Fake news

Sem apresentar dados, Bolsonaro diz ao Congresso que economia "dá sinais de melhora"

Presidente enviou carta ao Congresso em que aponta prioridades do governo em diferentes áreas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Carta de Bolsonaro responsabiliza os governos do PT pelos problemas do país, embora o partido não ocupe o governo federal desde 2016
Carta de Bolsonaro responsabiliza os governos do PT pelos problemas do país, embora o partido não ocupe o governo federal desde 2016 - Heuler Andrey | AFP

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) enviou uma carta ao Congresso Nacional na última segunda-feira (4) em que descreve o panorama econômico do Brasil e sinaliza medidas que seu governo considera necessário implementar. Para além dos discursos, nenhuma medida concreta no âmbito econômico tem sido adotada pelo governo, que acaba de completar um mês.

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Diante da afirmação de que a economia do país está em recuperação, o Brasil de Fato fez uma busca por dados oficiais que pudessem respaldar ou não essa hipótese. Mas não há nenhuma informação disponível nos termos descritos por Bolsonaro.

Na apresentação da carta, o presidente da República afirma: "Os níveis de confiança melhoraram, a taxa de investimento parou de cair, os postos de trabalho voltaram a ser criados e a renda real das famílias começou a dar sinais de melhora". Porém, como afirmou a Agência Aos Fatos "o Ministério da Economia e o IBGE ainda não divulgaram dados de emprego para janeiro. O IBGE também não divulgou dados de renda das famílias e taxa de investimento para janeiro". Mesmo que os dados de janeiro sejam positivos, não seria possível atribuir essa suposta evolução à instauração do novo governo.

A economista Laura Carvalho afirmou em coluna na Folha de S.Paulo que o que é certo sobre o cenário econômico atual é que o Brasil continua passando pela "mais lenta recuperação da história das crises brasileiras, com baixíssima criação de empregos formais e frustrações sucessivas das expectativas de crescimento".

O IBGE divulgou recentemente dados sobre a desocupação em 2018. A taxa média passou de 12,7% em 2017 para 12,3% em 2018, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua). No entanto, esse crescimento foi estimulado pelo aumento dos empregos informais. Inclusive, segundo o IBGE, os indicadores de informalidade estão no "patamar mais alto da série histórica iniciada em 2012".

Houve redução de 0,4 ponto percentual na taxa média de desocupação na comparação 2017/2018, mas as 12,8 milhões de pessoas desocupadas em 2018 representam um aumento de 90,3% em relação a 2014 -- ano que com o ponto mais baixo da série, quando o número de desocupados foi de 6,7 milhões. Em 2015, ano que antecedeu ao golpe contra Dilma Rousseff (PT), a taxa média de desocupação de janeiro a dezembro foi estimada em 6,8% em 2015.

Carvalho ressalta que a mensagem de Bolsonaro ao Congresso reforça a "fake news mais danosa das últimas eleições": o nível de desemprego como consequência da corrupção. Na carta, o governo Bolsonaro afirma: "Treze milhões de desempregados! Isso foi resultado direto do maior esquema de corrupção do planeta, criado para custear um projeto de poder local e continental".

A economista propõe que sugere que o peso da corrupção na economia seja devidamente investigado: "quanto representa o custo total para os cofres públicos atribuído a atos de corrupção nas investigações em curso em relação ao déficit público ou à queda no PIB de 2015-2016?"

Em coluna publicada no Brasil de Fato, a economista Juliane Furno apresenta dados macroeconômicos para explicar que a crise econômica enfrentada pelo Brasil se aprofundou a partir do golpe de 2016. "A maior crise econômica que o Brasil já vivenciou – que iniciou em 2015 – é, em parte, responsabilidade da crise política que levou a presidenta Dilma a adotar o programa liberal dos candidatos derrotados. A outra -- e maior parte – se deve à política econômica aplicada pós-impeachment. Todos os dados apresentados aqui pioram somente a partir desse período. Ou seja, quem aprofundou essa crise foi o mesmo projeto liberal, privatista e antipovo que hoje é radicalmente reafirmado pelo assessor econômico do candidato Jair Bolsonaro".

Edição: Mauro Ramos