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Militância

Dirigente do MST transmite recado de Lula: “Está na hora de debater olho no olho”

João Paulo Rodrigues e Moisés Selerges, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, visitaram o petista nesta quinta (28)

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Dirigentes do MST [esq.] e do sindicato [dir.] em frente à PF, em Curitiba
Dirigentes do MST [esq.] e do sindicato [dir.] em frente à PF, em Curitiba - Ricardo Stuckert

João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Moisés Selerges, dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, visitaram o ex-presidente Lula (PT) na tarde desta quinta-feira (28) em Curitiba (PR). O petista está preso há 356 dias e, na próxima semana, completa um ano de reclusão na Superintendência da Polícia Federal (PF), no bairro Santa Cândida.

Depois de conversar com a militância na Vigília Lula Livre, Rodrigues e Selerges concederam uma entrevista exclusiva ao Brasil de Fato sobre a conjuntura política e o estado de ânimo de Lula.

Confira os melhores momentos:

Brasil de Fato: João Paulo, como está o ânimo do ex-presidente, e como ele está interpretando a atual conjuntura?

João Paulo Rodrigues: Todo mundo que vem aqui volta com o mesmo discurso: encontrei um homem super bem, animado, e é verdade. É impressionante encontrar um homem que está há um ano preso, em uma celinha tão pequena, numa situação adversa, mas com uma dignidade e um conhecimento da atual realidade do Brasil tão grande.

Lula tem informação sobre tudo o que está acontecendo no Brasil, tem lido muito, e ao mesmo tempo está muito sintonizado nos detalhes. Ele fez algumas perguntas que me chamaram a atenção.

Primeiro, ele perguntou: Como é que está a base de vocês, sob governo Bolsonaro? Já houve ataque? Depois, ele quis saber: Como é que está a unidade da esquerda? Como é que está a disponibilidade do povo?

Essas duas perguntas me chamaram a atenção, até para entender como o presidente está lidando com essas situações. Parece que foi uma eternidade, mas foi só uma hora [de visita].

O ataque à Previdência também é um ataque à soberania

Lula chamou a atenção para debatermos alguns assuntos com a nossa militância, mas o principal é o trabalho de base. Não podemos ficar só na internet, nas redes sociais. É necessário o olho no olho. Precisamos discutir com o povo, na rua, e ouvir.

A segunda questão que ele insistiu muito é que este é o melhor momento que a esquerda tem para fazer o debate com o lado de lá. Porque eles estão desgovernados. Nós temos que pegar o tema da educação, da Previdência, e explicar ao povo, sem “lero-lero”. Agora é hora de todos nós, juntos, falarmos o mesmo discurso e fazermos o enfrentamento.

Por fim, Lula falou muito sobre a soberania nacional e os estragos que esse governo está falando. Ele chegou a dizer: no dia em que os Estados Unidos estiverem no Maranhão, na Base de Alcântara, nenhum brasileiro vai poder chegar perto.

Ele também chamou a atenção que a reforma da Previdência é um ataque à soberania, porque quem vai tomar conta é o capital internacional. Lula também está preocupado com o petróleo, com os recursos naturais, e com tudo que envolve soberania.

Ou seja, o presidente está firme, com a alma boa, o corpo em dia, fazendo exercícios, e está preocupado com o Brasil. Ele diz que está em uma situação muito difícil, mas que o povo brasileiro está em uma situação tão difícil quanto a dele.

Moisés, você e o Lula vêm da mesma base, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Que diferença você percebe entre o Lula de antes e aquele que está preso, 356 dias depois?

Moisés Selerges: Ele tem informação sobre tudo que acontece, tem clareza do que está acontecendo com o país. Então, o cárcere não fez ele perder essa visão. Nisso, não notei diferença. Sinto até que ele está fazendo uma análise correta e melhor em relação à conjuntura que estamos vivendo.

Ele não perdeu a indignação. Ele é inocente, está preso há 356 dias, e sabe por que está preso. O crime que ele cometeu foi fazer o que ele fez para os mais pobres desse país.

Isso, ele sempre fala: eu estou preso porque o pobre começou a andar de avião, chegou energia elétrica onde não tinha… vários programas sociais que a elite nunca engoliu.

Achei muito interessante quando ele disse que, na hora em que o povo estiver discutindo no boteco, na roça, na igreja, a prisão dele, aí ele sai. Isso ficou muito claro, da parte dele.

A jornada de lutas de 7 a 10 de abril, em referência ao aniversário de um ano da prisão do Lula, pode ser uma oportunidade para colocarmos esses temas na rua?

João Paulo Rodrigues: Houve alguns fatos vão fazer com que essa jornada ganhe um corpo maior. Primeiro, a consolidação do Comitê Lula Livre, com a plenária que aconteceu em São Paulo. Estão todos muito envolvidos na organização dessas atividades.

O segundo ponto é que o debate se tornou popular, depois da prisão do próprio ex-presidente Michel Temer, por exemplo, da forma como foi feita, e depois da tal fundação do [Deltan] Dallagnol para administrar dinheiro da Petrobras…

Tudo isso me faz dizer que o dia 7 será um momento de manifestação importante.

O fato é que o Lula tem que ser solto porque foi o melhor presidente, porque é o maior representante da esquerda, e porque o que houve no processo dele é um acinte à democracia e ao Estado de direito.

Um dos principais efeitos do golpe que o Brasil enfrenta é o ataque aos sindicatos. Como vocês sentem esse processo no governo Bolsonaro?

Moisés Selerges: Um dos principais ataques no governo Temer foi a reforma trabalhista, que a elite dizia que iria gerar mais empregos. Hoje, são mais de 12 milhões de desempregados.

No governo Bolsonaro, o que eles querem é quebrar financeiramente os sindicatos, dizendo que a mensalidade tem que ser paga via boleto. O Lula falou sobre isso, e nós concordamos com ele: os trabalhadores é que têm que decidir sobre a forma de financiamento dos sindicatos. Não deve ser o patrão e nem o Estado.

Esse tipo de ataque já vinha com o governo Temer, mas nós vamos para o enfrentamento com esse governo. Porque a organização dos sindicatos também está ligada à luta pela soberania, e essa luta só tem a crescer.

João Paulo, você gostaria de acrescentar algo sobre a visita de hoje?

João Paulo Rodrigues: Obrigado pela oportunidade. Gostaria de acrescentar que o Lula está lendo muito sobre o período da escravatura no Brasil e também sobre a Revolução Russa. Ele diz que ela foi importante não só para os russos, mas para o mundo, porque obrigou a social-democracia a se virar, com medo do que vinha pela frente. Então, fica o recado do presidente.

 

 

Edição: Daniel Giovanaz