Ocupações

Agressores ferem seis ocupantes de universidade no Paraná e são liberados pela PM

Estudantes identificaram um professor e alunos da instituição entre os agressores. UTFPR foi ocupada no dia 18

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Em uma gravação de vídeo, um dos policiais aponta para os objetivos e mostra para a câmera. "Filma aquelas facas", diz um dos agentes
Em uma gravação de vídeo, um dos policiais aponta para os objetivos e mostra para a câmera. "Filma aquelas facas", diz um dos agentes - CWB Contra Temer

Seis estudantes ocupantes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), do campus localizado no bairro Rebouças, ficaram feridos por após serem agredidos com socos, chutes e pontapés por um grupo de aproximadamente 15 pessoas, contrário à ocupação, na noite desta terça-feira (22). A agressão ocorreu no portão de acesso à instituição na Avenida Silva Jardim, por volta das 22h30, quando o grupo de estudantes que fazia a segurança do lado de fora se preparava para entrar na universidade.

Uma viatura da Polícia Militar, com dois agentes, estava parada no outro lado da rua no momento da chegada dos agressores. Mais policiais chegaram nos instantes seguintes, em três viaturas e uma moto. Um vídeo gravado por uma pessoa apoiadora da ocupação mostra o momento em que policiais militares fizeram revista nos agressores e apreenderam uma bolsa de pedras, facas, soco inglês, bombas caseiras e uma balaclava (espécie de máscara que cobre todo o rosto). Na gravação, um dos policiais aponta para os objetos: "Filma aquelas facas [...]. Infelizmente o pessoal não está sabendo se manifestar. O pessoal está querendo ir pra cima", diz um dos agentes.

Apesar do registro, em um primeiro contato com a assessoria de imprensa da Polícia Militar na manhã desta quarta-feira, por volta das 9h, a informação repassada foi de que não haviam sido encontradas ou apreendidas armas de nenhum tipo, e que "não houve ilícito, pois não chegou a haver confronto entre eles". Por isso, após a revista, os agressores foram liberados pela polícia e não chegaram a ser encaminhados para a delegacia.

Às 11h45, a assessoria da corporação passou uma nova versão: os objetos de fato foram apreendidos, mas não durante as revistas, e sim no chão, em frente ao portão. Nenhuma das pessoas revistadas teria assumido a posse das armas. Segundo a assessoria, os objetos foram enviados para o Serviço de Inteligência do 12º Batalhão, que deve averiguar a quem pertencem e qual seria o uso.

"Isso é uma ação ilegal, omissa. Eles tinham que ter, no mínimo, conduzido os agressores para ser lavrado um flagrante", garante o advogado Manuel Caleiro, do coletivo Direito para Todos e Todas, que presta apoio jurídico à ocupação. Ele relata ainda que a abordagem policial incorreu em prática racista, quando um dos agentes, ao pegar o RG de um dos ocupantes vítima de agressão, disse "E essa foto aqui? Você é feio demais".

A conduta policial foi questionada quando os agentes propuseram que a jovem agredida fosse levada até a delegacia para o registro do Boletim de Ocorrência na mesma viatura que os seus agressores.

Vinte minutos após o ocorrido, quando apenas uma viatura permanecia no local, o mesmo grupo voltou ao local e fez novas agressões. "Quando disquei para o 190 na segunda agressão, eles disseram que não viriam. 'Se quiserem registrar alguma agressão, vejam com os policiais que estão aí', me disseram", relata o advogado Manuel Caleiro. No entanto, a dupla de policiais que fazia a segurança do local já havia se recusado a intervir no momento anterior, alegando estarem em efetivo pequeno.

"Quando a gente viu que eles estavam na esquina, já começamos a gritar para que todos pudessem vir para a frente do portão, para que pudéssemos tentar barrar a galera que estava descendo. Então isso não foi uma coisa silenciosa, a gente tentando barrar todo mundo. A gente estava gritando para a polícia e demorou muito para que eles descessem", descreve outra jovem ocupante que viveu os momentos de tensão. Ela descreve que uma professora foi pedir ajuda aos policiais, mas eles demoraram a intervir.

Uma das jovens afirma que os policiais não permitiram o uso de câmeras: "pediram para desligar todo o tempo, mas no exato momento em que as pessoas começaram a pisar o pé para fora, eles próprios estavam tirando fotos das pessoas. Como é que num momento pode uma coisa, e no momento seguinte já não pode mais", questiona.

Boletim de Ocorrência

As seis pessoas feridas, sem gravidade, fizeram Boletim de Ocorrência e exame de Corpo de Delito no 8º Distrito Policial, no bairro Portão, em seguida ao ocorrido.

"Foi uma parada muito assustadora para a gente que estava ali só tentando proteger e garantir a integridade da galera ocupante, e eles vieram para o enfrentamento", relata uma estudante agredida. Foram identificados entre os agressores um professor e estudantes da instituição. O coletivo que ocupa a universidade ainda não divulgou informações sobre que tipo de medida deve buscar com relação ao caso.

Ocupação

Assim como outros aproximadamente 200 campi universitários ocupados no Brasil, a reivindicação dos estudantes ocupantes da UTFPR é pela retirada da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55 (anteriormente chamada de 241), que prevê o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, e contra a Medida Provisória para a reforma do Ensino Médio, ambas protagonizadas pelo governo de Michel Temer (PMDB), com apoio amplo no Congresso Nacional. Em Curitiba, vários campi da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão ocupados, assim como outros do interior do estado.

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