Começou nesta semana a 14º Mostra Ecofalante de Cinema, considerado o maior festival de filmes com temática socioambiental na América Latina por reunir 125 filmes de 33 países com exibições gratuitas espalhadas pela cidade de São Paulo.
O artista homenageado neste ano é o cineasta cearense Hermano Penna, que se consagrou com o longa Sargento Getúlio, de 1980, que levou Lima Duarte às telonas. Penna tem uma trajetória marcada por filmes que debatem a questão agrária e dos direitos dos povos indígenas no país, muitas vezes relacionado com o golpe militar de 1964.
“Então eu me sinto uma voz fora desse, vamos dizer, grande centro. Porque meu cinema, apesar de eu viver em São Paulo, sempre esteve ligado ao lugar que eu nasci”, conta, se referindo à sua cidade natal, Crato, no sertão cearense, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta sexta-feira (30).
Penna está entusiasmado com o cenário do cinema atual, não só pelas conquistas internacionais, mas pela descentralização das produções, que tem possibilitado que filmes da região Norte e Nordeste do país cheguem ao cinema, assim como longas feitos por populações indígenas e negras.
“Acho, inclusive, que as cotas regionais são de tal ordem que está havendo mal-estar no eixo Rio São Paulo e Sul do país, devido à quantidade, uma divisão desse bolo.”
A Mostra Ecofalante se estende até o dia 11 de junho e a programação pode ser consultada neste link.
Confira a entrevista na íntegra
Como o senhor recebeu o convite de ser o cineasta homenageado?
Foi uma honra muito grande ter recebido essa homenagem por parte desse evento. Estou tendo a oportunidade de exibir alguns filmes meus além de tudo. São oito filmes ao todo.
Meus filmes abordam temas muito ligados ao país, às questões sociais do país e, por extensão, da formação cultural do Brasil e a formação econômica e, um pouco, a questão ecológica, que, no fundo, é a própria Mostra Ecofalante.
Qual a importância de um cineasta nordestino ser o homenageado da vez?
Olha uma das grandes questões que atravessa a história brasileira é a questão da terra, a questão da posse da terra como tal.
E a questão de quem trabalha na terra, a história do trabalhador rural deste país, que está totalmente ligada à questão do trabalho.
Não esquecer que quando o tráfico negreiro foi extinto, na mesma semana, ou 15 dias depois, criou-se a Lei de Terras no país, em 1850, que continua, basicamente, a mesma até hoje, que fala quem tem acesso à terra.
O que foi a Lei de Terras? Foi, justamente, que toda terra devoluta no país seria comprada. Então você alijou o povo brasileiro da terra, já em 1850, e continua a mesma legislação hoje, basicamente.
Digo tudo isso porque, para mim, que nasci no sertão, minha vida está ligada diretamente à terra.
Eu sou do Crato, uma região que todos nós sabemos que no dia que tirarem a floresta da Chapada do Araripe, acaba aquele oásis do sertão. No dia que se tirarem aquela floresta, acabou. Acabou aquele regime de chuvas ali no Cariri.
Meu filme Fronteira das Almas é um filme que mostra a questão agrária na Amazônia, o que deixou o governo militar, que foi uma bomba que até hoje está trazendo consequências.
O MST é um dos movimentos de maior repercussão no país sobre a luta pela terra. Constantemente ele é criminalizado por diferentes atores políticos. Te parece que é intencional pôr um movimento que luta pela reforma agrária nesse lugar de ilegalidade?
Sim, com certeza. E não é só a questão da posse da terra, é como eu lhe disse, é a questão do trabalho. Quem é que vai trabalhar nela? Está aí é que vemos, até hoje, o trabalho escravo.
Todo ano você vê, as colheitas dos vinhos do Rio Grande do Sul, por exemplo. O controle sobre a terra também é o controle sobre o trabalho.
A educação falha nesse país. É um projeto de elite, porque ela precisa de trabalho barato. Por que essas elites lutaram tanto contra o Bolsa Família? Ora, o Bolsa Família, no Nordeste, por exemplo, não foi uma esmola de R$ 80.
Quando o Bolsa Família foi criado, os salários rurais eram inferiores ao Bolsa Família. Eu tenho um filme chamado Recôncavo, a Bahia de Dentro, em que eu filmei canaviais decadentes, no Recôncavo baiano, em que tem entrevistas de pessoas que, simplesmente, ganhavam R$ 35 por mês.
Quando chega o Bolsa Família de R$ 80, aqueles latifúndios improdutivos e decadentes do Nordeste se tornam fonte de renda menor
Eu tentava explicar isso aqui no Sul, não é uma questão só de pobreza
Você como um cineasta nordestino que atuou no Sudeste do país tentou fazer um processo de educação ou debate com seu colegas desta região?
Não tenha a menor dúvida, eu me empenhei muito nisso. No meu cinema, eu nunca, você sabe, fiz um filme urbano em toda a minha vida. Em toda a minha vida de cineasta eu não tenho um filme urbano, todo ele passa num sertão, todo ele discute a questão da terra.
Então eu me sinto uma voz fora desse, vamos dizer, grande centro. Porque meu cinema, apesar de eu viver em São Paulo, sempre esteve ligado ao lugar que eu nasci.
Agora, não tem a menor dúvida que esse quadro mudou inteiramente, tá entendendo? Hoje, no Brasil, tem grandes cinemas no Ceará… Em Pernambuco nem se fala, está aí ganhando o Cannes, ganhando prêmios internacionais.
Você tem filmes do Acre, você tem filmes do Amazonas, você tem filmes da periferia. Então, o cinema brasileiro, hoje, é de uma riqueza temática, de personagens e de pessoas que fazem.
Por exemplo, você tem um cinema indígena riquíssimo, a mostra tem toda uma seleção de filmes feitos por indígenas.
Mesma coisa com a população negra… A quantidade de filmes que estão sendo feitos, isso tudo está acontecendo neste momento e está enriquecendo enormemente a produção brasileira.
Acho, inclusive, que as cotas regionais são de tal ordem que está havendo mal-estar no eixo Rio-São Paulo e Sul do país, devido à quantidade, uma divisão desse bolo.
Não tem problema nenhum ter, nesse momento, a balança pesando mais para um lado para corrigir deformações antigas. Ela vai se equilibrando, com o tempo se equilibra e tal, etc.
Eu mesmo estou há 12 anos sem filmar com todo um histórico, com todos os prêmios internacionais, com isso, com aquilo. E não estou reclamando, estou tocando a vida.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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