EUROPA

Como fica o Brexit após a renúncia de Theresa May?

Favorito para suceder May é o ex-chanceler Boris Johnson, rosto oficial da campanha do Brexit em 2016

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
May anunciou sua renúncia nesta sexta-feira (24) durante discurso
May anunciou sua renúncia nesta sexta-feira (24) durante discurso - Foto: Tolga Akmen/AFP

Após o fracasso em conduzir um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) e o recrudescimento de pressões vindas tanto de correligionários quanto de opositores, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou que irá deixar o cargo em 7 de junho. A decisão foi divulgada nesta sexta-feira (24).

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A premiê ocupa o posto desde julho de 2016, cerca de um mês depois dos britânicos decidirem, por meio de um referendo, que deixariam o bloco europeu.

Após os termos do acordo para o Brexit -- abreviação de “british exit”, ou “saída britânica” -- serem definidos junto à UE, May tentou aprovar o pacto no Parlamento britânico por três vezes, todas sem sucesso. Uma quarta tentativa deveria ocorrer em junho. 

Veja os principais motivos que levaram à renúncia de May e o que pode acontecer agora. 

Por que May renunciou? 

Os desgastes gerados por todo o processo de separação entre o Reino Unido e a UE ficaram evidentes no início de maio, quando foram divulgados os resultados das eleições locais. 

Na ocasião, partidos como Democrata-Liberal e Change UK, que defendem a permanência do Reino Unido na UE, tiveram um grande crescimento. O resultado do pleito representou uma grande derrota ao Partido Conservador, de May, que perdeu mais de 1.300 assentos e o controle de quase 40 governos. 

Um desastre para os conservadores nas eleições europeias, que ocorrem entre esta quinta-feira (23) e domingo (26), também é esperado. Segundo uma pesquisa, o partido mais bem colocado do Reino Unido será o nacionalista Partido do Brexit. Na sequência estão Liberal-Democrata e Partido Trabalhista. O Partido Conservador aparece em quinto lugar, com somente 7% das intenções de voto.

As três tentativas frustradas de aprovar um acordo para o Brexit no Parlamento britânico levaram a premiê a ter que estender, por duas vezes, o prazo final para sair da UE, o que não agradou os membros de seu partido e a oposição. Inicialmente, o divórcio deveria ocorrer em 29 de março, mas a data foi adiada para 12 de maio e, posteriormente, para 31 de outubro. 

May quase se viu obrigada a deixar o cargo em dezembro de 2018 e janeiro deste ano, quando foi alvo de duas moções de desconfiança, uma delas, movida por membros de seu próprio partido. A segunda moção foi movida pelo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn. May renunciou no momento em que as pressões para que abandonasse o cargo chegaram em seu ponto mais alto.

May já tem um substituto?

Ainda não é possível dizer quem irá substituir May, mas o ex-chanceler Boris Johnson, rosto oficial da campanha do Brexit em 2016, já desponta como favorito. Para isso, no entanto, Johnson deverá se articular politicamente para garantir que seu nome esteja em uma lista dupla, que, posteriormente, será submetida ao voto de seus correligionários. 

Analistas afirmam que, caso ele figure a lista, é quase certo que se torne o próximo primeiro-ministro do Reino Unido. Johnson deverá enfrentar ainda outros adversários fortes, entre eles, Sajid Javid, secretário do Interior; Amber Rudd, do Trabalho, e Jeremy Hunt, das Relações Exteriores. 

Johnson é a favor de uma saída não negociada, o chamado no deal, ao mesmo tempo que defende a criação de um novo pacto de livre comércio com a UE. Caso seja escolhido, e opte por levar um novo pacto ao Parlamento britânico, deverá primeiro convencer Bruxelas, sede do Conselho Europeu, a aprovar um acordo diferente do que foi negociado por May, o que não será uma tarefa fácil. 

Há a possibilidade não haver Brexit?

Ainda é cedo para dizer se o Brexit acontecerá ou não. Existem ao menos três possibilidades mais fortes sobre a mesa. A primeira é a de que o novo premiê, quem quer que seja, consiga angariar votos o suficiente para aprovar um acordo de divórcio no Parlamento britânico. 

Também é possível que ocorra uma saída sem acordo. Nesse caso, o Reino Unido cortaria os laços com a UE de um dia para o outro, o que poderia ser catastrófico para a economia britânica, já que há grande integração econômica entre os membros do bloco. 

Por fim, também é possível que o Parlamento decida chamar um novo referendo para consultar a população a respeito do Brexit. Nesse caso, os britânicos poderiam decidir permanecer na UE.

Quais os principais desafios do sucessor de May?

O próximo premiê britânico enfrentará uma série de dificuldades para dar prosseguimento ao Brexit, tendo que lidar com um Conselho Europeu cada vez mais fechado para a possibilidade de renegociar os termos da separação.

Sendo assim, é possível que o novo primeiro-ministro tenha que levar o mesmo acordo de May para votação em um Parlamento britânico bastante polarizado.

Um dos principais pontos de conflito a respeito da aprovação do pacto tem relação com o possível fechamento da fronteira entre a Irlanda do Norte (que faz parte do Reino Unido) e a República da Irlanda (país independente, membro da União Europeia). 

A ausência de fronteira entre os dois territórios é um dos principais arranjos do acordo de paz de 1998, que encerrou os conflitos entre defensores de um único território irlandês integrado à Grã Bretanha e defensores da República da Irlanda como Estado independente.

Edição: Aline Carrijo