AMÉRICA LATINA

Argentina se prepara para eleição presidencial; entenda panorama político

Primeiro turno acontecerá em 27 de outubro; debate em torno de economia e legalização do aborto devem dominar país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Segundo pesquisa, chapa Frente de Todos, composta por Fernández e Cristina tem 45% das intenções de voto
Segundo pesquisa, chapa Frente de Todos, composta por Fernández e Cristina tem 45% das intenções de voto - Foto: Alejandro Pagni/AFP

Ocorrerá, em 27 de outubro, o primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina. Nove chapas se inscreveram para concorrer às primárias, marcadas para 11 de agosto. O pleito já é marcado por reviravoltas envolvendo uma das principais candidaturas e por discussões em torno da grave crise econômica que atingiu o país em cheio desde que Mauricio Macri assumiu, em dezembro de 2015, o posto mais alto da nação. 

As primeiras pesquisas de intenção de voto dão conta de uma disputa apertada que poderá ser resolvida somente em segundo turno. Confira os principais fatos da corrida presidencial. 

Eleições primárias

À 0h do último dia 23 se esgotou o prazo para a inscrição das chapas, formadas por candidato à presidência e vice. O período marca o início da campanha para as eleições primárias, obrigatórias na Argentina. Nesta fase, partidos e alianças podem apresentar mais de uma chapa para concorrer ao pleito. 

No Brasil, as primárias acontecem de forma interna. Filiados de cada partido votam para decidir quem será o representante na eleição. Na Argentina, no entanto, o eleitorado é quem decide qual dupla de representantes, entre as apresentadas por cada aliança, irá concorrer. A disputa funciona como uma eleição comum, onde as chapas mais votadas conquistam o direito de participar do pleito.

Nas eleições deste ano nenhuma das nove alianças apresentou mais de uma chapa. Dessa forma, assim como em 2015, o pleito não terá uma grande função. 

As eleições primárias irão ocorrer no dia 11 de agosto e funcionarão como um filtro: concorrentes que conquistarem menos de 1,5% dos votos não poderão participar da eleição. Além disso, a disputa dará uma boa ideia sobre o resultado do primeiro turno.

Principais candidatos

As primeiras pesquisas de intenção de voto mostram um cenário bastante polarizado na Argentina. Segundo pesquisa do instituto Isonomia, a chapa Frente de Todos, composta por Alberto Fernández e sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, está em primeiro lugar com 45% das intenções de voto. 

Em segundo lugar, com 43%, aparece o governista Juntos pela Mudança, do atual presidente, Mauricio Macri, e Miguel Pichetto. Outras pesquisas variam entre 35% e 43% para Fernández e 32 e 35% para Macri. 

De acordo com o sistema eleitoral Argentino, vence a corrida no primeiro turno quem conquistar 45% dos votos ou 40%, caso haja uma diferença de de ao menos 10% com relação ao segundo colocado.

Além de Macri e Fernández, há ainda a chamada “terceira via”, chapa formada por Roberto Lavagna e Juan Manuel Urtubey. A aliança ainda não alcançou 2 dígitos em nenhuma das pesquisas. 

Dos seis membros das três chapas mais bem colocadas, cinco são peronistas. Macri é a exceção. Embora esse dado passe a impressão de que há uma conformidade entre as tendências políticas, o peronismo se divide entre diversas ramificações, indo da direita à esquerda do espectro político e gerando confusão mesmo entre os argentinos. 

Surpresas

Até agora, a maior surpresa da corrida presidencial foi a decisão de Cristina Kirchner de concorrer à vice. A ex-presidente era a favorita para vencer o pleito. A senadora concorrerá em uma chapa com Alberto Fernández, ex-chefe de gabinete durante o mandato de Néstor Kirchner e, durante um ano, do governo da própria Cristina. 

O anúncio inesperado gerou surpresa em toda a classe política. A estratégia tem como objetivo diminuir a polarização que começa a ganhar força no país. A ex-presidente não escondeu o fato de que ela e Fernández tiveram diferenças no passado, mas defendeu que elas já foram superadas. 

Miguel Pichetto, um peronista pró-aborto, também foi escolhido como vice de Macri para apaziguar o clima de polarização. Hoje senador, Pichetto chegou a criticar o mandatário publicamente após o Senado barrar a aprovação da lei sobre interrupção voluntária da gravidez. O candidato à vice disse que o presidente não se colocou à frente do debate como poderia. 

Temas dominantes

As discussões em torno da economia argentina devem dominar a corrida eleitoral. Isso porque o país passa por sua maior crise desde que declarou moratória às vésperas do natal de 2001. 

O próximo mandatário terá que lidar com a crescente desvalorização da moeda nacional frente ao dólar e com uma inflação que fechou 2018 em 47,6%, o maior índice dos últimos 27 anos. 

O endividamento público do país também é um problema, tendo a Argentina inclusive recorrido a um empréstimo de US$ 57,1 bilhões junto ao Fundo Monetário Internacional. Especialistas já afirmam que o país pode ter que declarar moratória novamente.

Outro tema que pode dominar os debates é justamente o da legalização do aborto, pauta que paralisou o país em 2018, quando um projeto de legalização passou pela câmara e foi rejeitado pelo Senado. A aprovação da lei foi amplamente defendida por Cristina.

Do outro lado, analistas entendem que parte dos motivos que levaram Macri a escolher um político pró-aborto como vice tem como objetivo desviar as discussões em torno da economia, campo que fragiliza sua candidatura, e levar o debate para o tema da legalização do aborto.

Congresso

Além das eleições presidenciais, os argentinos irão renovar parcialmente a composição do Congresso, casa em que os governistas não contam com maioria. O pleito irá preencher 130 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 no Senado. 

Também estão programadas eleições provinciais em Buenos Aires, Catamarca e La Rioja, além de disputas para eleger prefeito e legisladores locais da capital do país.

Edição: Rodrigo Chagas