Desafio da terra

No Vale do Jequitinhonha (MG) famílias se reinventam para garantir selo orgânico

Certificação de alimentos é um processo que passa por muitas burocracias até ter aprovação do Ministério da Agricultura

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A certificação orgânica está condicionada ao cumprimento de algumas medidas. - Foto: Divulgação CAV
“Não é fácil. É um processo cheio de critérios e pré-requisitos"

Largar o cultivo convencional para fazer uma agricultura agroecológica é um processo gradual. Antes de chegar lá, já é um desafio ter uma produção totalmente orgânica, ou seja, sem uso de venenos e outros insumos químicos na produção de alimentos. Muitos produtores têm o conhecimento, porém conquistar o selo que prove é uma tarefa que exige dedicação.

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São algumas as burocracias que agricultoras e agricultores enfrentam para ter a certificação orgânica. Garantir o selo exige que sua produção seja aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Na região do Alto do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, um grupo de agricultores optou pela busca do certificado após conhecer um caso exemplar no sul do estado. A troca de experiências resultou no quadro atual de 40 famílias certificadas ou em processo avançado do reconhecimento na região, além de outras 20 em processo inicial de certificação. 

Valmir Macedo é coordenador do Centro de Agriculturas Alternativas Vicente Nica (CAV), uma das organizações que apoiaram o processo coletivo de certificação no local. Ele explica que a proximidade do Centro com universidades e institutos federais favoreceu o apoio às trocas de experiências para a certificação coletiva no Alto do Vale do Jequitinhonha.

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“Não é fácil. É um processo cheio de critérios e pré-requisitos. Não é só não usar veneno, como muita gente pensa, mas uma série de questões para pensar, como o destino do lixo, a existência de barreiras no entorno para evitar uma contaminação pela propriedade vizinha. São vários insumos utilizados no processo produtivo”, explica.     


Intercâmbio com agricultoras e agricultores do Alto Jequitinhonha (MG). / Foto: Divulgação CAV

Há um processo constante de fiscalização entre todos os critérios nas experiências. Ao mesmo tempo, o sentimento de coletividade entre as famílias pode ser percebido em alguns relatos, como o Seu João Domingos, agricultor certificado que mora no município de Turmalina (MG), na Alto do Vale Jequitinhonha. Ele é uma das pessoas que formam o Grupo Orgânicos Jequitinhonha e reafirma o sentimento coletivo.

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“Um sentimento de confiança no companheiro que está do lado. A gente consegue ver isso nos companheiros, na troca de experiência, em todo o trabalho e processo que é feito, no grupo técnico. Então fazer parte desse grupo, para resumir de forma mais rápida, eu digo que é viver de forma mais leve, tranquila. Porque você se sente protegido. Quando você tem qualquer problema, você tem um ombro para encostar, você tem uma pessoa do lado, isso dá uma estrutura, uma base”, ressalta. 

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Seu João Domingos cita que o processo coletivo da certificação melhora as condições de comercialização. Ao mesmo tempo, há um estímulo para enxergar ainda mais a diversidade de vidas que estão presentes na propriedade dele. Ele explica que antes praticava uma agricultura convencional e seu ciclo vicioso de causar a morte de espécies naturais.

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As famílias com experiências certificadas - ou em processo de certificação - no Alto do Jequitinhonha comercializam em feiras livre locais, além de fornecerem diretamente para escolas e supermercados. Neste momento de pandemia, o Grupo Orgânicos Jequitinhonha buscou plataformas digitais para facilitar a comercialização, mas o sinal de internet estável ainda é um desafio para a maioria da população local.

 

Edição: Lucas Weber