Violência

Vereadoras de São Paulo relatam machismo e agressão na Câmara

Episódio ocorrido durante ocupação mostra cotidiano de opressões, segundo servidoras

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |
Isa Penna, assim como Juliana Cardoso e Sâmia Bonfim relatam episódios de machismo
Isa Penna, assim como Juliana Cardoso e Sâmia Bonfim relatam episódios de machismo - Reprodução/ Facebool

Vereadoras da Câmara Municipal de São Paulo relataram intimidações machistas e agressão de policiais militares durante o processo de ocupação do Plenário por estudantes, que se encerrou nesta sexta-feira (11).

Juliana Cardoso, do PT, Sâmia Bomfim e Isa Penna, do PSOL, contaram que sofreram ameaças enquanto auxiliavam os estudantes, que ocupavam o local para reivindicar o passe livre estudantil e para se posicionar contra o pacote de privatização do prefeito João Doria, do PSDB.

Cardoso chegou a ser agredida por dois policiais militares na manhã da última sexta. Os agentes pediram que ela se retirasse do Plenário por causa de uma orientação do presidente da Casa, o deputado Milton Leite (DEM).

Na quinta-feira, Leite proibiu a entrada de todos os servidores ao Plenário ocupado. Mesmo assim, vereadores homens continuavam tendo acesso ao espaço, enquanto as mulheres foram barradas. Cardoso relatou que, quando se recusou a sair, os PMs puxaram seu cabelo e retiraram a vereadora à força. "Acho que tem que ter o mínimo de democracia, para entrar e sair. A gente foi eleito e pode entrar em qualquer lugar deste espaço", declarou a vereadora.

Para Sâmia Bomfim, a agressão é uma mostra da intimidação diária e sistemática que ocorre na Casa contra as vereadoras mulheres e mais jovens. "Chegar nessa situação não é de uma hora para outra. Na verdade, isso é um acúmulo, um estopim de gritarem conosco, de não deixaram a gente falar no plenário e, no momento de conflito político como esse, isso acontece. É Absolutamente lamentável, mas também não é surpreendente" declarou.

Já a vereadora suplente Isa Penna (PSOL) afirma que existe um tratamento "de dois pesos e duas medidas" contra as mulheres na Câmara. "Nós aqui tivemos todos os dias alguma forma de ameaça e essa ameaça é muito sutil, muito velado, sempre nas entrelinhas; porque eles sabem fazer esse tipo de ameaça muito bem, mas, na verdade, o que aconteceu nesta Câmara Municipal desde que rolou a ocupação pelos movimentos sociais foi uma vergonha para a política brasileira. É uma representação daquilo que é mais carcomido, velho, misógino na política brasileira", criticou Penna. Em março deste ano, a vereadora relatou outro caso de agressão na Casa, em episódio que envolveu o vereador Camilo Cristófaro, do PSB.

O Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria do deputado Milton Leite que afirmou não ter ocorrido nenhum tipo de discriminação. "Não houve machismo. As duas vereadoras participaram e ajudaram no processo de negociação com os manifestantes no início da ocupação da Câmara Municipal de São Paulo, mas no final a Presidência da Casa entendeu que seria melhor concentrar os esforços para o diálogo na figura do vereador petista Eduardo Suplicy", relatou em nota.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo também em nota afirmou que irá apurar os fatos citados pela reportagem. "Além disso, a Corregedoria da PM está à disposição da vereadora para formalização de queixa sobre a postura dos policiais envolvidos para a devida apuração", concluiu.

 

Edição: Juliana Gonçalves