Concurso na pandemia

No PR, 34 mil candidatos a professor se aglomeram por vagas que ainda nem existe

Docentes fizeram prova para contrato temporário; Sindicato diz que normas sanitárias não foram seguidas

Curitiba (PR) |
Entre problemas relatados por professores estão desrespeito a medidas de segurança contra Covid-19 e erros de gramática nos textos da prova - Brunno Marcel Brugnolo/Seed

No Paraná, uma prova para seleção de professores no Processo Seletivo Simplificado (PSS), promovida pelo governo de Ratinho Júnior (PSD), no último domingo (10), gerou controvérsias. O certame, que atraiu, em plena pandemia, cerca de 34 mil candidatos, aconteceu sob protestos de sindicatos de professores e pedidos de adiamento por parte do Ministério Público.

Segundo denúncias recebidas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP Sindicato), as salas dos locais dos exames eram mal ventiladas e, em algumas, não era possível manter o distanciamento necessário.

O Brasil de Fato Paraná falou com professores que fizeram a prova, cujas identidades serão mantidas anônimas para evitar que sejam prejudicados na seleção.

Entre as principais queixas ouvidas está a de que a prova foi marcada, cerca de 40 mil pessoas se inscreveram, 34 mil compareceram, mas como as aulas presenciais não voltaram e não se sabe ao certo quando - e se - voltarão este ano, não existem vagas a serem preenchidas no momento. Na melhor das hipóteses, os selecionados ficarão num cadastro de reserva, e, quando as aulas voltarem, cerca de quatro mil poderão ser chamados para vagas temporárias.

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“Sem saber quando as aulas voltam, há o risco de ninguém ser chamado ou ter aulas sabe-se lá quando”, diz um professor que está há cinco anos como PSS na educação pública do Paraná e nunca precisou fazer prova antes.

Tanto os professores quanto a APP sindicato defendem que se é para fazer concurso que seja para a contratação de professores efetivos, não para cadastro de reserva de profissionais temporários.

Em suas redes sociais, outro professor candidato elencou erros de Português na apostila de preparação para a prova. “Ao ler a apostila elaborada pela Secretaria de Educação, logo constatei, além da má diagramação e formatação do texto, que o autor – ou autores – de tal material não sabe usar crase. Mas eis que, ao prosseguir na leitura, encontro essa frase [ver imagem abaixo]. Deveria ser A VER e não HAVER e o conectivo E está errado, o que dificulta o entendimento da sentença”, escreveu (veja abaixo).

Texto

Descrição gerada automaticamente

Outros dois problemas foram relatados no domingo. Os candidatos foram impedidos de levar para casa o gabarito para conferir as respostas que marcaram. Além disso, segundo relato de quem esteve lá, quem se inscreveu para duas disciplinas só pôde fazer o teste para uma delas, apesar de ter pago a taxa para as duas. Não houve explicação de porque isso aconteceu.

O concurso foi organizado pela Cebraspe, Organização Social contratada por Ratinho Jr e seu secretário da educação, Renato Feder. A estimativa é de que a cobrança de taxas entre R$ 60 e R$ 105 (para quem disputava cargo em mais de uma disciplina) gerou, por baixo, cerca de R$ 2,5 milhões de receita para a contratada.

Secretaria de Educação nega problemas

Segundo a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed), o ano letivo no Paraná está previsto para iniciar no dia 18 de fevereiro. Os classificados na prova de domingo poderão ser contratados a partir de 31 de março.

Sobre a proibição de que os candidatos levassem o gabarito da prova, a Seed informa que a medida já estava determinada em edital: "A folha de resposta digitalizada está disponível no site do Cebraspe, assim como o gabarito preliminar, divulgado nesta segunda-feira (11), às 21 horas".

Por fim, a Seed informa que foram respeitadas medidas sanitárias de segurança para prevenção do contágio pelo coronavírus. 

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini