A capital Rio Branco (AC) recebe a 6ª edição do Festival Jovens do Futuro nesta sexta-feira (5), quando se comemora o Dia da Amazônia, e no sábado (6). A data de realização do evento também é simbólica pelo fato de que, pouco antes de ser assassinado em 1988, o líder sindical seringueiro Chico Mendes escreveu uma carta na qual afirmou que “6 de setembro do ano de 2120 será o primeiro centenário da Revolução Socialista Mundial que unificou todos os povos do planeta”.
O documento, intitulado Atenção, Jovens do Futuro é um chamado à superação da atual forma de organização hegemônica da sociedade que explora ostensivamente os recursos naturais e penaliza povos e comunidades tradicionais.
Entre os principais assuntos debatidos no festival estão a preparação para a COP30 e os desafios para enfrentar o cenário de emergência climática. Para tanto, a programação combina debates políticos com apresentações artísticas e culturais.
Angela Mendes, filha de Chico Mendes e uma das organizadoras do evento, explica a importância da iniciativa e discute o legado deixado pelo sindicalista.
“A violência que a gente vê hoje e o ataque aos territórios foram muito potencializados. Mas o que nos anima é que, na mesma medida, muitos jovens estão se levantando contra isso e resistindo. Precisamos entender o nosso papel nesse processo. Cada um de nós pode ser um Chico Mendes, se tivermos consciência e sensibilidade de entender que nossa vida é coletiva e a nossa luta precisa ser coletiva”, afirma ao Conversa Bem Viver, da Rádio Brasil de Fato.
Ela também descreve como estão as reservas extrativistas, que hoje funcionam como um tipo de reforma agrária para os povos que vivem e cuidam da floresta na região amazônica. “As reservas extrativistas são territórios de uso coletivo que foram criados para resguardar os modos de vida das populações que moravam ou moram na floresta.”
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato – Como foi o seu primeiro contato com a carta Atenção, Jovens do Futuro?
Angela Mendes – A versão original dessa carta está em posse de um grande companheiro do meu pai. Há um tempo eu tenho o conhecimento dela, mas comecei a enxergar essa carta como um grande despertar da juventude, em 2016, quando criei o Núcleo Jovem dentro do comitê.
Também começamos a pensar em trabalhar a formação de jovens lideranças dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes. Aquele foi o ano em que houve o golpe contra Dilma Rousseff, o que chamou muita atenção para o cenário político que começava a se desenhar.
Por outro lado, havia comunidades no interior, principalmente do Amazonas, que já tinham enxergado essa carta e trabalhavam com ela. A minha passagem também pelo CNS, o Conselho Nacional das Populações Extrativistas, uma organização de representação das populações que moram principalmente nas reservas extrativistas, me abriu muito os olhos também para isso.
Foi nesse contexto que eu tive contato com esses grupos de juventude que já se inspiravam na carta do meu pai. E aí eu fiz uma reflexão de que, se existia uma revolução a ser travada, a gente precisava dar todo o apoio e fortalecer a juventude para fazer essa revolução, dando as “armas” para essa juventude.
Foi aí que a gente pensou na criação do Núcleo Jovem e no projeto Jovens Protagonistas da Reserva Extrativista Chico Mendes. Começamos então a fortalecer a presença dos jovens. E são esses jovens que hoje conduzem muito bem o Festival Jovens do Futuro.
A 6ª edição acontece nos dias 5 e 6 de setembro, que é o marco dessa carta, e o festival representa essa revolução. Ele apresenta essa revolução em forma de arte, de expressão artística.
A gente tem também alguns debates sobre a questão climática, um painel sobre a COP 30, a presença de artistas nacionais e artistas locais com mensagens sobre a questão climática, mensagens políticas sobre o cenário climático que a gente vive hoje.
Essa galera é muito legal e entende que fervo também é luta, é uma forma de resistir. Não é só tristeza. A gente resiste por meio da arte e da cultura e, principalmente, por meio de uma educação.
Eu sempre faço questão de frisar isso. A gente tem um projeto ruim de uma educação voltada para perpetuar ciclos de exploração e de alienação. E a educação pública de qualidade é uma das saídas para o cenário que a gente vive hoje. A arte e a cultura se somam também.
Por que Chico Mendes conclamou o 6 de setembro de 2120 como essa data tão emblemática?
Eu acho que foi uma coisa assim: “hoje eu vou escrever essa carta e hoje foi o dia 6 de setembro”. Eu já tentei entender o porquê desse 2120. Mas acho que isso vem numa lógica de que é uma revolução que começa. Eu acho que é porque pula duas gerações depois dele. Mas a gente não entende exatamente. Eu particularmente não cheguei a entender.
Mas penso que esse lapso de anos é o tempo suficiente para virar algumas gerações para a gente fazer essa informação. Porque eu fico imaginando, quanto tempo a gente vai precisar, por exemplo, para transformar esse Congresso Nacional extremamente fascista num Congresso Nacional que de fato defende os interesses da população?
Um Congresso que não fique só do lado do interesse do agronegócio, do interesse das corporações internacionais que se instalam aqui no Brasil para violentar os povos e destruir a Amazônia.
Eu acho que é um tempo de um processo que, se Deus quiser, eu até posso não ver, mas eu espero que a minha neta veja, que a minha filha consiga ainda acompanhar de alguma forma todas essas transformações. Essas transformações não são lentas, mas levam um tempo para acontecerem, se consolidarem e se firmarem. Eu quero acreditar muito que seja isso.
Chico Mendes foi assassinado em 1988, momento em que, de certa forma, existia um “esperançar”, porque era o final da ditadura e o início da redemocratização do Brasil. E agora, como ele encararia os dias de hoje? Te parece que ele faria uma nova carta?
É tão difícil imaginar o que o meu pai pensaria. Eu só sei que ele estaria com o pensamento anos à nossa frente. Em 1980, ele foi capaz de conduzir processos e de pensar essa revolução. O cenário continua muito difícil. Os madeireiros, grileiros e fazendeiros, desde a década de 1970, são os principais inimigos da sociedade e dos trabalhadores.
E eu digo inimigos porque são pessoas que sempre usaram a violência para subjugar indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas, seringueiros, pescadores, que sempre sofreram e tiveram seus territórios violentados para atender aos interesses dos grandes latifundiários, especuladores imobiliários e grileiros.
O cenário continua tão difícil quanto após o mandato de quatro anos do governo Bolsonaro (PL), da extrema direita fascista, que induziu o Brasil a um retrocesso sem tamanho. A violência que a gente vê hoje e o ataque aos territórios foram muito potencializados. Mas o que nos anima é que, na mesma medida, muitos jovens estão se levantando contra isso e resistindo.
Quando destaco a presença da juventude no festival, é sobre isso que estamos falando, sobre o quanto a juventude está engajada e mobilizada para fazer esses enfrentamentos.
O que são as reservas extrativistas e como funciona a Reserva Extrativista Chico Mendes?
As reservas extrativistas são territórios de uso coletivo que foram criados para resguardar os modos de vida das populações que moravam ou moram na floresta. As migrações para a Amazônia, para além dos povos indígenas que já existiam aqui, que vieram sobretudo do Nordeste, conformaram essa população que passou a morar também na floresta.
Eles aprenderam muito com os indígenas a manejar e a se relacionar com essa floresta, em especial os castanheiros nordestinos que vieram para cá e começaram a explorar a castanha e a borracha para ter meios de sobreviver. De uma forma muito respeitosa, começaram a fazer uso desses recursos.
Mas essas pessoas, na década de 1970, começaram a ser expulsas e assassinadas, porque o governo militar da época fez uma grande campanha de ocupação da Amazônia, como se aqui não tivesse ninguém. Começou a chamar os pecuaristas, pequenos assentados do Sul e do Sudeste, que chegaram aqui desmatando tudo e expulsando esses seringueiros que já tinham desenvolvido essa relação com a Amazônia, com a floresta.
Wilson Pinheiro e o meu pai criaram um movimento para impedir mais desmatamentos da floresta. Eles entendiam que precisavam ter esse território reconhecido e protegido. Então, começou uma ampla campanha pela criação de reservas extrativistas.
É um modelo de reforma agrária específico para a Amazônia e que atendesse a realidade dessas pessoas que moravam na floresta da região amazônica. Esse modelo foi muito inspirado nos territórios indígenas.
Aí surge também a Aliança dos Povos da Floresta, que o meu pai e seus companheiros, e outras lideranças indígenas, criaram na década de 1980. Essa aliança tinha como foco se proteger mutuamente desses inimigos e tinha também uma agenda positiva, a criação de novos territórios.
Foi muito inspiradora essa aliança e a forma como os indígenas já tinham seus territórios reconhecidos naquela época para a criação das reservas, porque eles fizeram vários encontros para definir esse conceito de território.
É uma reforma agrária para a Amazônia, considerando a realidade e a forma de viver dessas populações. E foi uma batalha. Esse conceito foi consolidado no primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros, que aconteceu em 1985, em Brasília, reunindo os seringueiros de toda a Amazônia.
A partir daí eles começaram a lutar para viabilizar os primeiros decretos e esse formato. Meu pai foi assassinado em 1988 e não chegou a ver as reservas criadas, porque as primeiras reservas extrativistas foram criadas só em 1990.
Foram quatro reservas extrativistas: duas no Acre, uma em Rondônia e uma no Amapá. Agora temos cerca de 90 reservas extrativistas criadas, de gestão do governo federal ou dos governos estaduais.
São territórios muito importantes hoje quando você entra no debate sobre enfrentamento à crise climática também.
Só a Reserva Extrativista Chico Mendes protege quase 1 milhão de hectares de floresta e é a segunda maior do Brasil, localizada no Acre e distribuída em sete municípios da região mais desmatada e mais pressionada pelo gado do estado. Ela é cercada por fazendas e esses fazendeiros assediam moradores dentro da reserva, porque eles não têm mais onde desmatar. Querem desmatar dentro da reserva.
A gente teve, no mês de junho, um grande conflito, porque o ICMbio atuou e retirou uma grande quantidade de gado de dentro da reserva e isso despertou a ira de alguns políticos que, irregularmente e ilegalmente, mantinham gado dentro da reserva extrativista.
Fizeram um grande levante contra o ICMBio e contra lideranças que são contra a presença desse gado ilegal. Nas reservas é permitido criar uma certa quantidade de gado, porque já era cultural ter uma quantidade muito pequena de boi, como uma espécie de poupança, já que gado é um produto de alta rentabilidade.
Mas não era para se tornarem fazendeiros. Ou seja, eles têm um limite x para desmatar a floresta e, nesse limite, podem fazer a criação de gado. Mas as pessoas extrapolaram. Assediadas pelos fazendeiros, extrapolaram e saíram desse limite.
Precisamos entender o nosso papel nesse processo. Cada um de nós pode ser um Chico Mendes, se tivermos consciência e sensibilidade de entender que nossa vida é coletiva e a nossa luta precisa ser coletiva.
Se estivermos juntos, em aliança, vamos combater esses crimes, mas também avançar no enfrentamento a esse sistema capitalista, neoliberal e violento.
Conversa Bem Viver

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.
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