Paraná

Descaso

Prefeitura deixa idosa abandonada em Curitiba

Aos 79 anos, dona Maura não tem parentes e fica o dia todo na cama. Prefeitura ignora ação do MP para acolhimento

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Dona Maura reclama da solidão e do abandono
Dona Maura reclama da solidão e do abandono - Frédi Vasconcelos

“Minha situação é essa, ficar aqui na cama sem ninguém para conversar”. Assim dona Maura Adão fala de sua situação, poucos dias depois de completar 79 anos, em janeiro deste ano. Moradora do bairro Pilarzinho, em Curitiba, ela vive sozinha, está presa à cama, quase sem movimentos e necessita de ajuda para alimentação, ir ao banheiro, fazer sua higiene pessoal. Não tem nenhum parente que possa ajudar e vive da assistência de conhecidos e vizinhos, que se revezam nas tarefas, quando podem.

Essa situação ocorre há meses, pelo menos desde setembro de 2019, quando a prefeitura de Curitiba foi acionada para dar assistência a dona Maura. Houve visita de assistente social e alguns chamados para o serviço de atendimento de emergência, o Samu, mas nada foi encaminhado pela prefeitura dirigida por Rafael Greca (DEM).

Por isso, a denúncia sobre sua situação foi levada ao Ministério Público, à procuradoria do idoso, que, em 11 de dezembro, enviou ofício à prefeitura considerando o caso de abandono grave e determinando que fossem feitas visitas para avaliar a condição da idosa, adotadas medidas protetivas e que dona Maura fosse encaminhada para “seu pronto abrigamento em instituição de longa permanência para idosos”.

Após receber a denúncia das condições de dona Maura, a reportagem do Brasil de Fato Paraná esteve na casa em que mora, na segunda semana de janeiro, e constatou que nenhuma das medidas foi adotada. “Eles dizem que a Prefeitura de Curitiba não tem vaga para abrigar idoso e que existem muitos casos como o dela esperando atendimento”, diz Célia Regina Piontkievicz, assistente social que fez a denúncia ao Ministério Público.

Dona Paulina Bortolotti, que conhece dona Maura há décadas, relata que ela não tem família em Curitiba e que antes trabalhava e se mantinha, mas agora está fraca e tem vários momentos de confusão mental. “Depende da gente para tudo, e é difícil. Eu mesma já estou com 80 anos e nem tenho força para dar banho ou levá-la para fazer o que necessita". Dona Paulina é responsável por receber a aposentadoria da idosa, de um salário mínimo, pagar o aluguel e comprar remédios e alimentação. “Antes, ainda conseguíamos pegar remédios e fraldas geriátricas no ‘postinho’ do bairro, mas agora quando vamos lá está tudo em falta”, afirma.

O outro lado

Procurada pela reportagem, a assessoria de comunicação do Ministério Público do Paraná respondeu que, a partir de denúncia recebida, foi instaurado procedimento Administrativo para "Averiguação acerca das condições de vida, saúde e sociofamiliares da idosa senhora Maura Adão. E que foram solicitadas diligências à Fundação de Ação Social e à Secretaria Municipal de Saúde, para a averiguação da situação devida, saúde, moradia e sociofamiliar da idosa, bem como a adoção de todas as medidas protetivas necessárias ao caso".

A assessoria do MP afirma ainda que, no dia 20 de dezembro, após a recepção dos relatórios da Secretaria Municipal de Saúde e da Fundação de Ação Social (FAS) ajuizou ação na Justiça pedindo o abrigamento imediato, com liminar concedida no dia 26 de dezembro. Em 6 de janeiro, os autos foram encaminhados ao MP para emenda à ação inicial, a feita na mesma data. No dia 7 de janeiro, o Juízo acolheu a emenda e determinou certificar sobre o cumprimento da liminar, bem como oficiar ao município, em caso negativo. Procurada, a assessoria de comunicação da assistência social da prefeitura foi informada do prazo de publicação da matéria, mas disse que precisa organizar as informações e responderá posteriormente.
 

Edição: Lia Bianchini