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‘Até quem votou em Nunes é contra o despejo do Teatro de Contêiner’, diz ator da companhia em SP

Marcos Felipe fala sobre violência do despejo, apoio de artistas como Fernanda Montenegro e falta de diálogo público

Em meio a uma mobilização que já dura semanas, a Companhia Mungunzá de Teatro segue resistindo à tentativa de despejo do Teatro de Contêiner, na região central de São Paulo, onde o grupo atua há nove anos. Ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, o ator e produtor da companhia, Marcos Felipe, relatou a indignação com a postura da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e destacou o apoio inédito da sociedade civil ao espaço cultural.

“Até as pessoas que votam em Nunes ou no governador [Tarcísio de Freitas (Republicanos)] estão contra o despejo do Teatro de Contêiner”, afirma. “É quase único nesse momento político. Uma aglutinação suprapartidária dizendo: ‘Isso é um erro, não façam isso’”, completa.

Desde o fim do prazo dado pela prefeitura para a desocupação do terreno, uma área antes abandonada no coração da Cracolândia, a companhia mantém uma vigília no local. A gestão municipal alega que pretende implantar um programa habitacional na área, mas, segundo o ator, sequer apresentou um projeto.

“Não temos acesso ao projeto, à planta, a todos os mecanismos burocráticos que deveriam ser feitos para a construção de uma política pública. Estamos aguardando que a prefeitura nos mostre e nos chame para conversar, que era o que deveria acontecer desde o início”, diz.

Violència cultural

Para Marcos Felipe, o despejo representa uma violência contra a cultura popular. “É tudo tão violento… Você ser um artista da cidade de São Paulo que faz um trabalho importante, que está há nove anos atuando, fazendo às vezes o papel do poder público numa das áreas de maior vulnerabilidade social da América Latina. E você recebe uma carta de despejo, sem comunicação prévia, sem nenhum tipo de diálogo”, lamenta.

Segundo ele, a forma como a decisão foi comunicada, por meio de uma notificação extrajudicial enviada no fim de maio, escancara o desprezo da gestão municipal pelo diálogo democrático. “Se foi enviada uma ordem de despejo sem a comunicação prévia, ficamos temerosos, inclusive com a nossa integridade física, porque a violência vai escalando num nível que você fala: ‘Não é possível que o poder público está compactuando'”, relata.

Apoio de grandes artistas

A mobilização em defesa do espaço contou com o apoio de nomes históricos das artes cênicas, como Fernanda Montenegro e Antônio Fagundes. Para o integrante da Mungunzá, esse movimento amplia o alcance da resistência. “É importante que esses esses artistas se manifestem, senão ficamos numa resistência muito nichada, sem que a sociedade civil como um todo entenda os conflitos que estão se dando”, opina.

A companhia segue com uma programação intensa até 22 de dezembro, como forma de manter viva a ocupação cultural e de atrair novos públicos. “A cidade precisa ter tudo, mas não pode aniquilar esses teatros de calçada, que têm relação urbana, com o território, com as pessoas”, protesta.

O Teatro de Contêiner já abrigou mais de 4 mil ações culturais e sociais, além de iniciativas de apoio à população vulnerável durante a pandemia. Com estrutura feita por 11 contêineres, o espaço se tornou um polo cultural relevante na região, integrando comunidade, artistas e moradores de rua. “O território que forma esse teatro é uma comunhão humana”, define o ator, parafraseando o manifesto publicado por Montenegro.

Para ouvir e assistir

BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

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