NOVAS REGRAS

O que muda com o fim do lockdown no Maranhão?

"Temos que continuar no caminho da prevenção", afirma o governador Flávio Dino; restrições mais leves estão mantidas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Imagens de São Luís durante o período de lockdown, iniciado em 5 de maio - Governo do Maranhão

O bloqueio total dos serviços não essenciais no Maranhão chegou ao fim neste domingo (17). O chamado lockdown iniciou no dia 5 de maio, após autorização judicial, e foi implementado na região metropolitana de São Luís, que além da capital maranhense, envolve os municípios de São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. 

Apesar da suspensão das restrições mais rigorosas contra a proliferação do coronavírus, nesta segunda (18) voltou a entrar em vigor o decreto anterior ao confinamento obrigatório, que abrange todo o estado. Ou seja: as restrições continuam existindo, só que mais leves.

A Justiça determinou o lockdown após um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontar que o Maranhão era o estado com maior ritmo de crescimento no número de mortos por covid-19 no país. 

Na noite anterior ao bloqueio total, o estado havia registrado 4.530 pessoas infectadas e 271 mortes. Atualmente, segundo o governo estadual, são 13.238 casos e 576 óbitos

O que foi autorizado?

Entre as atividades que foram liberadas novamente com o fim do lockdown, está o funcionamento de supermercados, com metade da capacidade, o serviço de delivery, farmácias, óticas, postos de combustível, lojas de material de construção, drive-thru e oficinas. 

O rodízio ampliado de veículos também foi suspenso na última sexta-feira (15) e a entrada e saída da Ilha de São Luís está liberada. 

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Os ônibus e balsas também estão autorizados a voltar operar normalmente. A apresentação de declaração que autorizava a circulação dos trabalhadores essenciais não é mais necessária.

Quais restrições ainda estão valendo?

A utilização de máscaras continua obrigatória em locais públicos e privados de uso coletivo. O funcionamento de estabelecimentos como academias, shopping centers, cinemas, teatros, bares, salões de beleza e atendimento em restaurantes e lanchonetes, com exceção de delivery e drive-thru, também continuam vetados. 

Já as aulas continuam suspensas até, pelo menos, 1º de junho.

As regras valem até a próxima quarta-feira (20), quando um novo decreto será editado com regras para o estado inteiro.

Com o fim do lockdown, o governador Flávio Dino ressalta que as medidas de isolamento social têm sido vitoriosas em todo o mundo e são essas experiências, que mostram como as ações de distanciamento produzem efeitos, que devem ser seguidas neste momento. 

"Estamos já há algum tempo perseverando neste caminho e nós temos publicado nas nossas redes sociais, contas, cálculos, modelos matemáticos, que mostram que teríamos muito mais mortes, muito mais sofrimento e pessoas internadas se não houvesse a determinação, a obstinação, a firmeza e coragem de manter as medidas preventivas", afirma o governador. 

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Um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estima que, se mantidas as medidas de isolamento social no Maranhão, serão 1.608 vidas salvas no período de 14 a 27 de maio.

Dino defende que, mesmo sem o bloqueio total dos serviços não essenciais, a população permaneça em casa o máximo possível em nome da saúde coletiva.

"Temos que zelar por cada vida. Estamos falando de milhares de vidas poupadas. Por isso nós temos que continuar no caminho da prevenção, graduando sempre o modo em que as medidas são aplicadas, tendo bom senso, senso de proporcionalidade, que é o que temos procurado ter. Este é o caminho pelo qual a economia pode voltar ao normal", declara. 

Para o governador, é preciso desmentir a ideia de que a economia nos estados está fragilizada por conta dos decretos de prevenção, mas estão sofrendo danos diretos por conta da própria pandemia. 

"Temos cidades brasileiras que já liberaram tudo e a atividade econômica continua fraca. Essa é a realidade no mundo e no país inteiro. Não podemos acreditar em ilusão. É claro que quanto mais rápido pudermos abrir tudo, comércios, serviços, órgãos públicos e escola, nós faremos. Esse é meu desejo. Mas não o farei de modo irresponsável. Precisamos fazer o que a ciência e os médicos indicam. Prevenir é melhor do que remediar", endossa. 

Não podemos acreditar em ilusão. É claro que quanto mais rápido pudermos abrir tudo, comércios, serviços, órgãos públicos e escola, nós faremos. Esse é meu desejo. Mas não o farei de modo irresponsável.

Saldo positivo

Para o comerciante José Ribamar Almeida dos Santos, dono do sebo Feira da Tralha e do Botequim da Tralha, localizados no centro de São Luís, o lockdown foi uma decisão acertada.

Ele vê o bloqueio total como um processo educativo e exatamente por isso, avalia que deveria ter sido estendido.

“Ao meu ver, teria que continuar enquanto se dá uma formação estrutural para as pessoas voltado pra conscientização do risco que estamos correndo. Hoje mesmo estamos observando o fluxo de carros. Não para de passar, é um carro atrás do outro. Ao meu ver, o lockdown teria que continuar pelo menos uma semana e o governo manter o rodízio de placa, porque diminui o fluxo de carros”, afirma. 

Temos que pensar se vamos ter pra quem vender amanhã. Não adianta abrir hoje e amanhã não ter o comprador.

Ribamar se adaptou às novas condições de trabalho antes do lockdown vendendo livros pela internet e trabalhando com delivery de pratos do Botequim, atividades que retornará a fazer nos próximos dias.

 


Sebo Feira da Tralha e do Botequim da Tralha, localizados no centro de São Luís, se adaptaram ao delivery durante quarentena / Foto: Arquivo Pessoal

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Mesmo tendo sua maior fonte de renda durante os chorinhos e apresentações de música ao vivo no fim de semana, o comerciante acredita que a saúde da população vem em primeiro lugar. “Temos que pensar se vamos ter pra quem vender amanhã. Não adianta abrir hoje e amanhã não ter o comprador”, diz ele, que já pensa estratégias para garantir a saúde dos clientes em um cenário pós-pandemia. 

Pelo Brasil

Depois da decisão do Maranhão, o isolamento rígido se espalhou pelo país, com possibilidade, por exemplo, de sanções como multas em caso de descumprimento. O bloqueio total de serviços não essenciais e de circulação de pessoas já é registrado em cidades do Rio de Janeiro, Pará, Tocantins, Roraima, Paraná e Ceará.

De forma inédita, o governo do Amapá anunciou na semana passada, a adoção do bloqueio total dos serviços não essenciais em todo o estado a partir desta terça-feira (19). A medida tem validade de 10 dias. 

O estado da região Norte será o primeiro a implementar o isolamento social em todos os municípios para conter o avanço da covid-19 no Brasil.

De acordo com o governo amapaense, a fiscalização da circulação de pessoas vai ser intensificada com a presença de barreiras sanitárias e o rodízio de veículos. Conforme monitoramento do Ministério da Saúde, existem 3.952 pessoas infectadas e 119 óbitos registrados no estado. 

Em São Paulo, estado que concentra o maior número de casos com 62.345 diagnósticos da covid-19 e um total de 4.782 óbitos, o lockdown parece ser uma saída cada vez mais próxima.

Projeções feitas com um modelo matemático desenvolvido pela Unicamp indica que, caso o isolamento social não seja significativamente intensificado, o estado de São Paulo chegará ao fim de junho com cerca de 53,5 mil novos casos de covid-19 por dia.

O estudo aponta ainda que a determinação do bloqueio total dos serviços não essenciais e do confinamento seria a única medida capaz de baixar a taxa de contágio. 

Edição: Rodrigo Chagas