R$ 200 por mês

Como vivem os catadores de recicláveis na cidade de São Paulo?

Com renda comprometida, 10 mil profissionais sobrevivem de solidariedade e auxílio emergencial

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |

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Se junta 200 quilos de papel eles tão pagando 20 reais. Com essa pandemia, os ferros velho tem que ter amor ao próximo e tentar ajudar nós que também precisa”, explica Rodrigue Lucena - Pedro Stropasolas

Eles respondem por quase 90% de toda a reciclagem feita no brasil,  mas vivem um cenário crítico desde o início da pandemia. Com o isolamento social, os catadores de materiais recicláveis tiveram uma redução de 80% em sua renda mensal, que era de cerca de um salário mínimo, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis (MNCR) e hoje paira em torno de R$ 200. 

Em São Paulo, as 25 cooperativas que atuam no Programa Socioambiental de coleta seletiva permanecem com suas atividades suspensas desde março, como uma medida de segurança apresentada pela Prefeitura no Plano de Contingência de Resíduos Sólidos em situação de pandemia.

A suspensão das atividades nas cooperativas, que estabelece a operação de recicláveis sem qualquer triagem manual, foi aprovada pelo comitê de crise do Programa Socioambiental da Prefeitura, por meio da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb).

Durante esse período,  a prefeitura vem pagando uma renda mensal de R$ 1,200 para os 900 cooperados e para 1.400 catadores autônomos que participaram do programa Reciclar para Capacitar, da antiga Subsecretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES). A quantia está prevista para ser paga até o próximo mês, quando, a que tudo indica,  retornam às atividades nas cooperativas. 

A prefeitura informou que mantém "diálogos com os representantes das cooperativas" e cria planos de ações individuais para programar a retomada das atividades. "Os cooperados que pertencem ao grupo de risco, como idosos e gestantes, permanecerão afastados por tempo indeterminado. Para que os profissionais voltem com segurança, a Prefeitura fornecerá também apoio com itens de higienização, como materiais de limpeza, álcool gel, álcool 70 e dedetizantes para limpeza dos maquinários", afirma, em nota.     

“Essa ajuda está acabando. Muitos catadores já me ligam perguntando como vão fazer daqui para frente. Por enquanto nesse momento a gente ainda não tem uma estratégia”,  afirma Eduardo Ferreira de Paulo, liderança do MNCR na capital paulista.

Eduardo atua na Coopamare, em Pinheiros, a primeira cooperativa de catadores do país e símbolo de organização coletiva pelo reconhecimento da categoria.  Nos próximo meses, ele teme pelo futuro dos 36 membros da cooperativa, formada em 1989 por pessoas em situação de rua de São Paulo. 

“Durante a pandemia, nossa situação ficou caótica porque nós catadoras e catadores da cidade de São Paulo dependemos dos materiais. Toda a população acabou parando, aí ficou um pouco ruim, os materiais começaram a diminuir, as lojas não abrem mais. Nós vivemos dos materiais, vivemos do dia dia”, relata o trabalhador.

Autônomos com mais dificuldades

A situação mais crítica, no entanto, é dos quase 9 mil catadores autônomos que não recebem o apoio do município e têm dificuldades para obter o auxílio emergencial do Governo Federal. Rodrigue Lucena é um deles. Ele vive no entorno do Largo do Paissandu, no centro da capital paulista.

“Os catadores avulsos não receberam até agora nada, só aqueles de cooperativa. Essa renda do Presidente da República, eu também não recebi. Só negaram, negaram, aí eu deixei para lá”, revela Lucena.

Durante a quarentena, o movimento Pimp My Carroça, que atende Lucena, vem mantendo uma campanha virtual para garantir renda mínima para quase 3 mil catadores autônomos cadastrados no aplicativo Cataki - plataforma que conecta diretamente os profissionais da reciclagem com os geradores de resíduos. 

“Sem um renda mínima como nós vamos sobreviver? Morando na rua, sem espaço para por nossas ferramentas de trabalho, trabalhar, sem espaço para poder coletar” , pergunta Lucena

Problema nacional. 

Segundo último levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) , o Brasil tinha tem em torno de 600 mil catadores. Deste total, apenas 5%, ou cerca de 30,3 mil estão vinculados a cooperativas e associações. Já o MNCR estima que a categoria já alcança atualmente o número de 1 milhão de trabalhadores. 

Para garantir alimento e o mínimo de dignidade para as famílias que dependem da reciclagem, o MNCR, a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis, e outras entidades parceiras organizaram uma campanha online para reunir doações.

 

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho