Indígenas

Em Curitiba, indígenas ocupam Distrito Sanitário e cobram políticas na área da saúde

As mais de 150 pessoas que estão no local são oriundos de aldeias de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Entre os problemas denunciados pelas lideranças está a retirada de carros que possibilitavam levar pacientes para consultas ou emergência médicas, falta de combustível em veículos que ainda estão nas comunidades e paralisação de obras de saneamento básico
Entre os problemas denunciados pelas lideranças está a retirada de carros que possibilitavam levar pacientes para consultas ou emergência médicas, falta de combustível em veículos que ainda estão nas comunidades e paralisação de obras de saneamento básico - Giorgia Prates

Indígenas das etnias Guarani, Terena e Tupi Guarani ocupam o prédio do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Litoral Sul, no Centro de Curitiba, desde a última quinta-feira (24). Segundo as lideranças, as mais de 150 pessoas que ocupam o local são oriundos de aldeias de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, estados de abrangência da atuação do DSEI Sul. A unidade faz parte dos 34 Distritos ligados à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), integrante do Ministério da Saúde (MS).

A liderança indígena Tupã Rendy explica que a mobilização é por melhores condições de saúde e saneamento. Entre os problemas listados por ela está a retirada de carros que possibilitavam levar pacientes para consultas ou emergência médicas, falta de combustível em veículos que ainda estão nas comunidades e paralisação de obras de saneamento básico.

“As comunidades estão com águas contaminadas, esgoto a céu aberto, banheiros caindo por falta de reforma, e eles [Sesai] não dão nenhuma assistência”, denuncia Tupã Rendy. Ela é da etnia Tupi Guarani, da Aldeia Piaçaguera, localizada em Peruíbe, Litoral Sul paulista, onde vivem cerca de 40 famílias.


Cacique Nambi tem 68 anos, vive na aldeia Djaykoaty, localizada em Miracatu, Vale do Ribeira/SP, onde moram 12 famílias Tupi Guarani (Foto: Giorgia Prates)

 

A mobilização é articulada por caciques e comunidades indígenas ligados à Comissão Ywyrupa e da Articulação dos Povos Indígenas (Arpin) Sudeste. “A gente não vai sair daqui enquanto não resolverem essa situação, porque as nossas crianças e nossos idosos estão sofrendo com isso”, aponta a indígena. A disposição do grupo é de permanecer em acampamento até que o MS dê respostas definitivas.

Segundo a liderança, por falta de abertura para o diálogo, as comunidades indígenas cobram a substituição da atual coordenação do DSEI Litoral Sul. “A gente quer uma pessoa que realmente tenha comprometimento com as comunidades indígenas, que nos ouça e que vá até as bases ver como a gente está”.

Piora das políticas de saúde indígena

“Desde o tempo que a Sesai assumiu, não fizeram nada nas comunidades. É um descaso”. O desabafo de Tupã Rendy é com relação à transferência da gerência da atenção à saúde indígena da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para a Sesai. A mudança passou a ocorrer a partir de outubro de 2010, com a criação da Secretaria.

“No fim a gente que passa por ruim, porque o ministro diz que o dinheiro foi enviado, mas na prática não chega até as comunidades”, referindo-se a Ricardo Barros, ministro da Saúde.

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde foi procurada, mas não respondeu aos pedidos de informação até o fechamento dessa matéria.


Awagwyrao Ruitxa, cacique da aldeia Tupi Guarani Porungawa Dju, de Peruíbe, Litoral Sul de São Paulo (Foto: Giorgia Prates)

 

Solidariedade entre ocupações

Estudantes que ocupavam os prédios do complexo da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) prestam apoio à ocupação indígena desde a quinta-feira. Na tarde de sábado (26), no momento em que desocupavam os prédios, representantes das aldeias foram até o pátio da Reitoria para falar sobre a realidade em que vivem e os motivos da mobilização.

Colchão e mantimentos das ocupações recém desfeitas foram enviados naquela mesma tarde para os indígenas acampados. A mobilização em apoio continua com a contribuição de estudantes, professores e outras pessoas apoiadoras.

Edição: José Eduardo Bernardes

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