Clima

Acordo de Paris pode estar em risco com vitória de Donald Trump nos Estados Unidos

Maureen Santos, da Fundação Heinrich Böll no Brasil, lembra que acordo já havia sido garantido pelo governo Obama

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Marcha Mundial do Clima realizada nesta quinta-feira (9), em Brasília
Marcha Mundial do Clima realizada nesta quinta-feira (9), em Brasília - Reprodução

Cientistas e ambientalistas estão preocupados com os rumos do acordo do clima após a eleição de Donald Trump como novo presidente dos Estados Unidos. A preocupação que ronda a COP22 (Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas), que acontece no Marrocos, na cidade de Marrakesh, é um possível insucesso do Acordo de Paris, carta-compromisso lançada na COP 21 (que aconteceu em 2015) que visa reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) e manter o aumento da temperatura média global em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais.

Para que comece a vigorar, necessita da ratificação de pelo menos 55 países responsáveis por 55% das emissões de GEE. O secretário-geral da ONU, numa cerimônia em Nova York, no dia 22 de abril de 2016, abriu o período para assinatura oficial do acordo, pelos países signatários. Este período se estende até 21 de abril de 2017.. 

Durante sua campanha, Trump citou diversas vezes que não aceitará os acordos climáticos acertados entre os países nas Conferências dos últimos anos. O novo presidente americano chegou, inclusive, a colocar em xeque as análises sobre mudanças climáticas. 

Para Maureen Santos, coordenadora de Justiça socioambiental da Fundação Heinrich Böll no Brasil, no entanto, o acordo já foi ratificado pelo presidente Obama. “O governo Obama assegurou que esse acordo não pode ser revogado nos próximos quatro anos. Então, seria uma mudança possível caso o Trump se reelegesse e esse é um dado importante”, completa Maureen Santos. 

As ligações do Partido Republicano com empresas petrolíferas, porém, apontam para a não implementação do documento. “Os republicanos têm um apoio muito grande de empresas do petróleo, e [Trump] é de um partido cuja maioria de seus parlamentares se posicionou contra o Protocolo de Kyoto e, por isso, o Protocolo não passou”, explica Maureen.

Em entrevista ao site Opera Mundi, Nathan Hultman, diretor do Centro de Sustentabilidade Global da Universidade de Maryland e representante da instituição na COP22, também afirmou que ainda “há muitas incertezas em relação ao tipo de presidente que Trump escolherá ser”.

“Se ele escolher seguir em uma direção muito negativa, nós certamente sofreremos algumas implicações quanto aos nossos compromissos climáticos de longo prazo”, afirmou Hultman.

Marcha Mundial do Clima

Paralelamente à COP22, aconteceu nesta quinta-feira (9) no Brasil, mais especificamente em Brasília (DF), e em outros 100 países a Marcha Mundial do Clima.

Neste ano, além de pressionar os líderes mundiais para que se chegue a um acordo sobre os cronogramas de implementação do Acordo de Paris, a Marcha na capital brasileira denunciou o desmatamento no Distrito Federal e a recente aprovação pelo Congresso Nacional de um programa de estímulo às termelétricas de carvão (MP 735/16).

Maureen Santos destaca que “a Marcha é um instrumento importante para mostrar para a população, especialmente para os jovens, que são engajados nesse tema, que as pessoas estão trabalhando e preocupadas com isso”, disse.

Ela ressalta, no entanto, que é necessário politizar ainda mais o debate. “Porque não é apenas os países assumirem medidas para segurar a temperatura em até 2ºC ou 1,5ºC, mas quais são essas medidas, como elas dialogam com esse modelo que vem provocando a crise climática”, comenta.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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