Pernambuco

PRECARIZAÇÃO

Pandemia agrava condições de trabalho no pólo de confecções do Agreste pernambucano

Região é responsável por 16% por cento da produção nacional do setor, mais não avançou nos direitos trabalhistas

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Muitas das costureiras trabalham por facção, que é um modelo de produção em que elas pegam os cortes das peças e fazem a montagem das roupas - Governo PE

Em Pernambuco, os municípios de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe sediam os principais pólos de confecção do Nordeste. Segundo dados do Governo do Estado,  o comércio emprega cerca de 11 mil pessoas. Juntas, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe são responsáveis por 16% da produção nacional.

Quando a pandemia começou, muitas das mulheres que trabalham com costura e já viviam isoladas na atividade domiciliar de trabalho, passaram a estar isoladas também da possibilidade de ter alguma renda com o trabalho. Muitas delas precisam trabalhar por valores muito baixos por peça. Confira na reportagem:


É o caso da costureira e artesã Francismeire Melo "Nesta pandemia aqui, teve muita gente que se aproveitou. Fizeram uma parceria com algumas costureiras, mas eu lhe digo: não foram com todas. Tinha gente que estava trabalhando a R$0,30 e essas grandes pessoas que vieram trabalhar naquele grupo, não conseguiram chegar a essas mulheres que estavam trabalhando a  R$0,30”, conta.

Muitas das costureiras trabalham por facção, que é um modelo de produção em que elas pegam os cortes das peças e fazem a montagem das roupas. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), acompanha as costureiras do pólo por meio do projeto “Vozes da Moda”. Para a economista e técnica do Departamento Milena Prado, a pobreza pode ter aumentado na região “No município de Caruaru, a gente tinha, segundo o censo de 2010, 40% de famílias, de pessoas, que eram vulneráveis à pobreza, 40% das pessoas viviam nesta condição. Em Santa Cruz, você tinha 33% de pessoas que viviam vulneráveis à pobreza, segundo o censo de 2010. A gente acredita, muito embora a gente não tenha Censo atualizado, mas a gente tem outros indicadores para trabalhar, que essa situação de pobreza não se alterou muito nos municípios” projeta. 

 

Francismeire explica que as costureiras iniciaram uma proposta de reunir as trabalhadoras da categoria para tabelar os preços por peça, garantindo que elas não sejam vítimas de trabalho análogo à escravidão “A pessoa unida vai colocando informação naquelas pessoas que ela não tem informação; aí se a minha vizinha vai costurar por R$0,60, ela não tem informação. Então, se essa informação chegar lá “ó, você pode trabalhar por X, porque isso aí é escravidão e isso aqui você está se matando de trabalhar”. Então, ela vai abrir a mente e vai ver que fulano, ciclano e beltrano está ganhando bem, porque tá unida. E por que que eu não vou me unir também?”.

A organização das costureiras é uma aposta para conseguir condições dignas de trabalho e de sobrevivência, mas também de acesso a direitos básicos, como explica Milena “Essas pessoas precisam ter acesso à proteção social, ser remuneradas dignamente pelas peças que produzem, precisam ter acesso às condições de trabalho para que elas possam usufruir de uma saúde e não de um adoecimento do seu trabalho, a gente precisa estabelecer condições de acesso a determinados serviços, ter um processo de melhoria da educação nesses municípios e precisa se discutir outras formas de trabalho que de fato respeitem a vida e a dignidade dessas mulheres e das pessoas que produzem na região”.

Edição: Monyse Ravena