como a produção de matérias primas para fertilizantes.

E qual energia que melhor pode substituir os combustíveis fósseis? A energia do presente e do futuro: a energia elétrica, que depende de outras energias para ser produzida. Vamos tratar no próximo artigo. Por enquanto antecipamos as matrizes elétricas abaixo.    

* Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.

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