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Engenheiro especializado em Planejamento Energético e Ambiental.

Grandes empresas de petróleo irão falir?

Quando verificamos a matriz energética mundial, vimos que mais de 70% de todas as energias usadas são não renováveis

Como vimos no artigo anterior “Transição Energética Justa”, onde destacamos que, a nível do planeta, a maior geração dos gases de efeito estufa (GEEs) provém dos combustíveis fósseis – petróleo, gás natural e carvão mineral -, também conhecidos por energias não renováveis. Também vimos que é necessária e urgente uma forte redução dos GEEs, sob pena de termos desastres climáticos ainda maiores e mais frequentes.

Ou seja, precisamos acelerar o processo conhecido por transição energética, a substituição do petróleo, gás natural  e carvão mineral por energias renováveis como as quedas d’água, ventos, raios solares, biomassa e hidrogênio.

E esta transição precisa acontecer em todo o mundo, já que os GEEs são gerados em todo o planeta e seus efeitos com o sobreaquecimento – os desastres climáticos – ocorrem em todos os continentes.

A geração dos GEEs ocorre em todo planeta e os desastres climáticos também

Para que a transição seja  eficiente e justa, é fundamental que os maiores usuários do petróleo, gás natural e do carvão mineral, portanto também os maiores geradores de GEEs, no caso, os países do primeiro mundo, tenham a maior participação neste processo. E que os trabalhadores e comunidades afetadas também possam realizar a transição de suas atividades para outras. Necessita ocorrer o mais rápido possível. Todos perdem com os desastres climáticos, porém os mais pobres são os mais duramente atingidos.

Quando verificamos a matriz energética mundial, vimos que mais de 70% de todas as energias usadas são não renováveis. Somente os Estados Unidos (EUA) consomem 20% de todo o petróleo produzido. Já no Brasil, em 2024, empatamos em 50% entre energias não renováveis e renováveis.

O mundo usa energias em enormes quantidades. Vemos então quão enorme é o desafio desta transição. Ela implica em modos de produção e de vida efetivamente sustentáveis ambientalmente.

A redução do uso das energias não renováveis ocorre pela redução da sua demanda, especialmente substituídas por energias renováveis  e o consumo energético mais racional.

A redução do uso das energias não renováveis ocorre pela  redução de sua demanda.

Vamos tentar entender possíveis caminhos desta transição.

A maior demanda do petróleo é o transporte.

A produção de petróleo, tanto nos EUA como no Oriente Médio, iniciou em torno de 1850. Teve um crescimento enorme com a demanda vinda dos veículos à combustão. Desde então o petróleo constituiu-se em poder, sendo um elemento presente na história da humanidade, inclusive nas guerras vividas.

Não sabemos exatamente até quando teremos reservas de petróleo. Por hipótese, imaginemos que dure até o ano de 2150. Teríamos então consumido em apenas 300 anos um gigante recurso produzido pela natureza em mais de 120 milhões de anos. Convenhamos, este é mais um aspecto nada razoável e que também exige a transição deste recurso.

Vamos queimar em apenas 300 anos o que a natureza demorou mais de 120 milhões de anos para produzir?

Necessariamente as empresas de petróleo terão que produzir e processar enquanto a transição ocorrer. Nem todo o petróleo necessitará ser minerado, bem como outros usos poderão continuar, como é o caso do combustível da navegação. Outro uso que certamente será intensificado é a petroquímica. Os produtos plásticos, pelas suas características, são necessários e em grande parte insubstituíveis. Por possuírem resistência química são as embalagens de alimentos e remédios e amplo uso em clínicas e hospitais. Também substituem com grande vantagem materiais como madeira, vidro e outros. Com a evolução dos plásticos de engenharia, outras substituições de materiais ocorrerão, inclusive o ferro e o aço.

Qual o grande problema dos plásticos? O fato deles, ao serem descartados, chegarem nas águas, tanto de arroios, rios e oceanos. Jamais devem estar nestas águas, precisamos aprender a reciclá-los totalmente, como ocorre no Japão e Alemanha.

Todas as grandes empresas de petróleo estão migrando para a condição de empresas de energia, participando da transição energética. A Petrobras já assumiu esta condição há anos. E enquanto houver demanda de petróleo a nível mundial, deve continuar explorando-o e produzindo-o, obviamente com todos os requisitos ambientais. Se não o fizer, as outras grandes empresas do mundo o farão e o Brasil perderá recursos fundamentais para o país, inclusive para a própria transição energética.

A Petrobras já é uma empresa de energia

Cabe ressaltar o não renovável gás natural, que quando eliminados seus vazamentos e houver queima total, praticamente não causa poluição e GEEs. Trata-se de um importante energético de transição. É pouco usado no Brasil percentualmente, sendo uma fragilidade de nossa matriz energética.

O combustível do transporte está sendo substituído pela energia elétrica, a mais eficiente energia entre todas e praticamente sem poluição no seu uso. Precisa ser acelerada esta substituição.

A energia elétrica produzida no Brasil ocorre com recursos renováveis em aproximadamente 90%. Já, no mundo, as energias não renováveis predominam em mais de 60% na geração de energia elétrica, especialmente o carvão vegetal em mais de 30%. Realizar esta transição é mais um das grandes tarefas da China e demais países do primeiro mundo.

O petróleo e o carvão mineral devem ter sua mineração reduzida e ter outros usos

Também o carvão mineral pode ter seu uso reduzido, bem como ter intensificado outros usos relevantes como na indústria química, na indústria metalúrgica formando o coque para a produção de aço, na produção de cimento e de matérias primas de fertilizantes.  

Cabe relembrar a situação brasileira. Nos grandes e médios centros urbanos, a geração de GEEs chega a ser em dois terços devido à combustão de gasolina e óleo diesel, motivo para acelerarmos o uso dos veículos elétricos.

Além da substituição dos combustíveis, o Brasil precisa eliminar queimadas e derrubadas e mudar o sistema agropastoril.

As grandes geradoras brasileiras de GEEs são as queimadas, derrubadas de florestas e a degradação dos biomas em mais de 40% e os modos agrícola e pastoril de produção em aproximadamente 25%.

Todos estes itens são resolvíveis em prazos razoáveis, podendo o Brasil, com seus imensos recursos naturais,  ser efetivamente um país exemplo na recuperação do planeta.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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