Batendo cabeça

Autoridades de Curitiba se contradizem e falam em retomar aulas com pico de covid

Número de crianças infectadas pelo coronavírus dobrou na cidade em novembro

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Curitiba está com aumento diário no número de casos. Na última terça-feira (17) foram registrados 879 novos casos e na quarta-feira (18), mais 914 - Giorgia Prates

Logo após a eleição, o prefeito reeleito, Rafael Greca (DEM), disse que as aulas na rede municipal de ensino “só voltarão de forma presencial quando houver vacina”. No dia seguinte a este pronunciamento, a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, emitiu um comunicado, após consulta do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe), autorizando a reabertura das escolas particulares para aulas presenciais curriculares.

Além da contradição entre prefeito e secretária, o anúncio aconteceu na semana em que Curitiba alcançou o maior número de casos de coronavírus de toda a pandemia: são 8.415 casos ativos na cidade, correspondentes ao número de pessoas com potencial de transmissão do vírus.

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O Brasil de Fato Paraná conversou com médicos da área pediátrica e da Saúde Coletiva, que foram unânimes em dizer que o momento não é adequado para o retorno das aulas. O Chefe de Otorrinolaringologia do Hospital Pequeno Príncipe, Lauro Alcântara, contesta o argumento de quem diz que as crianças terão perda irreparável se ficarem em casa. 

“Para mim, perda irreparável é a morte. Nada justifica reabrir a poucos meses de podermos começar a vacinar e reverter a pandemia. Não tem sentido reabrir as escolas e ainda favorecer o contágio”, diz Alcântara.

Ele destaca que o contágio se dará entre adultos e crianças, se as escolas reabrirem. "As crianças terão contato com professores, os pais irão levá-las. Além disso, é bastante difícil segurar o não contato entre os pequenos. Se um pegar, a facilidade de contágio em massa é muito grande”.  Neste momento de alta de casos, segundo o médico, “ é hora de contribuir com a não aglomeração e distanciamento social. Professores e pais terão que se locomover.”  

Para Guilherme Albuquerque, médico sanitarista e professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com os números de casos de pessoas infectadas pelo novo vírus aumentando, novamente, em Curitiba, não é o certo reabrir escolas. "A abertura das escolas trará maior grau de deslocamento e contato entre crianças e adultos. A disseminação de uma doença contagiosa tende a prosperar com intensificação de contato”, afirma o médico.

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Sobre o baixo risco de contágio entre crianças ser bastante defendido como argumento para a reabertura, Guilherme diz que as crianças dependem de adultos para ir à escola e permanecer nela. “Há muitos casos já registrados de crianças assintomáticas que podem se tornar, portanto, vetor de disseminação do vírus. A medida correta é sempre isolamento de quem está infectado, o monitoramento dos contatos dessa pessoa. O conhecimento da doença e sua epidemiologia é muito incipiente, ainda. Não recomendo ficar colocando tantas pessoas assim em risco”.

Casos de covid-19 em crianças aumentam em Curitiba

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, do início de outubro até dia 15 de novembro, o aumento de casos de crianças e adolescentes com a covid 19 foi de 40% entre 15 a 19 anos, de 38,3% entre as crianças de 10 e 14 anos, de 38,3% e de 25% nas crianças entre 0 a 4 anos.

Estes números, inclusive, refletiram no fluxo de atendimento do maior hospital pediátrico do Paraná, o Hospital Pequeno Príncipe.  O número de casos confirmados de crianças diagnosticadas com o novo vírus dobrou de outubro para novembro, segundo informações do vice-diretor clínico do Hospital Pequeno Príncipe e infectopediatra, Victor Horácio de Souza Costa Júnior. “O aumento entre crianças se deu antes do que imaginávamos que iria acontecer. Isso se deve a uma população adulta relaxando nas medidas de prevenção, como uso de máscara, distanciamento social, entre outras. Estes são os cuidados necessários para uma doença que ainda não tem remédio e nem vacina”, diz Costa Júnior.

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Para ele, não se deve culpabilizar escolas pelo aumento, mas há que se avaliar como tem sido a conduta das famílias do portão para fora. “As escolas estão tomando todas as medidas necessárias para garantir segurança às crianças. Mas, o que é preciso avaliar é como tem sido a conduta das famílias para fora da escola. Então, não adianta reabrir escola se não houver consciência em relação a pandemia por parte dos adultos. Essa falta de consciência é o que explica o aumento na cidade”, conclui.

 

 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Gabriel Carriconde