Pandemia

Confederações cobram ABPA mais responsabilidade contra covid-19 em frigoríficos

Durante a pandemia, frigoríficos dobram lucro, mas não adotam medidas de combate ao coronavírus

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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lucro líquido da JBS chegou a R$ 3,38 no segundo trimestre deste ano - Divulgação

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) se reuniu virtualmente nessa quarta-feira (9) com representantes da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação da CUT (Contac-CUT) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação e Afins (CNTA) para debater propostas das entidades relacionadas às medidas de prevenção e controle da covid-19 em frigoríficos

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De acordo com o presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli, a associação ignorou as reivindicações do movimento sindical. 

O dirigente também relata que a Campanha “A Carne Mais Barata dos Frigoríficos é a do Trabalhador”, lançada em agosto pelas confederações, em parceria com a Regional Latinoamericana da União Internacional do Trabalhadores da Alimentação (Rel-Uita), foi tratada com indiferença pelos representantes da ABPA.

O presidente da ABPA, Ricardo Santin, chegou a afirmar que as empresas cumprem atualmente as determinações legais contidas na Portaria Interministerial nº 19, de 2020, que inclui, entre outras medidas, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o afastamento precoce de trabalhadores com sintomas de covid-19 e a higienização constante dos ambientes de trabalho.

Mas o secretário-geral da Contac-CUT, José Modelski Júnior, lembra que a portaria lançada pelos ministérios da Agricultura, Economia e Saúde, em junho deste ano, foi motivo de contestação não apenas das confederações e sindicatos, mas do Ministério Público do Trabalho (MPT), consultado apenas duas vezes antes da publicação pelo governo federal. 

“Nossa campanha busca de uma vez por todas medidas práticas que acabem com o problema das aglomerações nos frigoríficos, além de cobrar o aumento da testagem como medida preventiva para evitar contaminações. Seguimos também cobrando o uso de EPI’s, principalmente das máscaras faciais já que sabemos que funcionários de grandes empresas como a JBS são obrigados a reutilizar máscaras molhadas por até cinco dias seguidos, situação que tem sido fruto de intensos debates”, explica.

Para o secretário de Comunicação da Contac-CUT, Siderlei de Oliveira, não é novidade a postura adotada pela ABPA. “É preciso que o diálogo com as entidades sindicais seja feito com associações que tenham poder de mudança. Estamos falando da vida dos trabalhadores que estão em risco, especialmente se tratando da JBS. A impressão é que eles estão levando a vida de milhares de trabalhadores na brincadeira. Vidas que não têm preço”, critica.

Presidente da Contac-CUT, Nelson Morelli também aponta que o lucro líquido da JBS chegou a R$ 3,38 bilhões no segundo trimestre deste ano.

“Como é possível uma empresa como a JBS, que foi a primeira a passar a Petrobras em receita num único trimestre, seguir com posturas intransigentes, arrogantes e desrespeitosas desta maneira? Entendemos que a produção no Brasil é importante, mas isso não pode acontecer às custas de exploração e sacrifício dos trabalhadores”, explica o dirigente. 

Sem avanços na reunião com a ABPA, as confederações afirmaram que irão intensificar sua campanha não apenas no Brasil como em outros países do mundo, especialmente junto às nações consumidoras, para falar sobre a produção dos alimentos exportados pelo Brasil.  Também não está descartada a possibilidade de greve no país.

Edição: Rodrigo Durão Coelho