HOMENAGEM

Artigo | Há 94 anos, nascia um cubano, Fidel Castro

A singela homenagem ao comandante neste 13 de agosto se refere à campanha pelo Prêmio Nobel da Paz aos médicos cubanos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Fidel Castro, comandante em chefe da Revolução Cubana, completaria 94 anos nesta quinta-feira, 13 de agosto - Reprodução

Muito já se escreveu sobre Fidel Castro, esse personagem carismático que se transformou em um ícone de nosso tempo. É de se considerar um privilégio, não só para quem com ele conviveu, mas o privilégio de ter sido contemporâneo de alguém que a História jamais vai apagar. Um ser humano que alterou a geopolítica, em especial, a da América Latina, transformando o subcontinente em uma região a ser minimamente respeitada, agora não mais um mero ‘quintal’ dos Estados Unidos da América.

Até aquele 1 de janeiro de 1959, a América Latina assim era considerada: uma região de exploração de suas riquezas e com algumas tentativas de independência esmagadas pelos ‘donos’ dos meios de produção e seu braço armado. Assim foram reprimidas quaisquer tentativas de libertação do jugo dos senhores da terra.

Fidel dizia que se tornou socialista estudando o capitalismo. E estudando esse sistema viu, desde sempre - e com a inteligência ímpar que possuía -, aliada à história pregressa de seu país que tal sistema não poderia levar a uma autonomia do povo e que esse era exatamente o projeto: manter o povo afastado do poder o mais distante possível e explorar, reprimir e oprimir a classe trabalhadora, a classe que produz a riqueza dos países. Esse o sistema que até hoje se reproduz em uma imensa maioria dos países.

A partir da indignação que daí surgiu, foi sempre Fidel que esteve à frente de mobilizações contra as grandes injustiças praticadas contra o povo cubano. Nunca esteve sozinho nas empreitadas em que atuou, mesmo porque sem apoio popular nada se concretiza, mas também é fato que sem sua liderança não se teria avançado tanto na transformação da sociedade cubana.

A perspicácia de Fidel, sua moral inabalável, um caráter impressionante foram fatores determinantes para o triunfo da  Revolução Cubana;  uma revolução que contou com muitos nomes imprescindíveis como Camilo Cienfuegos, Raul Castro, Ernesto Guevara, Almeida, Célia Sánchez, Haydeé Santamaria e tantos outros verdadeiros heróis de seu tempo.

:: Especial | A luta das cubanas em 60 anos de Revolução ::

Quando se aproxima o aniversário de Fidel é comum que se faça novamente uma análise de quem foi esse gigante do nosso tempo. Um líder que desde o início da Revolução nunca deixou de se preocupar com o povo cubano, desde meros detalhes até grandes feitos, sempre tendo em mente o melhor para o seu povo e também para outros povos. Líder nato, amado e odiado, alvo de mais de 600 atentados por parte do império estadunidense (como comprovam documentos da própria CIA), ele jamais se afastou do que era o certo e o justo. Quando campanhas difamatórias tentam mostrá-lo como ditador, a própria realidade demonstra que, por mais de 60 anos, nenhum político se mantém contra a vontade de todo um povo. Especialmente de um povo culto e valente como é o povo cubano pós-revolução.

Dessa forma, tais tentativas caluniosas caem por terra e se expõem ao ridículo ao provar que o que move seus detratores é simplesmente um ódio visceral pelo fato de Fidel demonstrar perante todas as campanhas que trincheiras de ideias podem mais que trincheiras de pedras. Não somente o ódio move os inimigos da Revolução Cubana, como também o medo que sentem ao comprovar que nem um bloqueio genocida feito pelos EUA contra a ilha consegue derrubar o governo ou o sistema socialista. Atualmente o governo estadunidense continua tentando, de todas as formas, asfixiar o povo cubano para que ele se revolte contra o governo; isso já alcança quase 60 anos do bloqueio ,12 presidentes estadunidenses e o povo segue resistindo, apesar dos imensos prejuízos materiais e de vidas sofridos. No entanto, Cuba tem que ser combatida - sem nunca ter ameaçado ou atacado nenhum outro país. Como bem dizia Fidel: “mandamos aos países médicos, não bombas”. Não é uma frase de efeito, não são meras palavras. Em 60 anos de revolução, Cuba enviou mais de 400 mil cooperantes de saúde para 164 países, independentemente da ideologia dos governos receptores. Atualmente, são cerca de 30 mil cooperantes, o que significa mais que todos os cooperantes dos países do G8 juntos. “Detalhes’’ que a imprensa internacional se empenha em não noticiar.

Mandamos aos países médicos, não bombas, dizia Fidel Castro

Por que toda essa hostilidade contra uma ilha pequena, pobre, sem recursos naturais e bloqueada? Porque se trata de um exemplo a ser devidamente combatido, castigado, uma vez que é uma possibilidade a ser seguida, um sistema livre das amarras do FMI, do Banco Mundial, de dívidas, onde, apesar de toda a grande dificuldade, não há desnutrição, fome, criança sem escola, doentes sem atendimento. Se o governo dos EUA suspendesse hoje o bloqueio (que é condenado anualmente na Assembleia Geral das Nações Unidas pela maioria dos países), Cuba passaria a ter condições de melhorar a vida do seu povo e a partir daí ser um exemplo mais perigoso ainda a ser seguido com mais bens materiais e mais recursos financeiros que o bloqueio inegavelmente impede.

Apesar de todas as condições desfavoráveis, o internacionalismo sempre cultivado no país ofereceu e oferece ao mundo a ajuda humanitária que sempre caracterizou a Revolução Cubana: assim foi na educação com o método “Yo Sí Puedo” [Sim, eu posso], que alfabetizou cerca de 7 milhões de latino-americanos, com a “Operação Milagros” que devolveu a visão a muitos em cirurgias oftalmológicas, com a impressionante atuação na África enfrentando a epidemia de Ebola, a cólera no Haiti, dentre outras situações- limite.

:: Especial | "Sim, eu posso" - A revolução que vem das letras ::

Aqui no Brasil, chegamos a contar com 14 mil médicos cubanos no Programa Mais Médicos, no período de 2013 a 2018, em um convênio entre os dois países intermediado pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS). Os testemunhos que falam por si são de brasileiros atendidos por uma medicina diferenciada porque humanitária, também idealizada por Fidel, que afirmava : “Aqui formamos médicos com ciência e com consciência”. Tampouco aqui se tratava somente de palavras. Os brasileiros atendidos por esses profissionais ressaltam sempre essa constatação. É evidente o trabalho realizado pelas equipes de saúde cubanas por todo o mundo e inegável a brilhante atuação desses profissionais em diferentes cenários.

A singela homenagem ao comandante Fidel Castro, neste 13 de agosto de 2020, se refere em especial à campanha pelo Prêmio Nobel da Paz ao Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve, mais conhecido como Brigada Henry Reeve. Criado em 2005 por Fidel, e tendo atuado em dezenas de países pelo mundo onde se fizesse necessária, especialmente naqueles em que os diferentes governos não conseguem resolver as questões de saúde de sua população. Estes agentes seguem em suas brilhantes funções sem almejar nada em troca, movidos somente pela solidariedade em relação à humanidade.

O mentor de Cuba, José Martí, deixou, através de seus livros, um imenso legado aos cubanos. Ele foi o mentor da Revolução Cubana. Fidel a concretizou junto com o povo. Martí dizia que “Pátria é a humanidade”. Uma simples locução que os cubanos levam em sua alma. Se Martí legou toda uma filosofia de vida – de como a vida na verdade deve ser –, Fidel pôs em prática todos os seus ensinamentos e legou ao povo cubano um país livre e soberano, com uma dignidade sempre perseguida mas só alcançada a partir de 1959. Daí em diante foi fácil? O próprio Fidel, em diálogo direto com o povo na rua, avisou: vamos nos preparar porque daqui para frente não vai ser fácil. Ele sempre soube da existência dos “mercadores do ódio” e advertia um povo recém-libertado das agressões que o país iria enfrentar. Enfrenta até hoje.

:: Especial | Vai para Cuba! ::

Aqui cabe uma ressalva: Cuba não é o Paraíso na Terra. Nenhum país é o Paraíso na Terra. O que temos que ressaltar sempre é a diferença que Cuba Revolucionária faz na geopolítica regional e mundial. E sempre se usa um exercício mental para demonstrar isso facilmente. A proposta é: durante alguns minutos se concentrar (se quiser, fechar os olhos ajuda) e imaginar que em Cuba não houve nenhuma transformação de sistema. Pensar no mapa do continente americano e tentar visualizar Cuba como sendo um Haiti ou Jamaica ou República Dominicana, quer dizer, uma ilha a mais do Caribe com a mesma história colonial, mesmo clima, vegetação semelhante e até hoje sendo administrada pelo capitalismo como as demais. E sem um Fidel Castro Ruz em nenhum desses países. O que seria a América Latina sem Cuba Rebelde? Um mero quintal ou bordel do império estadunidense…

Pois bem, essa é parte da importância de Cuba e do comandante Fidel em nossa região, essa região que habitamos. Essa região que conta com esse grande pequeno país que teve o privilégio de ter como um de seus filhos esse homem sobrehumano que liderou uma transformação de um país e de um povo com uma inabalável moral, um caráter impressionante, coerência que o fez ser amado e respeitado por seu povo a quem dedicou toda a sua vida. Um homem que fez a diferença para todos nós que podemos comprovar que um outro mundo é possível - e necessário. Que nos mostrou o valor da solidariedade, que contou com mais de seiscentas tentativas de assassinato, mas nunca se deixou acovardar por nada.

Ao Comandante em chefe a quem devemos tanto, nossa eterna gratidão por sua vida e por sua herança moral acima de tudo. É com ele que avançamos, com sua figura única para mostrar a seus adversários que Sim, se pode! E comemorar seus 94 anos com muita alegria, sabendo que para sempre estará vivo em seu exemplo, valentia e a certeza das mudanças. Mudanças que cedo ou tarde virão para os povos que sim, merecem vidas dignas, merecem seus direitos respeitados e igualdade de oportunidades. Virão porque esse é o destino do nosso e de outros continentes. Virão porque assim Fidel uma vez declarou: que seria mais fácil acontecer revoluções socialistas nos países capitalistas do que acontecer o fim do socialismo em Cuba. Esse é o grande medo dos “donos do mundo”, donos dos meios de produção, donos das gentes. O medo deles? A América Latina perceber que sim, se pode. A campanha difamatória tem que continuar. Nosso papel é desmascarar os inimigos e mostrar que escondem a verdade, que é possível mudar os hábitos, que  princípios são inegociáveis, que qualidade de vida não pode ser confundida com quantidade de coisas. Que, para a sobrevivência da humanidade, temos que cuidar da natureza e extirpar o egoísmo e o consumismo.

Daqui do Brasil, os agradecidos também te acompanham e sabemos que vamos avançando aos poucos (cada país em seu ritmo, não é?), mas com firmeza de ideias, compromisso com a humanidade. Atualmente, passamos um momento difícil mas sabemos que os governos passam mas nós vamos seguir em busca de um país melhor para o povo brasileiro. Hoje, graças às suas estratégias, erros, autocríticas e acertos, vamos seguindo o caminho que se constrói ao caminhar. Mas saiba que nosso farol continua sendo uma pequena grande ilha caribenha.

Gracias, Comandante! Seguimos em luta, hasta la victoria siempre!  

Agosto, definitivamente, não é o “mês do desgosto”. Viva Fidel! Viva Cuba!

*Carmen Diniz é coordenadora do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos - Capítulo Brasil.

Edição: Luiza Mançano