Intolerância religiosa

Preconceito: vizinho de templo de Umbanda chama a polícia porque caiu água no quintal

Coordenadora do templo fala sobre ataques contra religiões afrobrasileiras

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Momento de oração (a esquerda Ya Ivonete e a direita Ya Márcia)
Momento de oração (a esquerda Ya Ivonete e a direita Ya Márcia) - Deka Carvalho

Liberdade de crença é um direito inviolável no Brasil, porém, as denúncias relacionadas à intolerância religiosa aumentaram. As religiões afro brasileiras são os principais alvos dos ataques, que incluem destruições de terreiros e violências físicas.  Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre de 2017, a cada 15 horas uma denúncia foi constatada.

Segundo a Constituição, a liberdade de crença é inviolável, todos têm direito à “livre exercício de cultos religiosos e tendo garantida a proteção aos seus locais de culto e às suas liturgias”. O código penal também trata deste assunto, é crime ofender alguém por motivos religiosos, assim como atrapalhar ou interromper rituais ou cultos. As penas podem vir em forma de multas ou detenções que vão de um mês a um ano.

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A Rádio Brasil de Fato teve acesso a uma entrevista com Yá Marcia, 48 anos, uma das coordenadoras do Templo de Umbanda Guerreiros de Ogun e Iansã, na Vila Ré, na zona Leste de São Paulo, que completa dois anos em junho.

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Burocraticamente o centro não enfrentou obstáculos para ser montado, entretanto o preconceito por parte de moradores da região é frequente. "Muitos ficam com uma cara de ponto de interrogação quando ouvem falar que a frente de um terreiro estão duas mulheres. Um vizinho que no começo frequentava a nossa casa, de repente parou de ir, nos denunciou na Lei do PSIU (Programa de Silêncio Urbano) e outro dia estávamos fazendo uma faxina e ele chamou a polícia, porque caiu um pouco de água no quintal dele."

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Nesse sentido Ya Márcia afirma que estas atitudes não são novidades. "A intolerância sempre existiu, porém nos dias de hoje, as pessoas não estão se preocupando em esconder seus sentimentos sejam eles bons, ou ruins. Em partes é bom, e em partes não é, porque essas atitudes acabam agredindo as pessoas, como é o caso da intolerância religiosa."

Ela destaca que a Umbanda não ataca nenhuma outra religião ou a fé das pessoas. Pelo contrário, a inclusão e o apoio à comunidade são pontos fundamentais no cotidiano do templo.

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"Em nossas casas, nos cultos que realizamos, existem várias pessoas de várias etnias e de várias crenças para quem nós prestamos trabalhos sociais  e nós visamos a união como um todo."

Edição: Juca Guimarães