Sem auxílio

Movimento protesta em SP contra aumento no preço dos alimentos: "Tem preto com fome"

Ato convocado pelo coletivo Raiz da Liberdade ocorreu dentro de supermercado em bairro de classe média alta na capital

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"Não dá para viver de cesta básica. Precisamos do auxílio emergencial e de vacinas", diz o vendedor ambulante Edson Santos, pai de duas filhas - Daniel Giovanaz/Brasil de Fato

O coletivo negro Raiz da Liberdade, vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), realizou na tarde desta sexta-feira (12) um protesto em São Paulo (SP) contra o aumento do preço dos alimentos e a falta de um auxílio emergencial adequado às necessidades impostas pela pandemia de covid-19.

A manifestação ocorreu em frente a uma unidade da rede de supermercados Pão de Açúcar de Moema, bairro de classe média alta. "É um lugar que, por si só, já nos exclui", afirma Ediane Nascimento integrante do Raiz da Liberdade.

Cerca de 50 pessoas se reuniram a partir das 16 horas e realizaram um ato simbólico dentro do supermercado. "Nós estamos fazendo esse ato para mostrar que vidas negras importam. Para falar que a periferia está passando fome", disse Ediane Nascimento aos clientes que estavam no local. 

O coletivo estendeu uma faixa na entrada no estabelecimento com o slogan "Tem preto com fome" e enfatizou a importância do uso de máscaras.


"A periferia está passando fome", disse Ediane Nascimento, integrante do coletivo negro Raiz da Liberdade, aos clientes do supermercado / Daniel Giovanaz/Brasil de Fato

"Ano passado foi difícil, mas veio o auxílio emergencial e, pelo menos, os pretos e pobres da periferia conseguiram comer. Este ano, além do auxílio ter caído para R$ 250, ninguém recebeu ainda", acrescenta Nascimento.

Em 12 meses desde o início da pandemia, o preço dos alimentos subiu em média 15%, quase o triplo da inflação no período.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os preços que mais subiram foram os de cereais, leguminosas e oleaginosas (57,8%). Na sequência, aparecem as categorias óleos e gorduras (55,9%) e tubérculos, raízes e legumes (31,6%).

A alta foi provocada, entre outros fatores, pelo aumento dos combustíveis, resultado do desmonte da Petrobras e de uma política de preços que prioriza os acionistas internacionais. A desvalorização cambial agrava o problema: o real foi a moeda que mais perdeu valor em 2020.

"A situação financeira se agravou para todo mundo, mas quem mora desce lado consegue fazer um contingenciamento, fazer lockdown. Quem mora na periferia tem que todo o dia sair e enfrentar o vírus para trazer um alimento para dentro de casa, e mesmo assim está difícil", relata Edson Luiz Basílio Santos, vendedor ambulante e pai de duas filhas.

O Congresso Nacional aprovou a destinação de R$ 44 bilhões para novo auxílio emergencial, que deve variar de R$ 175 a R$ 375. O governo federal promete iniciar os pagamentos ainda em março, mês em que o país vive o pior momento da crise sanitária.

A retomada do auxílio serviu como barganha para medidas de ajuste fiscal, por meio de acordos liderados pelo ministro Paulo Guedes, da Economia.

Edição: Poliana Dallabrida