Risco

Febre amarela avança para a Baixada Santista, onde índice de vacinação é baixo

Um surto de febre amarela na Baixada Santista pode ter consequências graves para a população

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A Baixada tem a menor cobertura vacinal do estado: 36,8% da população imunizada
A Baixada tem a menor cobertura vacinal do estado: 36,8% da população imunizada - Eduardo Saraiva/A2IMG

Seguindo o corredor dos remanescentes de florestas no estado de São Paulo, o vírus da febre amarela começa a se espalhar pelos municípios da Baixada Santista depois de circular pela cobertura da Serra do Mar. Ontem, a prefeitura de Peruíbe, no litoral Sul do estado, confirmou a morte de dois macacos na mata do distrito de Guaraú, que fica na área da Estação Ecológica Jureia-Itatins. Há suspeitas, ainda não confirmadas, de que vírus causadores da doença tenham matado os animais.

A Secretaria Municipal da Saúde, que passou a reconhecer as áreas como de risco, vai vacinar as populações de Guaraú e de Barra do Una, além de manter a imunização em todos as unidades básicas de saúde até o dia 16 de março.

A circulação do vírus na região é a grande preocupação das autoridades. Ontem (5), em seminário realizado no complexo do Hospital das Clínicas, em São Paulo, integrantes do governo estadual afirmaram estudar estratégias para a imunização em áreas do litoral. O secretário estadual de Saúde, David Uip, chegou a destacar que “a Baixada Santista é complexa”, onde “há uma população flutuante de fim de semanas, feriado e férias”, o que requer uma “estratégia especial, que tem que ser particularizada”.

A Baixada tem a menor cobertura vacinal em todo o estado, com 36,8% da população imunizada. Segundo dados oficiais, no Vale do Paraíba e litoral norte, a cobertura é de 47,6%. No municípios do Grande ABC chega a 44,1%,, Na capital é de 62,1%.

A campanha de vacinação teve início, em 25 de janeiro, com a meta de imunizar pelo menos 1,5 milhão de pessoas mas, pelas contas do governo estadual, 466 mil pessoas foram vacinadas nos municípios que compõem a região da Baixada Santista.

Em Santos, a meta é imunizar 320 mil pessoas. Dados do Departamento de Vigilância em Saúde apontam que, em 1999 – quando houve outra campanha maciça na região - foram aplicadas 269.993 doses contra a febre amarela naquela cidade. De lá para cá, mais de 350 mil doses foram aplicadas. Com base nesses números, os gestores acreditam que a população santista já está imunizada contra a doença. Mesmo assim, continuarão vacinando os que ainda não estão protegidos.

No Guarujá, mais de 295 mil pessoas deveriam ser imunizadas, mas até agora só 120.542 receberam a vacina, o que corresponde a 40,85%  da população alvo. Os dois municípios, além de São Vicente, anunciaram que continuarão vacinando mesmo com o fim da campanha estadual, prorrogada até o próximo dia 16.

Um surto de febre amarela na Baixada Santista pode ter consequências graves para a população. A desigualdade em uma das regiões mais ricas do estado, com o maior porto da América Latina – o de Santos – e o polo petroquímico de Cubatão, se manifesta em tristes índices.

De acordo com dados da Fundação Seade e da Secretaria Estadual da Saúde, a região ocupa o primeiro no lugar no ranking estadual de mortalidade infantil e da ocorrência da sífilis congênita – uma doença medieval –, com taxa de 10,71 casos para mil nascidos vivos.

Para agravar o quadro, tem o menor índice de oferta de leitos do SUS: 0,9 por mil habitantes. Perde até para Registro, na região do Vale do Ribeira, considerada a mais pobre de São Paulo. E segundo o Índice Paulista de Responsabilidade Social, está na penúltima classificação de longevidade e na última de escolaridade – de novo perde para Registro.

Dados que devem preocupar o governador Geral Alckmin (PSDB), de olho no Palácio do Planalto. Seu governo é considerado por muitos negligente em relação à Baixada Santista e sua gestão é apontada como co-responsável pela retomada do febre amarela no estado. 

Edição: Rede Brasil Atual