PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

Governo britânico assina o pedido de extradição de Julian Assange para os EUA

O fundador do Wikileaks é acusado de conspirar para invadir computadores de instituições públicas estadunidenses

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Fundador do WikiLeaks é mantido na prisão de Belmarsh desde abril deste ano; processo de extradição pode durar anos
Fundador do WikiLeaks é mantido na prisão de Belmarsh desde abril deste ano; processo de extradição pode durar anos - Daniel Leal-Oivas / AFP

O ministro do Interior britânico, Sajid Javid, anunciou nesta quinta-feira (13) que assinou o pedido emitido pelo Departamento de Justiça dos EUA para a extradição de Julian Assange.

"Há um pedido de extradição dos Estados Unidos que será levado ao tribunal amanhã, mas ontem assinei a ordem de extradição", declarou o ministro ao Today Programme, programa de rádio da BBC.                   

A decisão do ministro britânico abre caminho para que o tribunal entregue o fundador do Wikileaks para os EUA. Assange enfrenta uma acusação de 18 crimes emitida pelo Departamento de Justiça estadunidense, uma delas por conspirar para invadir computadores de instituições públicas estadunidenses.

Caso seja declarado culpado e extraditado para os EUA, Assange poderia receber uma pena de até 175 anos na prisão.                                           

:: Como as 18 acusações dos EUA contra Assange ferem a Constituição e ameaçam a imprensa ::

Durante o mês de maio, o jornalista australiano deveria ter se apresentado ao Tribunal Supremo de Justiça britânico, mas a audiência foi adiada para esta sexta-feira (14) devido às condições de saúde de Assange.

Ele está preso desde o dia 11 de abril e cumpre uma sentença de 50 semanas de prisão, após ter passado sete anos na embaixada do Equador em Londres para evitar uma extradição à Suécia, onde era acusado pelos crimes de estupro e abuso sexual, com mandado internacional de prisão. O processo na Suécia que motivou a prisão inicial do ativista foi arquivado em 2017 e retomado pela promotoria sueca em maio deste ano.

Extradição aos EUA

O australiano Julian Assange ficou mundialmente conhecido em 2010, quando através da plataforma Wikileaks, divulgou para o mundo material secreto do exército estadunidense exibindo abusos cometidos pelas tropas do país nas invasões do Afeganistão e do Iraque. No total, 500 mil documentos confidenciais sobre o Iraque e o Afeganistão, assim como 250 mil comunicações diplomáticas.

Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal de São Paulo (UFABC) e estudioso das relações entre comunicação e tecnologia, sociedades de controle e privacidade, considera que Assange é vítima de uma farsa. "Ele está sendo preso porque dissemina documentos que comprovam atos – principalmente dos EUA – contra os direitos humanos, crimes de guerra, ingerências dos Estados Unidos em um conjunto de países, inclusive o Brasil", argumenta em entrevista ao Brasil de Fato.

Na imprensa internacional, se prevê que o debate legal sobre a extradição pode durar anos. Alguns casos juridicamente similares, como o do suspeito de terrorismo Babar Ahmad, demoraram quase cinco anos para serem encerrados. O muçulmano britânico de origem paquistanesa foi detido em 2008 no Reino Unido e extraditado para os EUA em 2012.

"O mundo inteiro sabe que isso é uma farsa, o que mais me preocupa é isso. Uma pessoa como ele está presa, enquanto temos criminosos dirigindo países", completa Amadeu, que teme pela sobrevivência do WikiLeaks, o que considera ser uma tarefa da sociedade democrática. "No fundo, [o que o WikiLeaks faz], é democrático. É jogar luz sobre o poder oculto, as artimanhas, a tecnologia que os EUA utilizam, combinando hard power, soft power, smart power, derrubada de governos e ação de perseguição via poder judiciário, tudo para manter sua estrutura de poder", explica o sociólogo.

Edição: Luiza Mançano