Divergência

Parte da oposição a Maduro critica autoproclamação de Guaidó como presidente interino

Membros de partidos da oposição consideram que a decisão do líder da Assembleia Nacional em desacato é inconstitucional

Brasil de Fato | São Paulo |
Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional em desacato, se autodeclara presidente da Venezuela, com o apoio dos Estados Unidos
Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional em desacato, se autodeclara presidente da Venezuela, com o apoio dos Estados Unidos - Créditos: Yuri Cortez/AFP

Líderes da oposição ao governo de Nicolás Maduro criticaram a autoproclamação de Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional em desacato, como presidente interino da Venezuela, na última quarta-feira (23), em meio a uma série de manifestações pró e contra o governo de Maduro, recém-empossado.

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Alberto Franceschi, ex-deputado e ex-líder da organização de centro-direita Projeto Venezuela, um dos maiores representantes da oposição ao governo de Maduro, divulgou em suas redes sociais uma série de vídeos nos quais critica a atitude de Guaidó: “não é presidente nem do condomínio do seu prédio”, disse.

O político e empresário, que atualmente vive nos Estados Unidos, questiona a autodeclaração de Guaidó e afirma que para ser presidente, ele deveria ser juramentado pela Assembleia Nacional. A Assembleia Nacional do país está em desacato desde julho de 2017 por uma decisão do Tribunal Superior da Justiça.

O vice-presidente da Assembleia Nacional e dirigente do partido Ação Democrática (AD), Edgar Zambrano, afirmou que “não existe possibilidade certa de que, no momento atual, Juan Guaidó, presidente do parlamento, assuma as competências do Poder Executivo.

Segundo ele, a oposição deveria dialogar com os militares do país e mostrar que atuam de acordo com a Constituição e não “pegando um atalho” através de um golpe de Estado, informa o jornal El Ciudadano.

Na última quinta-feira (24), o Comandante da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, declarou considerar "grave" a auto-proclamação presidencial de Juan Guaidó. "Nós, que vivemos o golpe de 2002, pensamos que nunca mais íamos ver isso: uma pessoa levantando a mão e se auto-proclamando presidente", disse o ministro.

Também outros representantes da oposição explicitaram seu reconhecimento a Nicolás Maduro, como único representante do país, eleito democraticamente.

Claudio Fermín, presidente do partido Soluções para a Venezuela e ex-chefe da campanha de Henri Falcón, afirmou ao participar de um programa exibido pela Globovisión, que o momento é “aterrizar e não falsificar a realidade”.

Por sua vez, Eduardo Fernández, ex-líder do partido social-cristão Copei, quando consultado sobre a decisão de Guaidó, afirmou com ironia que “quem atende o telefone em Miraflores [sede do governo] é Nicolás Maduro”. Em uma entrevista concedida à teleSUR, o político afirmou que a oposição não soube aproveitar o momento das eleições presidenciais por falta de estratégia e candidatos. “Não tinha métodos para escolher o candidato, não tinha programas, nem estratégias ou organização para defender seus votos...bom, como chegar às eleições nessa circunstância?”, declarou.

Entenda

Juan Guaidó, presidente da Assembleia  Nacional em desacato, se autoproclamou na última quarta-feira (24) presidente interino da Venezuela. A autoproclamação de Guaidó foi considerada uma tentativa de golpe pelo presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, pelas Forças Armadas e pelo poder Judiciário do país.

A posição dos Estados Unidos e de outros países, como os que fazem parte do Grupo de Lima - alinhados ao governo de Trump - em reconhecer Guaidó como presidente interino produziu repercussões negativas.

Após o ocorrido, o governo de Maduro anunciou, também na quarta-feira (24), o rompimento das relações políticas e diplomáticas com o país norte-americano e deu o prazo de 72 horas para que os funcionários da embaixada dos Estados Unidos se retirassem do país.

Consultada pelo New York Times, Roberta S. Jacobson, funcionária do governo americano, criticou a decisão de Trump, que considera “insustentável”. "Eu não acho que o governo tenha pensado em todas as conseqüências de agir tão rapidamente em reconhecer Guaidó [como presidente]", afirmou.

Uma pesquisa realizada pela empresa Hinterlaces revelou que 81% dos venezuelanos afirmam não conhecer o deputado Juan Guaidó como presidente da República.

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Edição: Leonardo Fernandes