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Criada por negros e latinos nos EUA, cultura Ballroom cresce no Brasil como espaço de acolhimento à comunidade LGBTQIA+

Iniciada em 2015 no país, cena é marcada por eventos como o PositHIVa Ball, que ocorre neste sábado (8), em São Paulo

Neste final de semana, São Paulo recebe pela primeira vez a PositHIVa Ball, festa inspirada no movimento conhecido como Ballroom, iniciado nos Estados Unidos na década de 1970 por pessoas negras, latinas e da comunidade LGBTQIA+.

O objetivo do evento é celebrar pessoas que vivem com HIV e gerar um espaço informativo sobre autocuidado, especialmente em relação à saúde. 

Responsável pela organização da atividade, Fenix Zion explica que a cultura Ballroom se fortaleceu “nos anos 1980 e 1990, quando surgiu a epidemia da Aids ou a pandemia da Aids, e a nossa comunidade lá foi extremamente afetada”, disse em entrevista ao programa Bem Viver desta quinta-feira (6).

“Como aconteceu aqui, em São Paulo, e sempre pessoas muito específicas, uma população negra, uma população da comunidade LGBTQIAPN+, principalmente homens homossexuais e travestis”, complementa.

Além do debate sobre prevenção e cuidado, PositHIVa Ball, assim como os eventos que aconteciam nos EUA nos anos 1970, traz artistas para performar e participarem de competições.

“Toda a base da nossa comunidade é muito voltada para esse contexto da moda. E quando você vai num baile, ou numa ball, como traduzimos aqui no Brasil, você vai ver as categorias que são performáticas", explica. 

As balls, ou bailes, são espaços onde ocorrem as performances num formato de batalhas em que participantes competem em diversas categorias, como melhor beleza, melhor caracterização, melhor desfile e melhor dança.

“É dentro da nossa comunidade que surge a dança Vogue, que é uma dança que depois Madonna se inspirou e foi criando outros caminhos. E Vogue é por conta da revista de moda, que é considerada uma bíblia da moda”, conta Zion.

A primeira edição da PositHIVa Ball ocorreu em Brasília, em 2018. A partir dessa ação inicial, Fênix Zion realizou outras três edições: duas ball em Maceió (AL) e uma ball em João Pessoa (PB). 

Fênix Zion é uma pessoa trans não binária que nasceu em Alagoas e hoje vive em São Paulo. Formou-se em em dança e produção de moda e já recebeu o Prêmio Latinidades Pretas, com o editorial de moda “ModAids” e, em 2022, recebeu o Prêmio de Identidade e Diversidade da Cultura em Alagoas com a realização da “PositHIVa Ball” em Maceió.

Neste sábado (8)

A PositHIVa Ball acontece neste sábado (8), no Teatro Flávio Império, rua Professor Alves Pedroso, 600, Cangaíba, a partir  das 18h.

Para o público que não irá participar batalhando nas categorias, será preciso retirar ingresso gratuito com uma hora de antecedência.

Confira a entrevista na íntegra

Brasil de Fato: Como começou a cultura Ballroom?

Fênix Zion: A tradução de Ballroom, se a gente for pensar no contexto da própria comunidade, que é comunidade de Ballroom, é cultura de baile. A Ballroom faz parte dessa cultura de baile, que inclusive ela é anterior aos anos 1970, nos Estados Unidos. 

Em 1869, no período, após a abolição da escravatura lá, nos Estados Unidos, a população negra se reúne para celebrar suas vidas, celebrar sua liberdade – com aspas –, mas esse contexto de liberdade. 

Então, desde o início, a Ballroom, ou a cultura de baile, surgiu para poder reunir pessoas negras, pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, depois as pessoas latinas foram chegando, pessoas brancas também.

Enfim, o contexto da comunidade de Ballroom é celebrar a vida de pessoas que sempre estão à margem da sociedade, inclusive até os dias atuais. 

E a gente sabe qual é a cor dessas pessoas, qual é o gênero, qual é a sexualidade dessas pessoas. E aí, um dos fundamentos da comunidade é a moda, por isso que as categorias das competições são melhor rosto, melhor roupa, melhor caminhada na passarela, melhor cabelo. 

É dentro da nossa comunidade que surge a dança Vogue, que é uma dança que depois Madonna se inspirou e foi criando outros caminhos. E Vogue é por conta da revista de moda, que é considerada uma bíblia da moda.

Então, toda a base da nossa comunidade é muito voltada para esse contexto da moda. E quando você vai num baile, ou numa ball, porque aqui no Brasil a gente traduziu para a ball, um baile, você vai ver as categorias que são performáticas. 

Nesse baile que nós vamos ter agora no próximo sábado [dia 8 de junho, em São Paulo], são essas categorias que vamos ter, sendo que cada categoria vai ter um tema. Geralmente a gente quer celebrar algum movimento, a gente quer celebrar alguma data comemorativa, alguma pessoa especificamente.

E as pessoas que vão performar precisam se inspirar nesse tema, né? Por exemplo, a categoria face é Beyoncé. Então, as pessoas precisam trazer essa energia da Beyoncé na roupa, no cabelo, na maquiagem, de maneira performática e o seu rosto precisa vender o que a Beyoncé tem de melhor. É um espetáculo, onde você vai lá para prestigiar as pessoas que estão se preparando para poder performar.

Como foi a chegada ao Brasil?

Lá nos anos 1970, existiam esses bailes que as pessoas chamavam de drag balls, esses bailes já traziam a cultura drag queen. A nossa pioneira, nossa primeira mãe, é Crystal LaBeija, nossa primeira referência, a primeira a formar uma casa. O que são essas casas?

Além das categorias e de todo esse contexto, a nossa comunidade é conhecida por ter as houses, as casas, que até hoje são importantes, porque elas acolhem pessoas que estão em situações de vulnerabilidade social. 

Então, muitas dessas pessoas lá nos anos 1980, 1990, pessoas negras e principalmente pessoas LGBTs, que eram expulsas de casa por conta da sua sexualidade e, muitas vezes, por conta do seu gênero, se era uma mulher trans, um homem trans, um transmasculino, essas pessoas eram acolhidas.

Geralmente, a casa vai ter uma mãe, um pai, para poder acolher e orientar essas pessoas dentro e fora da comunidade. Então, nesse contexto, lá dos anos 1970, existiam, basicamente, a cultura drag queen. E o grande boom, nesse primeiro momento, foi Crystal LaBeija, que é uma mulher trans negra, de origem latina, portoriquenha.

Tudo isso chega ao Brasil por volta de 2014, 2015. Na verdade, a dança vogue acontece desde o início dos anos 2000.

Mas, só realmente em 2015, que a gente data como início da comunidade. Como tudo que acontece no mundo, é natural que aqui também tenha iniciado de uma forma branca e de pessoas cisgêneras.

Porém, nos últimos anos, a gente vai entender que houve tanto uma transição da comunidade, porque, hoje, a maioria da nossa comunidade é de pessoas nesse processo de transição, são muitas travestis, muitas transmasculinas, muitas pessoas trans não binárias e muitas pessoas negras, principalmente vindas da periferia.

E essa é a minha realidade: sou uma pessoa que vim de Alagoas, uma pessoa que é negra, uma pessoa que é trans não binária, uma pessoa que também vive com HIV. Então, vivendo todas essas demandas, eu entendi que a comunidade de Ballroom é um lugar onde que eu poderia ser acolhido e à qual eu poderia pertencer.

Eu já tinha participado de outras comunidades. Eu fui do movimento hip hop, eu já fui da cultura da capoeira, mas a comunidade de Ballroom foi um lugar onde eu consegui não só ter a minha questão racial enaltecida, mas também o fato de ser uma pessoa trans não binária e outras coisas.

Como começou o PositHIVa Ball?

A primeira edição dele aconteceu em Brasília. Depois, eu tive a oportunidade de retornar a Maceió e realizar outros bailes, não só lá, mas também em João Pessoa, na Paraíba. 

Hoje, existe a possibilidade da realização porque a comunidade se apropriou de maneira muito positiva, porque entenderam que, além da pauta racial e de gênero, a questão de saúde da população negra e LGBTQIAPN+ é muito forte na nossa comunidade.

E aí eu preciso voltar mais uma vez para os Estados Unidos, porque, nos anos 1980 e 1990, quando surgiu a epidemia da Aids ou a pandemia da Aids, a nossa comunidade lá foi extremamente afetada.

Como aconteceu aqui, em São Paulo, e sempre pessoas muito específicas, uma população negra, uma população da comunidade LGBTQIAPN+, principalmente homens homossexuais e travestis.

Então, a nossa comunidade aqui, no Brasil, entendendo a necessidade de falar sobre saúde de maneira integral, mas também falar sobre saúde sexual, entendemos que era fundamental darmos continuidade a esse legado que surge lá nos Estados Unidos, mais uma vez.

Mas aqui, no Brasil, nós temos as nossas demandas. Então, o baile vai falar sobre pessoas que vivem com HIV, sobre esse bem viver dessas pessoas, sobre esse lugar de existir. Vai também enaltecer pessoas que já partiram, que já faleceram, porque a gente entende que essas ancestrais, esses ancestrais, precisam continuar no nosso imaginário de reconhecimento.

Precisamos entender que demandas são essas, porque a nossa ideia é falar sobre vida. Nós não estamos propondo baile para falar sobre morte, ao contrário. A nossa ideia é que as pessoas se reúnam e lá nós vamos comunicar e vamos falar sobre vida, o que é viver com HIV. 

Todas as pessoas estão convidadas, convidados e convidades para esse momento. 

Menores de idade também. A gente sempre pede que vá acompanhada de algum responsável, porque o nosso baile vai tratar sempre sobre temas que muitas vezes são muito complexos para uma sociedade ainda muito conservadora. E aí é importante que essas pessoas vão acompanhadas dos seus pais, mas que não deixem de ir, não é que a criança não pode, criança pode, criança deve, desde que seus pais estejam, seus parentes, enfim…


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