Um dos princípios organizacionais mais importantes do Sistema Único de Saúde (SUS), a participação popular é também responsável por iniciativas que, muitas vezes, chegam a cumprir o papel do estado na garantia das políticas públicas. Um exemplo aconteceu na pandemia, quando iniciativas comunitárias se multiplicaram pelo país para garantir informações, cuidados, prevenção e segurança alimentar.
Algumas dessas redes já estavam em atividade antes da emergência sanitária e continuam a atuação nos territórios até hoje. Recentemente, a Coordenação de Cooperação Social da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reuniu algumas dessas experiências em um seminário que colocou em debate a relação direta entre saúde, justiça alimentar e agroecologia.
O evento Pesquisa Popular em Saúde, Justiça Alimentar e Agroecologia: caminhos para a construção de um diagnóstico territorial e participativo em territórios de favela, reuniu iniciativas de protagonismo popular na produção de conhecimento e na implementação de práticas de promoção à soberania alimentar e ao bem-estar.
Assista o encontro clicando aqui.
“É importante salientar que desenvolver pesquisa popular não é dar voz ou falar pela população, mas sim produzir pesquisa com as pessoas dos territórios”, afirma a pesquisadora Carolina Niemeyer, da Fiocruz, coordenadora do projeto que articulou o seminário.
O evento teve foco nas diversas desigualdades que prejudicam a garantia de soberania alimentar, com debate sobre questões de gênero, raça e classe. O protagonismo de mulheres negras nessa construção e o diálogo com as comunidades compuseram a espinha dorsal do encontro.
Em conversa com o podcast Repórter SUS, Niemeyer falou sobre as potencialidades da produção de conhecimento em consonância com os saberes dos territórios. “Quem tem a avaliação das questões que são importantes e relevantes e a análise sobre os desafios e as potências dos territórios é quem vive no território.”
A relevância dessa abordagem é ainda mais evidente quando se considera que a efetividade das políticas do SUS demanda compreensão e diálogo constante com as realidades locais. No seminário, essa conexão foi garantida com a presença de diversas organizações do Complexo da Penha, que fica na cidade do Rio de Janeiro.
Carolina Niemeyer conta que o seminário foi articulado em parceria com a organização Centro de Integração na Serra da Misericórdia, que desde 2011 atua como espaço agroecológico e de integração socioambiental e cultural na região.
“Esse projeto iniciou com a ideia de ser um seminário de trabalho para aprofundarmos temáticas que são muito caras à pesquisa, que envolvem o papel das mulheres pretas e periféricas na promoção da soberania e segurança alimentar do Brasil desde tempos imemoriais”, completa ela.