Há pouco mais de um ano, o Brasil perdeu José Francisco Borges, mais conhecido como J. Borges, considerado o maior xilogravurista do país. Nascido em Bezerros, no interior de Pernambuco, de onde nunca saiu, o mestre morreu no dia 26 de julho de 2024, aos 88 anos.
Para celebrar a memória do artista, seu neto Gustavo Borges, que segue os mesmos caminhos do avô, resgata, em entrevista ao Conversa Bem Viver, um pouco do legado do pernambucano.
“Meu avô conhecia muita gente importante, da política do Brasil inclusive, mas não perdia a simplicidade. Ele bebia com qualquer um, não importava o dinheiro que você tivesse no bolso, não importava a sua importância no mundo”, relembra Borges.
Com traços e cores marcantes, J. Borges foi reconhecido como patrimônio vivo de Pernambuco pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O mestre também colecionava outros prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural. Também foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos da Rocinha, durante o desfile de Carnaval do Rio de Janeiro, em 2018.
Gustavo Borges explica que a xilogravura é uma arte milenar e que seu avô fez história ao ajudar a aprimorar as técnicas. “A xilogravura é uma arte que foi se aprimorando. Meu avô recebeu o convite para sair e ir morar fora, porque o pessoal gostou muito da arte dele e o mercado também tinha abertura. Mas ele preferiu Bezerros, pois é uma cidade que ele amava muito”, conta.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato – O que é xilogravura?
Gustavo Borges – A xilogravura é uma arte milenar que ao tempo foi se aprimorando. Xilogravura vem do termo madeira para a impressão e é feita da seguinte forma: pega a madeira bruta em madeireiras, faz o desenho e faz o entalhe, utilizando goiaba, buril e uma faca de cozinha. São aquelas facas que temos na casa das nossas avós, bastante antigas.
Feito o entalhe, em seguida, vem a pintura. Foi justamente aí que meu avô mais ficou conhecido, porque ele aprimorou a técnica da arte de fazer a xilogravura colorida, que utiliza tinta gráfica e pincéis. Após a pintura, vem a impressão, uma das partes principais da xilogravura, que é quando a xilogravura vai ganhar forma na impressão do papel.
A impressão é como se fosse uma espécie de carimbo, onde a matriz, no caso, a madeira, tem que estar ao contrário. Nomes, números, etc, têm que estar ao contrário na madeira.
A impressão é feita com uma espécie de carrinho, que foi um dos materiais que o meu avô aprimorou, um carrinho feito de cano, uma espécie de prensa que prende o papel sobre a madeira.
Em seguida, fica a xilogravura, no caso, a impressão por completo, que leva de 10 a 12 dias para poder secar. Por conta da tinta, que é gráfica, acaba sendo bem demorado para secar.
Como era sua relação com o seu avô? O que o inspirava?
A relação com o meu avô sempre foi muito boa, pois, desde quando eu nasci e me entendo por gente, eu até brinco, eu convivi com ele. Até a morte.
Ele nunca foi do tipo de dizer “vem aqui para eu lhe ensinar”, mas só no fato de ele fazer acabou cativando eu e meus tios para ter curiosidade sobre o trabalho dele e principalmente seguir no ramo da xilogravura, dando continuidade a todo o legado dele.
Ele nasceu, viveu e morreu em Bezerros, uma cidade bem pequena do interior de Pernambuco. Ele recebeu o convite para sair e ir morar fora, porque o pessoal gostou muito da arte dele e o mercado também tinha abertura. Mas ele preferiu Bezerros, pois é uma cidade que ele amava muito.
Ele viajou por sete países e mais de 12 estados do Brasil e, para todo canto que ele foi, ele sempre levou o nome de Bezerros. Por se tratar de uma cidade do interior, às vezes o pessoal acha que não há muitas vivências para poder retratar na xilogravura. Acho que as inspirações dele, assim como as minhas e as de outros artistas, acaba sendo mais por imaginar. Mas, na verdade, acredito que 99% das obras dele retratam as vivências aqui na cidade, as viagens pelo Nordeste, trazendo bastante coisa do Nordeste.
As cores eram um elemento marcante nas obras dele?
No começo, ele usava cordéis, que são uns livrinhos que antigamente o pessoal usava muito como jornal. Não tinha rede social, não tinha acesso a nada digital, então eles faziam os cordéis para poder passar o tempo lendo.
Meu avô começou ilustrando as capas de cordéis, que, no caso, eram em preto e branco, ou de uma cor só, todo vermelho, todo preto, todo azul. Quando ele iniciou no meio da xilogravura, ele começou com a arte em preto e branco. Ele sempre teve gráfica e utilizava a mesma tinta que usava para a impressão da capa de cordel, a tinta gráfica.
É uma tinta bem densa. Com o passar do tempo, ele foi vendo que ficava bonito a xilogravura mais colorida, dando outra tonalidade. Essas tintas de gráfica só existem em cinco cores, as cores primárias: azul, amarelo, vermelho, branco e preto.
Com essas cinco cores, consegue-se fazer basicamente todas as todas as outras cores. Ele foi experimentando, começando aos poucos, até chegar aonde chegou com a xilogravura colorida. Hoje tem algumas xilogravuras em que o preto é bem pouco, mas antes era a cor mais tradicional da xilogravura.
Desde sempre te pareceu natural que você seria um herdeiro dessa arte?
Na verdade, quando eu era criança, pela paixão que eu tinha pelo futebol, eu nunca me imaginei tendo a xilogravura como uma profissão. No caso, sempre sonhei e sempre tive vontade de ser jogador de futebol.
Mas, com o passar do tempo, eu vi que as minhas habilidades não eram tão precisas, aí preferi a xilogravura, pois foi onde eu mais me destaquei. Acabei fazendo o que eu realmente amo, não por uma questão financeira, mas por realmente fazer o que eu gosto e o que me traz felicidade.
Eu também nunca pensei em sair de Bezerros, porque é uma cidade que eu gosto muito, por se tratar de uma cidade calma, com um clima bom. Não me vejo morando em outro lugar.
Quando eu cheguei ao ensino médio, com uns 15 ou 16 anos, já tinha noção de que o que eu gostava e o que eu deveria seguir era a xilogravura, pois não adiantava eu tentar outras coisas, se eu não estivesse fazendo o que eu gosto.
A xilogravura está, de alguma forma, ameaçada pelo avanço da tecnologia?
Eu nunca parei para pensar nisso, mas não tenho medo de acabar influenciando. Pode ser que aconteça, mas não se compara o sentimento colocado na obra de arte do próprio artista, que faz com o coração, ao de um computador. Por mais que a tecnologia esteja muito avançada, cada vez estão tendo mais coisas que espantam muita gente.
O pessoal fica assustado com esse avanço da tecnologia, mas acredito que, em relação à arte e ao artesanato, não influencia tanto, porque nada se compara às artes feitas pela mão do artista.
Você acredita que seu avô foi devidamente reconhecido pela sociedade brasileira?
O pessoal falava muito sobre a simplicidade dele. Meu avô conhecia muita gente importante, da política do Brasil inclusive, mas não perdia a simplicidade. Ele bebia com qualquer um, não importava o dinheiro que você tivesse no bolso, não importava a sua importância no mundo.
Porém, ele dizia também que, às vezes, batia aquela dúvida de não ser reconhecido. Mas acho que ele mostrou quem ele realmente era e teve um apoio legal, maior do que ele imaginava que merecia.
Foi homenageado em um desfile do Carnaval do Rio de Janeiro, por exemplo, algo que poderia parecer impossível. No mundo daqui, isso é uma coisa muito difícil de acontecer.
Conversa Bem Viver
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