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Bolsonaro dá cargos no Incra para o "centrão" em ação nociva à reforma agrária

Presidente nomeou duas pessoas ligadas a partidos que podem salvá-lo de impeachment na Câmara

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Desmonte do Incra tem impacto direto em políticas voltadas aos camponeses - Karina Zambrana – SGEP/MS

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou duas pessoas ligadas a partidos do chamado centrão para cargos de chefia no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Em um dos atos, ele entregou a superintendência do Incra em Pernambuco para Thiago Angelus Conceição Brandão, assessor parlamentar do Partido Liberal (PL) na Assembleia Legislativa estadual em 2019.

Brandão é formado em Publicidade e Propaganda e não tem nenhuma formação técnica relacionada a colonização ou reforma agrária. Em 2018, ele foi presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.

O presidente também nomeou Roberto Postiglione de Assis Ferreira Júnior, nome ligado ao ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), aliado de Bolsonaro, para a diretoria de administração da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco).

No governo Temer, Postiglione exerceu o cargo de planejamento e avaliação na Sudeco. Na época, foi indicado também por Fraga em uma tentativa de atrair o deputado na votação que avaliava a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer. Se perdesse a votação, Temer seria afastado da Presidência.

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Bolsonaro tem nomeado diversos nomes ligados ao centrão em troca de apoio do Congresso para evitar um impeachment, mesmo após ter dito diversas vezes que não faria “toma lá da cá” para governar.

Os partidos da ala começaram a fazer indicações no fim de abril. No fim do mesmo mês, o presidente oficializou os primeiros afagos.

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O bloco do centrão é protagonizado por PP, PL, Republicanos, PTB e PSD, e também tem participação de DEM e MDB. Na Câmara, os parlamentares ligados ao grupo são 200 dos 513 presentes na Casa.

Para evitar o impeachment, Bolsonaro precisa de apoio de pelo menos 172 deputados federais.

Perseguição a camponeses

Bernardo Mançano, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador de reforma agrária e movimentos sociais, afirma que as ações de Bolsonaro no Incra traduzem a intenção dele de destruir a reforma agrária e os movimentos do campo.

“O governo Bolsonaro contrata pessoas que não têm competência, não têm aderência, não têm compromisso com a reforma agrária, pessoas que foram indicadas com o interesse político do governo para atender a um projeto do governo. E qual é o projeto do governo Bolsonaro para a agricultura? É destruir a reforma agrária, destruir a agricultura camponesa. Isso é comprovado pela destruição das políticas públicas que foram construídas nos governos anteriores, principalmente no governo Dilma e no governo Lula”, diz o professor.

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Segundo Bernardo, no entanto, os movimentos têm respondido aos ataques de Bolsonaro com ações em prol da comunidade, que fortalecem o campo e ignoram o desmonte no Incra.

“Por mais que o governo esteja tentando destruir, nunca na história do Brasil nós tivemos uma ação propositiva tão forte quanto esta que estamos vendo hoje – uma ação solidária dos assentamentos, fazendo doações, levando comida até as cidades”.

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O pesquisador defende que os camponeses não recuem, mas tenham cuidado para lidar com um governo que chama de neofascista.

“Temos que fazer ações, como o movimento está fazendo, temos que chamar a sociedade, temos que continuar produzindo alimentos saudáveis, levando para a cidade, levando para a comunidades, levando para as periferias. Nós temos que ter uma ação propositiva, diante de um governo que tem uma política negativa”.

Edição: Geisa Marques