Paraná

ANO NOVO

Lideranças políticas  apontam 2020 como ano de organização e resistência 

Ataques aos direitos e destruição de conquistas importantes marcaram as lutas dos movimentos sociais  em 2019

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

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Brasil de Fato Paraná entrevistou lideranças e representantes de diferentes lutas sociais para avaliar 2019 e projetar as lutas para 2020
Brasil de Fato Paraná entrevistou lideranças e representantes de diferentes lutas sociais para avaliar 2019 e projetar as lutas para 2020 - Gibran Mendes

2019 foi marcado por momentos difíceis, repleto de lutas em todos os segmentos da sociedade. Mas também foi um ano de fortalecimento das resistências, com avanços na organização dos movimentos sociais e, principalmente, no enfrentamento ao novo governo, de Jair Bolsonaro, que estabeleceu uma agenda de ataques aos movimentos sociais e retirada de direitos.   

O Brasil de Fato Paraná entrevistou lideranças e representantes de diferentes lutas sociais para avaliar como foi o ano de 2019 e projetar perspectivas para 2020. Confira: 

Sindicalismo

Marcio Kieller, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Paraná

(Foto: Giorgia Prates)

“Existe um projeto da elite muito claro sendo aplicado, de viés classista, com a retirada de direitos dos trabalhadores. Destaco a Reforma Trabalhista, que teve a retirada de mais de 200 itens de direitos dos trabalhadores. Fizeram a propaganda que a Reforma geraria mais empregos, mas isso não aconteceu. Por isso, para 2020, é importante saber que, para mudar a atual conjuntura, é preciso que tenhamos clareza da plataforma da classe trabalhadora, discutindo o espaço do trabalhador como cidadão e participativo nas suas cidades”.

Lutas Unificadas

Fernanda Maria Caldeira, Levante Popular da Juventude

(Foto: arquivo pessoal)

“O jovem tem perdido o sonho de entrar na Universidade, pelas condições de ter que entrar no mercado de trabalho antes. Existem, por outro lado, muitas dificuldades para conseguir emprego e estabilidade. Por isso, destaco nossas lutas pela educação, que levaram muitos jovens para rua para lutar, por exemplo, contra o projeto do atual governo, o Future-se, de privatizar a universidade pública, de falta de autonomia, além do corte de gastos na educação superior. Para 2020, seguiremos na batalha das ideias, na disputa de narrativas e quebrar a hegemonia da mídia, que vai muito contra a juventude".

População negra

Juliana Mittelbach, Rede de Mulheres Negras  

(Foto: Giorgia Prates)

“2019 marcou o movimento negro com a luta por sua sobrevivência. A nossa resistência foi diferente, não só pela luta por direitos, mas precisamos, já no início de ano, começar com um enfrentamento muito duro. Foi quando tivemos o decreto da flexibilização da posse de armas: sabemos que os principais alvos são os negros. Inclusive, o Atlas da Violência de 2019 revelou o perfil principal das vítimas dos homicídios no Brasil: são negros, jovens, população LGBT e as mulheres. Os direitos humanos foram sendo ceifados neste atual governo. Acho muito importante que estejamos nas ruas, debatendo com a sociedade sobre a luta antirracista, e denunciar o que vem acontecendo. Ano que vem é ano eleitoral, precisamos estar atentos aos programas apresentados, e que realmente nos representem".

Lula inocente

Sandra dos Santos, coordenação da Vigília Lula Livre  

(Foto: Giorgia Prates)

“A Vigília Lula Livre foi um movimento de resistência que fortaleceu a luta pela liberdade do ex-presidente Lula. Um espaço criado no primeiro dia da prisão injusta de Lula e permaneceu até o último dia. Todos companheiros e companheiras de vários movimentos que integraram a coordenação avaliam que foi um marco muito importante para a história política do Paraná, pelo que a Região Sul representa. Uma região marcada pelo conservadorismo teve seu contraponto com a Vigília, que mostrou para a sociedade que ali estava acontecendo uma prisão injusta e o desrespeito à Constituição. Para 2020, a luta continua com a defesa da inocência de Lula".

LGBTI

Marcio Marins, representante das lutas LGBTI  

(Foto: Giorgia Prates)

“Nós, do movimento LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais), ao longo das últimas décadas, tivemos conquistas importantes, como a criação, no governo Lula, da Coordenação Nacional LGBTI para tratar de políticas públicas, a realização das Conferências para pessoas LGBTI, além da retificação do nome civil e a criminalização da homofobia. Mas, agora, estamos enfrentando um governo que vem destruindo tudo o que conquistamos, com o esfacelamento da Secretaria Especial de Direitos Humanos. Vivenciamos também retrocesso na área da Saúde, com a retirada de um programa de combate à AIDS, que já foi referência mundial. Para 2020, acredito que é hora de olhar para dentro dos movimentos, conseguir encher os pulmões com oxigênio para ir à luta com mais vigor e manter forte nossa resistência".

Terra

José Damasceno, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-PR)

(Foto: arquivo pessoal)

“Terminamos o ano com nove áreas despejadas com violência pelo Governo Ratinho Júnior. Isto é, destruição de terras e comunidades de mais de 10 anos organizadas. Esperamos que, em 2020, a violência não seja o instrumento para resolver as questões do campo. Por outro lado, continuamos avançando na luta pela terra, com a consolidação do nosso trabalho e o organização das comunidades. Começamos o ano com 71 ocupações, tornando territórios produtivos. Nossa principal resistência é esta: a organização da produção cooperada, o desenvolvimento da comunidade camponesa e a produção agroecológica".

Mulheres

Heliana Hemetério, Rede das Mulheres Negras

(Foto: Giorgia Prates)

“Há muito tempo que nossa pauta é a mesma. Estamos há anos trabalhando a questão de gênero, pelos direitos das mulheres, contra as violências contra as mulheres, contra o aumento do feminicídio, a preocupação com os direitos sociais e reprodutivos, a mulher no mercado de trabalho, entre outros.  Com destaque à posição da mulher negra, pois quando pegamos a questão das mulheres, são as mulheres negras que continuam na linha de frente  do desemprego, na falta de acesso à Saúde, Educação e sofrendo discriminação o tempo inteiro.  A pauta que temos é resistir e lutar para, pelo menos, salvar o que nós conseguimos até agora".

Um ano turbulento de um governo anti-popular 

15 de maio: O primeiro “Tsunami da Educação” leva milhares de estudantes às ruas contra os cortes orçamentários nas universidades públicas. Mais dois grandes atos foram convocados. 

9 de junho: O site The Intercept Brasil iniciou a série de reportagens que indicam a interferência política de Sérgio Moro, então juiz, na Operação Lava Jato. 

23 de outubro: Senado aprova a Reforma da Previdência. 

8 de novembro: Depois de 580 dias de uma prisão política, o ex-presidente Lula deixa a prisão em Curitiba. 

Quem mandou matar Marielle Franco? A principal questão, após um ano da execução da vereadora carioca. As pistas aproximam cada vez mais o assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes ao clã Bolsonaro. Sabe-se o motorista Hélcio de Queiroz, um dos suspeitos, teria entrado no condomínio do presidente no dia do crime. A dúvida é com quem ele buscou conversar naquele dia.

 

 

  

Edição: Lia Bianchini